Coluna Amadeu Filho: Artur Jorge foi uma “Capacidade” de transmitir alegria aos quixadaenses

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capacidade“Capacidade” mostrava o lado alegre quando alguém, perguntava se estava doente, respondia tranquilamente: “Estou com a pomposa”.

Segundo o poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare a alegria evita mil males e prolonga a vida. A alegria certamente faz renascer vida em muita gente. Deus colocou em nosso convívio pessoas que conseguem nos mostrar que apesar de tudo, há beleza em nosso mundo e que um sorriso sincero e palavras dosadas de alegria e otimismo fazem toda a diferença.

No alegre Quixadá do tempo dos pernoites do trem, dos abençoados banhos no rio Sitiá, nos passeios na então tranquila Pedra do Cruzeiro e ao açude do Cedro, uma doce  figura se destacava pela forma como encarava a vida, pela alegria que distribuía a todos no dia-a-dia, sempre em alto astral e compartilhando, dividindo com outras pessoas essa explosão de felicidade. Artur Jorge, conhecido por todos pelo apelido de “Capacidade”, soldador como profissão, foi uma das pessoas mais conhecidas e queridas na alegre Terra dos Monólitos de um passado não tão distante. Para cada situação que apresentava, havia sempre uma visão otimista, carregada de humor. Com certeza o “Capacidade” com suas tiradas alegres, tornou a estrada da vida de muita gente bem mais agradável.

Depois do trabalho, Artur e seus amigos costumavam visitar as bodegas para abastecer corpo e espírito com uma velha cachacinha. Certa vez, chegando no comércio do senhor Aloísio (o chefe), pediu a bebida desta maneira: “Chefe, bote sem compaixão que eu pago sem piedade”. Ao final da bebedeira, tranquilo, assim se despedia: “Chefe, pendure no lugar mais alto do seu comércio”. Algumas vezes, colocava uma corneta nas pernas e saía fazendo aquele barulho. Até que um dia, perto do Quartel, um soldado ameaçou prendê-lo. Artur soltou: “você não pode me prender, pois sou muito mais que senhor! O senhor é só soldado e eu sou soldador”.

Gostava de comprar cabeça de porco aos magarefes Laranjeiras, Acrísio, Manoel Franco e pedia assim: “eu quero uma radiadora”. E propositalmente, jogava nas calçadas e ficava chamando, como se ainda houvesse vida naquela cabeça de porco. Os quixadaenses mais velhos, ainda lembram o dia em que Artur e seu inseparável amigo Ribamar, participaram de um leilão da igreja. Mesmo sem um tostão no bolso, eles sempre davam os lances mais altos.

Numa noite, competiam com o senhor Zé Baquit, então prefeito do lugar. Quando o educado Zé Baquit dava um lance, eles combinavam entre si: “Não vamos dar trégua a este cidadão”. No final, os dois animados amigos, venceram o leilão e muitas galinhas, bolos, vieram para suas mesas. Sem nada de dinheiro no bolso, Artur teve a ideia de convidar Zé Baquit para suas mesas que educadamente aceitou e assim, não pagaram nada.

Um dia, uma senhora pediu que ele consertasse uma panela, mas achou muito caro o conserto e propôs a ele: “Se eu dê o fundo, o senhor diminui o valor?”, Artur de bate-pronto, respondeu: “Assim, faço até de graça”. Na verdade, a mulher falava do fundo da panela. Terminada a brincadeira e se dirigindo para casa, dizia aos companheiros que ia namorar e guerrear a noite toda com o amor de sua vida, a sua doce senhora.

É necessário afirmar que Artur Jorge, apesar do jeito brincalhão, era uma pessoa honesta, trabalhadora e sempre solidária. Tinha verdadeira paixão pela família e pelos amigos que gostavam muito dele. Na verdade, ele queria mostrar que o simples fato de se estar vivo, já é motivo de alegria. Sabia que a vida não era uma festa mas já que estava nela, vivia comemorando e compartilhando essa explosão de alegria com todos. Como disse sua neta Lúcia à reportagem: “Meu avô só queria ver as pessoas felizes”.

“Capacidade” mostrava o lado alegre quando alguém, perguntava se estava doente, respondia tranquilamente: “Estou com a pomposa”. Na última vez que estive com Artur Jorge, por sinal, muito amigo do meu pai, o Amadeu do Velho mercado público, perguntei se o trabalho não o cansava e ele sabiamente respondeu que só tinha tempo para ser feliz. Sai dali gostando mais dele e assim acontecia com todos que o procuravam.  “Capacidade” nos deixou no começo dos anos 90, com certeza, a festa continua no céu.

Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer mais sobre a história de Quixadá.

Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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