Coluna Amadeu Filho: a saudade que ficou de “Necy” – o amigo que guardamos dentro do coração

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NaciCatólico, não perdia uma Missa, participava do terço dos homens e, sempre acompanhava de um mesmo banco.

Desde criança, escuto alguém falar, frases como estas: “O homem só vale o que tem! Vale o que tem no bolso!”. Na realidade, no nosso mundo atual, funciona, mais ou menos, assim. O “ter” é mais importante do que o “ser“. Quem tem dinheiro, poder, é mais valorizado, não importando, se é uma pessoa de caráter, de boas atitudes, honesta.

Necy1Tendo grana e fama, é admirado, por quase todos. Se, é uma verdade absoluta, então, como explicar, o fato de existirem pessoas, bem simples, humildes, mas que conseguem ser admiradas, queridas e respeitadas? Como essas pessoas conseguem enfrentar esse sistema social, excludente, injusto e Necy12serem reconhecidas? Dentre vários exemplos, merece destaque especial um ser humano ao nos mostrar que, bondade, honestidade, caráter, é o que deve balizar a vida do homem.

José Vituriano da Silva, carinhosamente chamado pelos amigos de “Necy“, foi um quixadaense que nos fez ver, ser possível uma pessoa se sentir feliz, mesmo sem desfrutar de bens materiais. Aprendeu, ainda criança, com seus pais Viturino e Dona Carminda, a lutar pela vida, baseado no trabalho honesto.

Exercendo a profissão de garçom, profissão ainda desprestigiada em nosso país, Necy conquistou muitos amigos, não importando a classe social. Quem pode esquecer o querido Necy do “Belas Artes”? Foram 20 anos, atuando como garçom, nesta tradicional churrascaria da Terra dos Monólitos. Décadas de 70 e 80, do século passado.

Os clientes, os colegas de trabalho e os patrões Evanildo e Baísa, sempre tiveram um carinho muito grande, para com aquele jovem, dedicado e amigo. Necy levava, tão a sério, a sua profissão que, quando algum cliente não encontrava sua bebida preferida, ele vinha até a cidade e comprava do seu próprio bolso. Depois de todos esses anos no “Belas Artes”, começou a trabalhar, por conta própria, levando a experiência para outros embates, no trabalho, que tanto gostava. Montou uma churrascaria no “Putiú”, formando uma equipe unida, constituída de familiares e amigos: Gonzaga, Maria do Cabeção(assim conhecida), Francisca, Reginaldo e claro, a sua querida esposa, companheira de todas as horas, a simpática Graça.

Pouco tempo depois, foram para o centro da cidade, começando na Plácido Castelo, mas, foi na rua José Maria Rocha, no calçadão, que Necy conheceu, digamos, a “embriaguez” do sucesso. Não demorou muito e sua churrascaria passou a ser uma das mais frequentadas da cidade e também, pelos que visitavam a bela Quixadá. Dentre os amigos mais próximos, podemos citar: Dr. Antônio Magalhães, Dr. Laércio, Dr. Sebastião, Renato Carneiro, Agenor Magalhães, Dr. César Oliveira, Dr. Agripino, Dr. Helder, Jonas Sousa, Franzé, Tomé, Sinval Carlos, Mailson, Mailton, Lucivaldo, dentre muitos outros.

Necy casou-se em 1971, com a simpática jovem Graça e, desta união, nasceram os filhos Nazareno, Regina Cláudia, Robério, Jorgiana e Paula. Esta linda história de amor começou, lá pelos meados dos anos 60, quando os dois se conheceram na praça Coronel Nanan. Sentados no coreto, noites lindas do Quixadá antigo, suspiros ao luar, promessas de amor eterno.

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Felizes, como num sonho, os jovens enamorados até pensavam que a banda do maestro Benício tocava só para eles. Necy era apaixonado por futebol e era só terminar o expediente, corria para as “peladas’ com os amigos. Se sentia um verdadeiro Vavá, o craque artilheiro da seleção brasileira das copas de 1958 e 1962. O seu grande amigo Franzé, chegava para a dona Graça e dizia: “O Necy tá dando show de bola, fazendo muitos gols”, Mas, ela ouvia aquilo tudo e demonstrava grande preocupação. É que o nosso amigo, durante a madrugada, começava a gemer de dor, estava doente, mesmo sem quase nunca demonstrar. Certamente, não queria preocupar a família e os amigos. Mas um dia, Necy sentiu fortes dores e Graça pediu socorro ao seu vizinho e velho conhecido, Lairton, que, prontamente, adotou as primeiras providências. Roberto Hamilton conduziu Necy até o hospital local, mas, de uma forma imediata, foi encaminhado a Fortaleza.

A cidade ficou triste, as pessoas ficaram preocupadas, nesses momentos, Deus torna todos iguais e muitas orações aconteciam, pela recuperação do querido amigo. Mas, no dia 8 de outubro de 2006, o coração deste ser humano maravilhoso, deixava de bater. A notícia entristeceu os incontáveis amigos e os frequentadores da sua churrascaria. Católico, não perdia uma Missa, participava do terço dos homens e, sempre acompanhava de um mesmo banco, na lateral da igreja.

A dona Graça, em homenagem ao seu querido companheiro, assiste às missas, no mesmo local, até os dias de hoje. Necy será sempre uma doce lembrança. Contando, só um pouco, da bela história deste ser humano incrível, tenho que concordar com Patativa do Assaré, ao se manifesta desta maneira: “não há dor maior que a saudade!”

Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer melhor a história de Quixadá.

Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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