Opiniao do Leitor: São 16h30min, de ontem, e mais uma vez essa cena. Diariamente, menores e maiores se revezam, numa luta por espaço e pelas esmolas. Esse é realmente o nome que se deve dar, ao que lhes é oferecido: ESMOLA.
Quem pede, transforma-se: a voz muda de tom, a mão esticada, os olhos quase que amiudados pela lágrima, a educação nas palavras… Quem dá, tira rapidamente de si o fardo de ver tal situação; pensa estar ajudando, tira o corpo fora do problema e por uns instantes, com aquela ESMOLA, naquele ou em outro momento, chega a acreditar que fez uma boa ação. Quem sabe, mais tarde, no conforto do lar, pensa que ” vou pro céu, por uma moeda”. Como é fácil resolver os problemas coletivos!
Voltemos a moeda.
Nesse local, nessa calçada ensolarada, muitos ricos, menos ricos, autoridades, pessoas que deveriam resolver esse problema, passam, dão a moeda ou um pão e pronto! Problema, momentaneamente resolvido.
Por vezes chego a contar 5, 6 ou mais crianças. Menores entregues a qualquer sorte. Eu mesmo já chamei o Conselho Tutelar. Mas uma das coisas interessantes é ver as crianças “pastorando” o “povo do conselho”.
Enquanto isso, na batcaverna, a discussão “política” come solta. O fulano isso, o sicrano aquilo; a cidade isso, o país aquilo. Uns prometem o que nunca cumpriram; outros cumprem o que nunca prometeram! Há bandeiras demais para tantos problemas!
Todos nós querendo resolver os grandes problemas da humanidade, mas vivemos de olhos vendados aos reais problemas: os mais pobres estão cada vez mais ignorantes e sendo cada vez mais ignorados.
Digo sem problema algum: não gosto de povo, da mesma forma que não gosto de gente. Sinceramente suporto e apenas isso, suporto as pessoas. Nós, as ditas pessoas, somos o que há de pior na natureza. O ser humano é o destruidor da humanidade. Nós nos sentimos bem em ignorar a pobreza ou ao nos acostumar com ela.
Ver todo dia, a mesma cena, no mesmo lugar e não se perguntar o porquê daquilo, denota o quão não estamos preocupados em resolver nada.
Essa pessoa na foto, grávida, com mais outros tantos filhos, não deve ter mais que 25 anos. Nunca chegará a saber o que é viver; vive de sobreviver, ignora a vida, pois não conhece outra coisa que não seja isso aí.
Não sabe o que é sofrimento, pois ele é a vida que leva. Nunca verá a beleza do pôr do sol ou a abstração de um longo suspiro de amor; é, para nós, aquele bicho no meio fio, que jogamos o osso roído, e já dizemos “xô!”.
Sinceramente, por mais que eu seja mais um ignorante nesse mundo, esse tipo de imagem me deixa indignado com a nossa condescendência.
Há muita coisa a se consertar nessa cidade, nesse país e no mundo, mas nada mais urgente que a ignorância, com a qual tratamos esse problema chamado Humanidade; nesse caso, a falta dela.
Por Carlos Nogueira de Milão