“Eu sou um apaixonado pelo trem”, afirma com a voz embargada por uma forte emoção.
Aqueles que se dirigem até a empresa “Elder Pré-Moldados”, ao adentrar no escritório do administrador Antônio Elder Lopes Paixão, se encantam com um trenzinho de madeira, feito artesanalmente e exposto num armário de arquivos. Aquele objeto tem uma simbologia fascinante para esse conhecido e muito querido empresário, nascido em Baturité, mas quixadaense de coração.
No período de 1969 a 1989, ocupou o cargo de agente de estação ferroviária na Terra dos Monólitos, cabendo-lhe a tarefa de dirigir e coordenar os serviços relacionados com o trem de passageiros e cargas, dentre outras responsabilidades. Ingressou na “RFFSA”, no ano de 1959, como telegrafista, através de concurso, realizado em Fortaleza. Estagiou na sua cidade natal por três meses, vindo se estabelecer, em seguida, em Quixadá.
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Durante três anos (1959 a 1962) morou no depósito de locomotivas, convivendo com ratos, morcegos. Mas jamais abriu mãos de estudar e trabalhar com seriedade. Com empenho e dedicação, foi conquistando espaços e o reconhecimento dos superiores. Hoje, assegura que, valeu à pena, tanto esforço desprendido. E claro, jamais esqueceu aqueles tempos de muito trabalho e um devotado amor ao trabalho ali desenvolvido. Há muitos anos em outra atividade, o transporte ferroviário, no entanto, continua bem presente em suas lembranças.
Segundo Elder, a chegada ou partida dos trens na estação de Quixadá atraía a atenção de toda a cidade. Ao ouvir o poético apito do trem, muitos corriam para aquele espaço de uma felicidade indescritível. Durante a permanência do trem, apareciam os vendedores com suas quartinhas na cabeça, cestos de banana, carrinhos de pipocas e outras guloseimas. Também eram oferecidos os jornais do dia, revistas como, por exemplo, “Revista do Esporte”; “Manchete”, “Capricho” e outras.
Naquele espaço mágico, também aconteciam encontros e desencontros. Tantos risos, alegria explodindo no peito, pela chegada de um ente muito querido. Saudades daqueles que partiam, deixando a sua gente com o coração em pedaços. O ex-agente ferroviário nos assegura que muitas pessoas, chegavam ou viajavam para outras cidades, pela estação de Quixadá. Exatamente, às 10 da manhã, o trem de passageiros, chegava, parando por algum tempo e logo seguindo em direção ao Crato. Havia o trem de cargas que transportava mercadorias para diversas cidades do estado e fora dele.
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Com bastante ênfase, assegura que o transporte de mercadorias realizado na operação ferroviária, com certeza, barateava os produtos. Como tudo na vida, este tipo de transporte também apresentava o seu lado triste, como por exemplo, a ocorrência de acidentes, alguns de grandes proporções. Recorda de um acidente que se deu na rua da Palha, quando uma rural foi esmagada por uma composição, causando a morte imediata de todos os ocupantes do veículo. Mas, como um amante do transporte ferroviário, afirma que acidentes acontecem em várias situações.
Elder não esconde a forte emoção ao lembrar do famoso “Asa Branca”, que era diferenciado, bem mais confortável, cadeiras reservadas, ar-condicionado, uma linda pintura e o mais importante, tempo bem mais reduzido de viagem. Era grande a afluência de pessoas à estação ferroviária para acompanhar a chegada e partida desse transporte. Era também um trem definidor de “status” social. Era comum, naqueles anos, na cidade ainda pequena, comentários do tipo: “O filho de fulano de tal, viajou no Asa Branca!”. Ele passava na terra dos monólitos, às 21 horas, vindo de Fortaleza e tendo em Recife, seu destino final.
O fim dos trens de passageiros poderia não ter sido evitado, segundo Elder, se o governo tivesse investido na modernização deste meio de transporte, pois, outras alternativas foram surgindo, ganhando a preferência das pessoas. Não se deve esquecer que o público alvo do transporte ferroviário eram as pessoas mais simples da população, devido ao preço barateado das passagens.
Nos dias de hoje, o trem é apenas uma saudade. Divide estas lembranças com sua esposa Ritinha, com quem se casou nos primeiros anos da década de 60 do século passado. A viagem de trem não será esquecida pelos que tiveram este privilégio.
Ainda sentimos o barulho daquele batido de dormentes versos roda, como se estivesse avisando as pessoas de sua passagem. Parece estarmos vendo aquele menino com o cesto na cabeça e oferecendo: “quem vai querer amendoim torradinho?” Como era divertido ver o abrigo que existia, próximo a estação, repleto de pessoas para acompanhar o espetáculo da chegada e partida dos trens. Como era bonito assistir a entrada e saída das pessoas daqueles carros! E a compra dos bilhetes, aquelas pessoas tão alegres, ansiosas para entrar nos vagões? E aquela batida angelical dos sinos, anunciando as chegadas e partidas.
As crianças se encantavam com aqueles mecânicos, todos uniformizados, com seus enormes martelos, quando da inspeção das válvulas do freio! E aquele apito, muito forte, uma, duas vezes, avisando da partida do trem! Íamos dormir e acordávamos com aquele som. É uma pena que as novas gerações não gozaram do privilégio desta fantástica viagem.
Ainda hoje, é muito forte a presença da ferrovia na vida de Elder Lopes Paixão, e uma prova deste amor, é a proximidade da empresa que administra com a velha estação ferroviária. “Eu sou um apaixonado pelo trem”, afirma com a voz embargada por uma forte emoção.
Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer mais sobre a história de Quixadá.
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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