Na década de 60 (século passado), a música brasileira foi sacudida por uma onda musical que mudaria o jeito de ser da juventude brasileira. A Jovem guarda não foi apenas um gênero musical, mas criou moda, incorporou neologismos ao vocabulário e atraiu a atenção da mídia e até das autoridades. Outros ritmos musicais foram perdendo espaço para a música de Elvis Presley, Beatles e Rolling Stones. O movimento musical dos jovens tornou-se muito popular graças ao programa homônimo que era transmitido pela TV Record e tomou conta do Brasil.
E, não foi diferente na Terra dos Monólitos apesar do pequeno número de televisores presentes nos lares naqueles anos. O rádio ajudava a construir os ídolos da juventude e nomes como Roberto Carlos, Jerry Adriane, Renato e Seus Blue Caps, Wanderley Cardoso, Wanderlea, Fevers e muitos outros já eram conhecidos e idolatrados pelos jovens quixadaenses. As revistas com matérias sobre os ídolos logo se esgotavam na tipografia do José da Páscoa, na banca do Luciano no Mercado ou em outros locais de venda. Os pedidos musicais eram feitos no programa “Cartões Postais” da Rádio Vale do Jaguaribe ou então, nas radiadoras dos parques de diversões ou mesmo no Serviço de Alto Falantes do Mestre Adolfo Lopes, Zé dos Santos ou Paroara.
Nas ruas, nos intervalos das aulas do Colégio Estadual, do “Colégio do Padre”, os adolescentes falavam da namoradinha de um amigo meu, do olhar de lado com a cara de malvado, da garota papo firme e aqueles de mais idade, eram vistos como “quadrados ou ultrapassados”. Era uma juventude ingênua, mas feliz e sadia. Como naqueles anos não existia ainda lojas de venda de discos, as famílias pediam ao bondoso “Zezinho da Agência” para que pedisse a algum passageiro conhecido que comprasse nas “Lojas Vox”, em Fortaleza, por exemplo, o disco “Jovem Guarda-Roberto Carlos”.
Enquanto os “baixinhos” quixadaenses brincavam nas praças de roda, pega-pega, passa anel, bolinhas de gude, os adolescentes dançavam coladinhos ao som de uma pequena radiola “Philips” comprada na “Zélia Modas”. Os rapazes adquiriam brilhantina nas mercearias do Zé Metero e Pedrosa, pois queriam um cabelo igual ao do Elvis Presley e os brotinhos começavam a abusar de calças compridas e a usar o laquê nos penteados que pudessem lembrar a figura de Wanderléa, símbolo de beleza feminina da época. Para desespero do Padre Luis, algumas meninas faziam uso da mini-saia, deixando pernas, à mostra. Os barbeiros Osório, Sebastião e outros reclamavam que os rapazes não queriam mais cortar o cabelo. Então, Quixadá abraçou para valer esta onda da juventude.
Neste cenário, foram surgindo os grupos musicais que, executando músicas jovens, enchiam os salões dos clubes locais de alegrias, de muitas emoções. Coube ao jovem José dos Santos Alves(o popular Zé Raimundo) a fundação de um dos mais talentosos grupos musicais de Quixadá que foi batizado de “Os Dragões” e em pouco tempo, virou atração nas tertúlias do Comercial, Balneário, “AABB” e clubes de todo o interior cearense e com apresentações na capital e até em outros estados, como aconteceu seguidas vezes no Maranhão, onde o grupo tinha público cativo. Os Dragões fizeram várias apresentações na TV Ceará, em especial no programa “Show do Mercantil” apresentado por Augusto Borges.
O grupo acompanhava calouros em programas que aconteciam nos clubes locais e com mais freqüência no comercial nos programas comandados pelo ‘Chacrinha quixadaense’, o carismático José Maria Libório. A fama do grupo se espalhou por todo o interior cearense e era bastante popular em Santa Quitéria, onde realizou diversas apresentações. O gerente da Brahma naquela cidade, Eduardo Tavares(Irmão do professor Wal), naqueles anos, sempre convidava o grupo para se apresentar no progressista município.
Todo aquele espírito musical e impulso dançante estavam presentes nas guitarras, contrabaixos e teclados magistralmente executado pelo jovem Zé Raimundo e por todo o grupo, naquele tempo uma cópia fiel da banda Renato e Seus Blue Caps. Músicos de reconhecidos talentos, alguns ainda em atividade nos dias de hoje, fizeram parte de “Os Dragões” como José Cera(baterista), José Enilton(guitarra), José Antônio(voz e guitarra), Tim Carlos(voz e contrabaixo), Gola(baixista), Holanda e Chinês(metais) e as doces vozes de Marcelo Oliveira, Tito Ferreira, Marcélio Amaro e Marcelo Oliveira, dentre outros componentes que foram se incorporando ao grupo.
O líder da banda recebeu do pai José Raimundo Alves os ensinamentos do toque de sanfona e em pouco tempo, se tornou instrumentista destacado nos sertões quixadaenses sendo requisitado para bailes sertanejos durante grande parte da juventude. A mãe, a bondosa senhora Maria de Lurdes queria ver o filho estudando para ser doutor. Sempre interessado em evoluir como sanfoneiro, Zé Raimundo ouvia discos de Abdias, Pedro Sertanejo, Noca, Pedro Raimundo e de muitos outros. Certo dia, ali por meados dos anos 60, ouviu pelo rádio um som quase celestial do tecladista Lafayette executando os principais êxitos do novo movimento musical jovem ficando encantado e se dedicando a partir de então, a estudar o novo instrumento. Com muito esforço, adquiriu um teclado e se ocupou no conhecimento deste e sempre recorrendo aos músicos mais experientes. Outras referências de Zé Raimundo foram Cleudir dos “Fevers”, Mauro Motta (dos Blue Caps) e Manito de “Os Incríveis”. Faz questão de ressaltar a grande amizade e parceria musical com o mestre Dudu Viana que lhe repassou muitas lições. Mas jamais esqueceu as dicas de seu querido pai e de Chico Maneiro, Raimundo Inácio e outros bambas do acordeom.
Por muitos anos, Os Dragões foram à alegria dos jovens da bela cidade, mas como tudo na vida, um dia o grupo acabou. Zé Raimundo, no entanto, nunca parou e sempre recebeu convites para integrar outras bandas. Viveu a embriaguez do sucesso ao formar o famoso trio “EMOSON” ao lado dos consagrados astros locais Mavi e Adailton Quixadá. O sucesso do trio não se limitou a terra dos monólitos e tornou-se presença obrigatória em várias cidades cearenses. Em contínua atuação como instrumentista, sua presença é certeza de música com qualidade. Os mais jovens o procuram para receberem lições sobre o difícil e competitivo mundo da artes. Fora do circuito musical, Zé Raimundo é um cidadão bastante respeitado e querido na cidade pela seriedade com que desempenha seu trabalho e pelo tratamento sempre respeitoso que dedica a todos.
No ano de 1968, o músico casou-se com a bela jovem Maria Neide Alves com as bênçãos do Padre Dourado, que era um grande amigo da família e desta feliz união, nasceram os queridos filhos Maria de Lurdes, Neyara e Mariane, a estimada Neide é uma exemplar mãe de família e uma esposa que sempre atua em benefício do bem-estar da família. Sempre apoiou (e apóia) o artista em todas os momentos de sua vida como músico.
Segundo alguns músicos, o talento de Zé Raimundo é inegável e ele é possuidor de uma técnica apurada tecida no manejo do acordeon, instrumento que lhe proporcionou um grande aprendizado. Muitos de seus colegas de trabalho já deram adeus ao trabalho na área musical, mas para este nosso amigo, parar de tocar seria um grande castigo. “Amo a arte musical, nada me dá mais alegria! Enquanto as pessoas quiserem me ver tocando, lá estarei!” Queremos sim, Zé Raimundo! Seremos sempre seus admiradores, grande amigo!
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