Maestra de Banabuiú passa em mestrado em São Paulo e projeta carreira universitária: ‘música mudou minha vida’

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Daila Almeida: única maestra com formação em música entre bandas municipais do Ceará

Região central: Em quase todo lugar tem uma música tocando, por isso o som dos instrumentos pode parecer simplório demais para prender sua atenção. Mas foi graças a música que Daíla Almeida transformou sua história de vida humilde e sofredora. Tocando e ensinando outras pessoas a tocar ela alterou a rota de sua vida e atualmente deixou o sertão de Banabuiú após passar numa criteriosa seleção de mestrado em São Paulo, com o sonho de ser professora de música.

Com apenas 35 anos, Daíla Almeida sustenta um título de honra: ela faz parte de um seleto grupo de três únicas mulheres a regerem bandas de música municipais, e é a única de todas as cidades cearenses com banda, que possui formação na área. Licenciada em Música pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), Daíla saiu do Sertão Central e embarcou no seu mais novo desafio.

“Passei na seleção de mestrado em Música da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), com orientação da Dra. Marisa Trench de Oliveira Fonterrada”, conta. Desde o início deste ano ela integra o grupo de pesquisa em Educação Musical da Unesp, o Coral Azul da Universidade de São Paulo (USP) e participa de dois projetos de extensão.

História e superação

Apesar de ter nascido em Pacajús foi em Banabuiú onde Daíla se destacou. Ela fez parte da primeira formação da banda municipal e venceu o concurso que a escolheu como autora do hino da cidade. Era lá que ela trabalhava até pouco tempo, quando largou tudo e embarcou para São Paulo onde faz o mestrado.

Quem vê Daíla segurando a batuta ao reger a Banda ou dedilhando o seu clarinete, nem imagina o percurso que ela já passou. “Eu venho de uma família desestruturada e a música foi quem salvou completamente a minha vida”, conta.

Daíla regendo a banda de música de Banabuiú (Foto: ascom PMB)

Aos 15 anos Daíla viu os pais se separarem. Anos mais tarde, depois de ser mãe, alega ter sido vítima de violência psicológica. Ele acredita qu foi graças a música que passou imune por todos estes momentos.

“Eu tinha a música para aprender, então hoje eu percebo que muitas coisas eu não senti porque estava focada. Me favoreceu no sentido de que eu não senti tanto a separação de meus pais, e na epoca da violencia psicológica e foi a música que mais uma vez me resgatou, foi graças a ela que eu consegui sair dessa situação”, afirma emocionada.

Futuro

Com o mestrado, Daíla projeta ser professora universitária e deseja passar aos seus futuros alunos o mesmo encantamento e a mesma posibilidade de salvação que os sons lhe ajudaram a superar. “É uma maneira de possibilitar com que outras crianças também tenham esse acesso a música, de que outros adolescentes tenham essa mesma oportunidade que eu tive, e ser beneficiado pela música tanto no aspecto afetivo, como social e familiar”.

Daíla Almeida tem no currículo registro de momentos importantes. “Fiz parte da Orquestra de Sopros da Universidade Estadual do Ceará (Uece), fiz parte da Orquestra Escola do Ceará e da Orquestra Sinfônica da UFC, também atuei como Maestrina da Banda de Música do Município de General Sampaio”, detalha.

Aliando a experiência de sua carreira com o conhecimento que vai adquirir no mestrado, Daíla planeja ser mediadora da transformação para outros que, assim como ela, focam no som dos instrumentos e não no lado ruim da vida. Desta forma ela mostra que caminhando e cantando, é possível ver amanhã ser outro dia, tal como escrevera Geraldo Vandré e Chico Buarque de Holanda.