Quixadá: A intérprete de libras quixadaense, Denise Beserra Dutra, de 30 anos, resolveu homenagear o pai de uma forma emocionante: ela pediu para um especialista em fotografia que inserisse a imagem do pai já falecido ao seu lado, em uma das fotos de seu álbum de formatura, já que o sonho dele era vê-la com diploma. A imagem foi mostrada por Denise na última semana em dias redes sociais e rodou o município de Quixadá.
O Revista Central conversou com a profissional de Letras, formada pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), e que tem especialidade em Libras, a linguagem de sinais para deficientes auditivos. A razão que justifica a homenagem é envolvida num relato que mistura dor e saudade.
Antônio Denilson Alves Dutra trabalhava como mototaxista. Morador do Campo Velho, seu maior sonho, de acordo com Denise, era ver os dois filhos formados. Além de Denise, Antônio era pai de Wesley Beserra. “Meu pai e minha mãe sempre fizeram de tudo para que eu tivesse um estudo. Nunca cheguei a passar fome mas meus pais, sim. Então ele sempre dizia que o que ele poderia deixar pra gente era o estudo”.
A vida difícil do mototaxista desde a infância se transformaria no seu principal incentivo para os filhos. “Meu pai sempre incentivou a estudar, ele dizia: estude pra você ser alguém na vida, ter uma profissão e não viver no aperreio”, comenta Denise Dultra.
A formação na UECE deveria ocorrer em 2020 mas por conta da pandemia as turmas daquele ano se formaram em um regime especial, com a solenidade online. Denise tinha o sonho de ver seu pai entrando com ela na festa para receber das mãos dele o diploma, e por isso pediu a Universidade para se formar somente no ano seguinte. “Na época (em 2020) ele até falou: ‘minha filha você não vai se formar agora?’ Eu disse que não, só vou quando for presencial pra o senhor entrar junto comigo, nosso sonho vai ser realizado”.
Mas uma dor no coração de Antônio Denilson atrapalhou os planos da intérprete de libras. “Tinha ido na casa do meu pai a tarde, e quando cheguei em casa meu telefone tocou. Eu fui atender e a ligação tinha caído, era minha mãe. Quando eu retornei, ela pediu pra eu voltar lá às pressas. Um vizinho levou ele para o hospital e uma hora depois de receber o atendimento o médico deu a notícia pra gente”. Foi uma fatalidade: o homem forte que suportou a fome e que ergueu a dignidade de sua família sobre o difícil trabalho de mototaxista, não resistiu. Antônio tinha infartado.
Para não deixar a maior vontade de seu pai ficar esquecida pelo tempo, Denise resolveu pedir ajuda ao fotógrafo Cleyton de Paula. Especialista na cobertura de eventos e formaturas, Cleyton é um dos mais experientes quixadaenses no trabalho com edição de imagens.
A homenagem com a figura do pai, retirada de outra imagem com o auxílio de um programa de computador, e colocada do lado de Denise como se ele estivesse ali, no dia em que a foto foi feita, enche a educadora de emoção até hoje. “Não achava justo que meu álbum não tivesse as fotos dele”. O resultado enche de lágrimas quem conhece a história e encontra Denise e Denilson lado a lado, eternizados para além das fatalidades do tempo.
“Uma das coisas que me fez ficar apaixonado pelo gênero de formatura, são as histórias que a gente encontra. Cada aluno tem um universo de histórias e conquistas. Na época das fotos na cadeira, com beca, o pai dela não pode participar e ficou aquela ausência. E alguns meses depois, o pai veio a falecer, foi uma tragédia familiar”, relata Cleyton de Paula.
O fotógrafo havia perdido o pai recentemente e se comoveu com a história de Denise Beserra. “Quando ela veio me passar a lista para produzir o material dela, ela me perguntou se eu poderia montar e eu topei o desafio. Passei um tempo fazendo o tratamento da imagem e o resultado foi esse daí, que acabou emocionando muito”, disse o profissional.