Pio é servidor público de Quixadá, radialista profissional, formado em publicidade e marketing e futuro universitário de jornalista.
Quando o Quixadá Futebol Clube foi embora para jogar em outras praças, ficando bom tempo em Fortaleza, a saudade invadia o coração de Nilton Ferreira, o popularíssimo radialista Pio. Foi para bem longe, a maior paixão de sua vida, sem dúvida. Lembrava sua grande alegria que era trabalhar e torcer pelo time da Terra dos monólitos. Eram muitas as lembranças! Saudade daquelas camisas, verde, amarela e azul. Saudade dos gols de Cícero Ramalho, das espetaculares defesas de Zé Antônio, das jogadas clássicas de Helano, da velocidade de Manuelzinho, dos dribles desconcertantes de Paulo César, do convívio com o presidente Will Holanda e com os outros dirigentes, do papo amigo com Freitinhas e da amizade com todos os atletas e torcedores.
Não foram poucas às vezes em que Pio foi visto chorando como uma criança que não ganhou seu presente de natal. Conviveu por muitos anos com a incerteza da volta do time canarinho para sua cidade. Tanto tempo longe de sua paixão não apagou este amor e, sempre que podia, acompanhava os jogos do canarinho pela televisão, mas isso não bastava. Queria ver seu “canarinho”, bem pertinho, jogando no seu estádio e ovacionado pela sua vibrante torcida.
Alguns amigos mais próximos de Nilton Ferreira, certa vez, ouviram de seus lábios que “A vida sem meu canarinho não presta!”. Por isso a volta do time para a terra dos monólitos foi uma festa para ele. Sem nenhum exagero, até a sua saúde melhorou bastante, segundo depoimentos da própria família. Trocou as lágrimas por sorrisos e, não demorou muito, foi reintegrado a equipe.
Ele é o cara que mais tempo dedicou ao time do Sertão Central e já foi quase tudo na equipe: Roupeiro, massagista, treinador, secretário, algumas vezes, até presidente. E se duvidarem, dizem que até fazia papel de rezador para o time sempre sair vencedor. Tanto amor assim, talvez nem ele mesmo consiga explicar. Mas, algumas situações podem nos dar uma pista para tanta dedicação a um time de futebol. Sabe-se que ele participou da primeira reunião que aconteceu para a criação do Quixadá F.C. sendo, portanto, um de seus fundadores.
Ficava com os amigos Zé Abílio e seu irmão Lima, discutindo futebol, nas praças da cidade, até às 22 horas, exatamente quando o motor da luz encerrava suas atividades e a cidade adormecia sob a proteção dos padroeiros Jesus Maria José. No dia seguinte, o papo futebolístico continuava no comércio de Zé Abílio que, um determinado dia, sentenciou: “Vamos fundar um time profissional”, ideia logo abraçada por todos que gostavam de futebol.
Inicialmente, foi marcada uma reunião da qual participaram Dr. Belizário, Clóvis Sampaio, Osmar Nobre (gerente do Banco do Brasil, na época), Zé Abílio e Pio. Era uma bela noite do ano de 1964 e, sob as bênçãos do Cruzeiro, surgia o embrião do futuro canarinho do sertão. Outros colaboradores foram: Martelo, Cem, Manuel Bananeira, Freitinhas, Juquinha, Saldanha,além de outros desportistas. O grupo decidiu ir falar com José Okka Baquit que, sem colocar nenhum obstáculo, abraçou a causa e, depois de algum tempo, foi fundado o Quixadá Futebol Clube em 27 de outubro de 1965. Não se pode esquecer a dedicação do Senhor Ernandes Sátiro que chegou a presidência do caçula do futebol cearense. Felizes da vida, Pio e Zé Abílio, cedinho da manhã, pegaram o único ônibus, na agência do Zezinho, que fazia a linha até Fortaleza e, com a documentação toda prontinha, fizeram a entrega ao general Aldenor Maia, naquele momento, o dirigente maior de nosso futebol.
O Quixadá Futebol Clube já era uma realidade. Alguns nomes que brilharam naquelas primeiras formações do canarinho: Mafia, Catolé, Ribamar, Wagalume, Valdir, Célio, Oberdan, Pinto, Val, Edmilson, Tico, Zé Preguinho, dentre outros. Estes heróis levaram o canarinho para a primeira divisão do campeonato cearense no ano de 1967, eliminando o Tiradentes.
O seu amor pelo esporte das multidões vem desde os tempos de criança e adolescente. Como todo menino, queria ser jogador de futebol, mas logo percebeu que jamais iria acontecer, pois, segundo reconheceu logo, não ter talento suficiente para tal. O garoto estudava na parte da manhã e no período da tarde, ajudava seu pai, Joaquim Ferreira da Silva, o conhecido Besouro(trabalhava como porteiro no Colégio Estadual) no roçado que se localizava no , hoje, bairro Carrascal. Apesar dos apelos da mãe Benedita para que se dedicasse aos estudos, do esforço do pai em pagar as prestações do “Colégio do Padre”, o menino só pensava naquilo (o futebol). Chegou até a furar o pneu do jeep de propriedade do temido Padre Clineu o que motivou seu pai a lhe aplicar uma surra caprichada e colocá-lo, desta vez, no grupo Adolfo Siqueira.
Lembra que só arranjava vaga nos times porque era sempre o dono da bola. Ri muito ao lembrar que marcava muitos gols contra. Mesmo assim, jogou algum tempo no Santa Cruz, time que representava o velho bairro da matança(hoje, Planalto Universitário). Esta equipe foi idealizada pelo Vavau e o Chiquinho (promovia reisado, naqueles anos) e os treino aconteciam num campinho, onde, hoje, se localiza o Colégio Municipal. Alguns dos principais jogadores eram o Cacete, Arlindo, Bastos, Tutu, Zé Bodega, Patuá, Gia, dentre outros. O grande adversário do Santa Cruz era o Guarani do Zé Carlos Alves(baixinho) e nos dias dos confrontos dizem que “O pau cantava”, mas depois dos jogos, todos conviviam harmoniosamente.
O Santa Cruz também se apresentava nos distritos e, certa vez, jogando no Riacho Verde, houve muita confusão e em determinado momento, o Leandro Bal falou assim: Vamos embora, vamos deixar esses “pés de guerra” aí, vamos embora!”. Assim, surgiu esses apelidos dos queridos amigos desta tradicional família. Quando o saudoso Deusimar Mendes se tornou presidente do Quixadá F.C, brincava muito com o Pio sobre este folclórico episódio.
Nilton Ferreira tem outra grande paixão na vida que é a sua família. É casado com a doce Eronice, um verdadeiro anjo da guarda em sua vida e é pai amoroso de Mário, Magno e Madson, pérolas preciosas para o conhecido amante do canarinho do sertão. Conheceu Eronice quando treinava a equipe do “Espinheiros”, pertinho de Cipó dos Anjos que disputava o torneio entre equipes da cidade e do sertão. Foi amor à primeira vista e parecia mesmo que estava até escrito nas estrelas esta bendita união.
Francisco Ferreira, já faz alguns anos, atua como comentarista esportivo nas emissoras locais e obteve o reconhecimento dos ouvintes pela seriedade que impõe em suas opiniões. Pretende, ainda, e por muito tempo, servir ao canarinho do sertão. Afinal de contas, este clube de futebol faz parte de sua vida, é o seu grande amor, seja em dias de glórias ou nos momentos de dificuldades.
Como alguém já falou por aí, ele teria um desgosto profundo se faltasse o Quixadá F.C neste mundo. É, não há mesmo como duvidar que o seu amor por este time é , realmente, sem limites.
Nota: Francisco Ferreira da Silva-Pio, nasceu em 14 de janeiro de 1946, é servidor público de Quixadá, radialista profissional, formado em publicidade e marketing e recentemente foi aprovado no vestibular da Unicatólica para o curso de jornalista. Ele há anos venceu um câncer na boca.
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Amadeu Filho
Colaborador da RC
Radialista Profissional
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