Dedé Sousa também que foi uma pessoa de muito caráter, completamente apaixonado pelas filhas.
Dentre a multidão de admiradores da arte de Luiz Gonzaga, o eterno rei do baião, acredito que José Gomes de Oliveira, o conhecido e inesquecível Dedé Sousa, foi o número 1. Não conheci nenhuma outra pessoa que apreciasse, de uma forma incrivelmente dedicada, conhecendo com profundidade o acervo musical e detalhes sobre a vida do astro pernambucano. Mas, tinha consciência de que na vida há um limite para tudo e, claro, a família vinha em primeiro lugar.
Adolescente, ficava ouvindo Gonzagão num velho “rádio Semp” na cozinha enquanto a doce Elba preparava o almoço para o pai Raimundinho e os irmãos Francisco Sousa, Raimundo, Professora Angélica, Maria José e Jonas Sousa (hoje, consagrado radialista). Numa linda manhã, Dedé Sousa, poéticos anos 60, jovem e cheio de namoradas, chorou como criança. O pai Raimundinho lhe presenteou com uma sanfona branca(igual a da famosa canção) e nela estava escrito “Sanfona do Povo” mas, na verdade, nunca aprendeu a tocar o instrumento e, em pouco tempo, a abandonou.
Toda vez que ouvia a canção “Assum preto”, bem triste, perguntava a sua irmã Angélica se alguém era capaz de tanta maldade, de furar os olhos de um passarinho e a jovem irmã respondia que só Deus colocava bondade no coração dos homens. Naqueles maravilhosos anos 60, o hoje bem habitado bairro Baviera, era apenas um sítio com cara de sertão, onde tínhamos as casas da tia Baviera(Peché), Maura(Bala), Itamar(Basinha), Robéria(Bainha), Elba. Naquele feliz espaço, as coisas aconteciam como um verdadeiro ambiente sertanejo. É lógico que Luiz Gonzaga era a voz que ecoava nas festas juninas e acontecia um inesquecível “São João no Arraiá”.
O meu pai, o alegre Amadeu do Velho mercado, após o expediente, trazia fogos que eram distribuídos com todos os moradores. Chumbinhos, estrelinha, traques, cobrinhas que eram entregues as crianças e tudo dado como presente. Aquela gente feliz parecia que nem conhecia dinheiro e nem maldade. Tia Maria e as amigas da família, Lica e Maria Paula, preparavam os bolos de milho, canjica, pamonha, milho assado. Zé Viana era o responsável pelos balões e Dedé Sousa operava uma radiola de pilha e claro, só Luiz Gonzaga, até as pilhas aguentarem.
E chegou o momento do trabalho e Dedé Sousa passou a integrar o quadro de funcionários do “Cine Yara”, tendo como colegas: Zé Adolfo, Tarcísio, Sebastião Mamede, Luis Marinho, Téo Miranda, João da Geral, Chico Nascimento, Zé Paulino, Nina, Pedro Nunes, dentre outros. Com o fechamento do inesquecível cinema de rua, não voltaria a trabalhar.
A fama de Dedé Sousa se espalhou pela cidade e todos o identificavam como o maior fã do rei do baião. Arrancava boas gargalhadas, nos momentos de diversão, ao chamar cachorros que passavam pela rua pelo nome de “baleia”, “piaba” numa alusão à famosa canção “Samarica Parteira”. O mesmo acontecia com jumentos que existiam em grande número e ele brincava chamando-os pelo apelido de “babau”, “bregueço”, “relógio”, tal qual se escuta na música “O Jumento é Nosso Irmão”.
Algumas vezes, se ouvia, ao longe, a sua voz gritando o famoso prefixo sertanejo; “Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo”. E como era muito querido pelas pessoas, logo alguém respondia: “Para sempre Deus seja louvado!”. Naquele Quixadá de tanta paz, ouvíamos o grito sertanejo de Dedé: “Ô SERTÃÃOO!”.
Quantas vezes, Quixadá adormecia ao som da poética voz de Dedé Sousa? Precisamos destacar também que foi uma pessoa de muito caráter, completamente apaixonado pelas filhas Patrícia e Cristina, além de um carinho todo especial com os netos. De vez em quando, somos surpreendidos pela vida, e o bom Dedé Sousa acabou ficando doente, sem, no entanto, jamais deixar a alegria de viver, de curtir os filhos, os netos, os amigos e, é evidente, ouvir as canções de Luiz Gonzaga.
Dedé Sousa foi chamado por Deus que queria contar com ele para outras missões em 1999. Entre familiares e amigos deixou muitas saudades. Sempre que lembramos a figura do querido Dedé sentimos a presença das belas imagens do panorama sertanejo, tão bem cantada pelo rei do baião. Lá do céu, Dedé pedirá para a asa branca voltar ao sertão, ouvirmos novamente o ronco do trovão(pai da coalhada) ecoar no nosso Quixadá e por fim, pedirá pelas mulheres sérias e os homens trabalhadores, assim como cantou sua majestade, Luiz Gonzaga.
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Amadeu Filho
Colaborador da RC
Radialista Profissional
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