Por Cícero Bandeira: Corrupção, uma questão pessoal ou de estado?

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Ao tratar da corrupção apenas numa perspectiva individual diminui-se a responsabilidade daqueles  que foram eleitos com a obrigação de gerir bem os recursos públicos.

Olhando para os governos brasileiros após a redemocratização todos tiveram escândalos de corrupção. Desde Collor, passando por Itamar, FHC, Lula e Dilma vimos, em todos, fatos que merecem total reprovação da sociedade. Se observarmos os estados e municípios e fizermos um retrospecto também detectaremos tal mazela.

Alçado ao poder com a promessa de mudança de postura e de uma revolução ética, o Partido dos Trabalhadores (PT) colocou sobre seus ombros uma responsabilidade que se transformou num fardo difícil de carregar. Ao contrário de outrora a bandeira da ética se transformou num peso indesejado.

Lamentável que o PT tenha abandonado a mensagem do Pequeno Príncipe, que afirma: “tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas” e adotado o discurso do Príncipe, de Maquiavel, de que “os fins justificam os meios”, mas…

Até aqui não falei de nenhuma novidade. Todos somos sabedores destes fatos. Embora alguns contestem e tentem criar a falsa ideia de conspiração já não dá mais para esconder o óbvio. O que desejo enfatizar aqui são as diferenças entre a dimensão individual da corrupção e sua dimensão como prática de governo.

Somos sabedores que no nosso cotidiano existem ações de corrupção: cortar a fila do banco, utilizar da função para obter benefícios, dar propina ao guarda para não ser multado, dentre outras.

Sim, há uma dimensão individual na corrupção, que também deve ser motivo de reprovação e repúdio da sociedade, mas é necessário separar a corrupção institucionalizada enquanto ação que toma conta do Estado com o objetivo de desviar recursos financeiros que teriam como finalidade servir à população, daquelas ações que cada um toma no seu dia-a-dia.

Embora ambas sejam danosas e reprováveis, não são a mesma coisa. Mesmo assim, algumas pessoas tentam explorar, sobretudo nas redes sociais, a ideia que as duas se confundem e de uma a outra se origina.

Ao tratar da corrupção apenas numa perspectiva individual diminui-se a responsabilidade daqueles  que foram eleitos com a obrigação de gerir bem os recursos públicos.

Cabe ao Estado Brasileiro e aos entes federativos a responsabilidade de combater essa prática com ações sistemáticas, implacáveis para inibir seu surgimento e punir com rigor todos aqueles que cometem atos dessa natureza de forma que eu, você ou qualquer outro que tenha uma atitude inadequada possa ser alvo de uma ação corretiva ou punitiva.

Assim como é tarefa do Estado desenvolver ações voltadas para Educação, Saúde e Segurança é também atribuição sua utilizar-se dos seus mecanismos constitucionais para o combate à corrupção, independente de governos, que são passageiros.

Olhar para esta mazela apenas numa dimensão individual é cair no equívoco de diminuir a sua importância, de naturalizar a sua existência, de colocar sobre as principais vítimas a responsabilidade daqueles que se desviaram do papel de conduzir bem a gestão pública e/ou privada. É utilizar o sombrio sentimento de culpa como uma forma de esfriar a indignação diante da corrupção que retira de todos nós a possibilidade de ter acesso aquilo que é nosso, por direito.

Não nos esqueçamos de exigir dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, o seu combate. Esta sim é uma tarefa individual, mas também coletiva.

#NaMinhaOpinião.

Cícero Bandeira L. Filho
Professor da Rede Municipal de Ensino de Quixadá

Graduado em Ciências da Natureza (UECE)
Mestre em Educação Brasileira (UFC)
Facebook: cicero.l.filho@facebook.com

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