Porque flagrante de pessoas em momentos íntimos, como o caso de Quixadá, desperta tanta curiosidade?

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Casal foi flagrado em vídeo fazendo sexo em público em Quixadá; Porque cenas assim chamam atenção?

Quixadá: Quixadá até hoje ainda repercute o caso do vídeo onde um casal aparece fazendo sexo em público, durante uma festa que acontecia em um posto de combustível. Passado a polêmica do caso em si, cabe perguntar: afinal, porque ver o outro em situações de intimidade, desperta tanta curiosidade?

O vídeo em questão foi divulgado em larga escala pela imprensa local e até mesmo estadual. O casal era formado por um rapaz de 39 anos e uma mulher de 37. Eles bebiam em um posto de combustível durante a madrugada e em determinado momento, teriam ido para trás do carro onde fazem movimentos que denotam a cópula. O rapaz aparece jogando a camisa e puxando a moça pelos cabelos, o que reforça a tese de que fizeram o sexo em público.

Caso foi parar na Polícia

Envolvidos foram parar na Delegacia para prestar depoimento (Foto: Divulgação)

A repercussão do caso levou os dois até a Delegacia de Polícia de Quixadá, que abriu um Termo Circunstancial de Ocorrência (TCO) para apurar o vexame. Os dois foram ouvidos na última semana pelo delegado William Lopes. A mulher teria chorado bastante durante o depoimento e demonstrado arrependimento. O homem já responde por Lei Maria da Penha.

Apesar da polêmica os dois não foram enquadrados em crime de maior potencial ofensivo, explica William. “Na situação lá o que houve foi o ato obsceno. É uma ofensa ao pudor público. Se houvesse no local menor de 14 anos, aí estaríamos em um crime mais grave, a satisfação de lascívia mediante presença de criança e adolescente”. A investigação do TCO descobriu que não havia crianças nem adolescente no momento do vídeo.

O Termo foi enviado ao Ministério Público na última semana, que deve fazer considerações sobre o caso. No entanto o delegado acredita que como se trata de crime de menor potencial, os dois sejam enquadrados em penas mais brandas, como serviço comunitário.

Geração de bisbilhoteiros

Apesar de anormal, não fosse o flagra feito pelo celular, o caso teria passado despercebido. Hoje, com um celular na mão, as pessoas viraram caçadoras de flagrantes e entre os mais cobiçados estão os flagras íntimos. Mas porque isso desperta tanto a curiosidade no outro?

A explicação pode estar na psicologia. O prazer em bisbilhotar o outro recebe o nome de voyeurismo, um ato fetichista que consiste em observar outras pessoas seja em contextos não sexualizados – como durante o banho ou quando se está se vestindo ou se despindo – ou em contexto libidinoso – como quando se está fazendo sexo ou se masturbando.

Em 2019, cena de sexo entre casal na calçada da igreja de Crateús chamou atenção dos cearenses (Foto: reprodução)

Os impulsos de voyeurismo costumam causar sofrimento ou prejuízo em determinadas áreas ou ocupações do indivíduo, durante no mínimo seis meses. Em casos mais graves, a pessoa voyuer é enquadrada como portadora de parafilia, um termo para designar os que possuem variações do comportamento sexual que fogem ao padrão estabelecido pela sociedade. A parafilia é considerada como um transtorno, reconhecido e tabelado no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, DSM-5.

Flagrantes de cenas de sexo são o que possuem potencial mais forte na característica do voyeurismo, mas o hábito pode ser reforçado por outras tendências, como o que vem sendo reforçada há cerca de 20 anos pelos realtys show, onde pessoas são colocadas em casas com câmeras ligadas 24 por dia, podendo ser observadas pelo telespectador.

Observar o outro é considerado pela psicologia natural e um ato normal, até certo ponto. Mas passa a ser reconhecido como um problema quando isso passa dos limites e se torna um hábito exagerado e sem controle. E a tecnologia, que permite flagrantes e o compartilhamento deles, pode ser um reforço deste hábito interessante e perigoso ao mesmo tempo.