Região Central: o dia 20 de janeiro dificilmente será esquecido para os moradores do Sertão Central. Há exatos 20 anos ocorria a colisão entre duas topiques no trecho que liga Quixadá a Banabuiú, matando 21 pessoas. O sinistro entraria para a trágica lista de um dos piores acidentes de trânsito do Ceará e o maior da região.
É difícil não lembrar a data porque até hoje, a prática de transportar passageiros por topiques de um município a outro, ainda permanece fazendo com que alguns tenham flashes na memória quando entram em uma topique, e só então lembrem das questões de segurança: essa veículo é seguro? O carro está superlotado? o motorista está em condições de dirigir? Perguntas que foram ignoradas na época.
Outro fator que torna praticamente impossível deixar a data passar batida, é a forma trágica com a qual o acidente ocorreu. As duas topiques colidiram frontalmente e o choque, inevitavelmente, matou quase todos os passageiros da pior forma possível: os corpos ficaram mutilados e pedaços ficaram espalhados na pista.
Entre os mortos havia mulheres, idosos, jovens trabalhadores e crianças. Um a um, a medida em que eram retirados das ferragens, era que a magnitude da tragédia se revelava. Enfileirados na pista para reconhecimento dos familiares, mais tarde, os mortos seriam velados no ginásio coberto de Banabuiú, cidade de origem da maioria das vítimas, tornando aquela noite também um dia agonizante na memória, pela cena comovente: 18 caixões dentro da quadra, rodeado de gente chorando e de desespero dos familiares e amigos.
Mas, e como foi?
Dizer, ao certo, como o acidente ocorreu, é uma tarefa difícil até hoje por vários motivos. O principal deles é que os dois motoristas morreram, assim como a maioria dos passageiros. Ou seja, não há testemunhas. Os que sobreviveram alegam não recordar como o acidente ocorreu. No ano de 2003 o trabalho de perícia dos acidentes ainda tinha pouca tecnologia. Se hoje seria possível dizer o que ocorreu naquele trecho mesmo que não houvesse testemunhas, naquele tempo isso era uma missão quase impossível.
Restaram de evidências os depoimentos de pessoas ouvidas pela Polícia. Na época as principais versões relata pelos jornais era que o motorista de uma das topiques trafegava sozinho e teria invadido a contramão. A suspeita é que o homem estivesse bebendo em um bar antes de pegar a estrada.
A imprensa da época apurou que o veículo que tinha capacidade para transportar 14 pessoas, trazia 29, quase o dobro acima do permitido. Naquele período, era comum as críticas de pessoas que usavam o transporte e que constantemente reclamavam do excesso de passageiros e a ausência de fiscalização.
Rotina alterada
A notícia chegou na cidade com o barulho da sirenes que traziam os corpos para os hospitais. Não havia a disseminação da internet e as informações oficiais só chegavam via rádio, pela TV ou pelos jornais no dia seguinte. Cerca de 40 minutos depois, o programa policial Barra Pesada deu a notícia e o fato foi confirmado.
Quem usa esse meio de transporte, dificilmente vai esquecer deste dia tão pavoroso. Na memória dos banabuienses e quixadaenses, o dia 20 de janeiro é uma marca que representa uma dor que a cidade nunca vai esquecer.