Jean Silva foi assassinado no dia 12/01/2012, com cinco tiros pelo mototaxista Francisco Reginaldo Feitosa Sousa.
Um dia, um menino de oito anos de idade, que brincava de bola de gude na rua, resolveu terminar mais cedo com a brincadeira. Entrou correndo em casa e foi direto para a cozinha, onde se encontrava sua mãe e falou: “mamãe, vou trabalhar com o tio Neci, lá no “Belas Artes” para ajudar a senhora”. Aquela decisão pegou de surpresa a Dona Socorro que reprovou de imediato: “Você tem que estudar lá na Escola da Cohab, a professora Silvana não quer que falte as aulas”.
Apesar de estar na aurora da vida, sentia necessidade de ajudar nas despesas da casa. E ainda diria mais, “depois de ajudar o tio, vou vender verduras com meu irmão Eliano. Ele até já me deu uma bacia”. Muita gente irá me comprar no meu Campo Novo”.
O nome deste garoto, José Jean da Silva Pereira (1/03/1980). Esta cena acontece em muitos lares brasileiros e o pequeno Jean logo teve que largar a bola e outras brincadeiras, mesmo sem entender praticamente nada desse negócio de cuidar da casa, queria ajudar a qualquer custo. Queria contribuir para que sua mãe tão querida e seus irmãos que amava tanto desfrutassem de uma vida com mais qualidade. Pode-se afirmar que ele assumiu muito criança ainda, responsabilidades de gente grande.
Chegando na adolescência, começou a trabalhar como vendedor ambulante e ia de porta em porta, oferecendo os mais diversos produtos. Com sua dedicação, seu jeito simples e uma bondade expressa nas ações, logo fez grandes amizades por toda a cidade. Durante muitos anos, Jean exerceu esta atividade que o tornaria querido e respeitado.
Empurrando o carrinho, instrumento de trabalho, foi ajudando a família a ter uma vida mais digna. Para ele não importava nem mesmo o cansaço, queria oferecer a sua querida mãe e aos irmãos uma alimentação melhor, ajudar na compra do material escolar e algum dinheirinho para os momentos de lazer.
Nas horas de folga, Jean se dedicava a uma de suas maiores paixões, o futebol. Organizava torneios, treinava meninos e meninas e tinha a consciência formada de que precisava ocupar os jovens do bairro, retirando-os de determinadas diversões que poderiam desviá-los dos estudos, de um futuro mais promissor. Ele sabia que o esporte, talvez fosse naquela realidade do bairro, o único instrumento capaz de reunir um grande número de crianças e adolescentes, pois era uma atividade que não exigia muito dinheiro, além de ser disciplinadora. Tinha a maior das certezas de que o esporte contribuiria para a cidadania daquela gente a quem tanto devotava respeito e carinho.
Cultivando uma bondade natural, tratando os jovens e os de mais idade com muita simpatia, em pouco tempo se tornaria o queridinho do bairro Campo Novo, mas desfrutando também de ótimo conceito em toda a cidade.
E veio então a sugestão de entrar na política, se tornar um vereador e, quem sabe, a grande oportunidade de mudar a realidade do lugar. A D. Socorro repetiu o mesmo gesto ao não aceitar que seu filho trabalhasse, quando criança. “Não. Não quero meu Jean metido nisso, de jeito nenhum”. Assim como todos nós, Jean não era perfeito e desobedeceu aquela ordem. E com uma estrondosa votação foi eleito vereador, causando euforia no bairro. Foi empossado e logo pediu licença, em virtude de ter sido convidado pelo então prefeito da época, Dr. Rômulo Carneiro para assumir a Secretaria de Esportes e Participação Popular de Quixadá.
Para boa parte dos moradores do Campo Novo poderia ter feito bem mais como vereador, mas o certo é que imprimiu um melhor desempenho daquela pasta e conseguindo, em parte, atrair jovens para o esporte, seu maior sonho. Sempre mostrou competência, simplicidade e dedicação. Não se limitou aos eventos esportivos e esteve sempre nas atividades da igreja, participando de batizados, realizando casamentos coletivos.
Tudo estava caminhando bem, quando na tarde de quinta-feira, 12/01/2012, uma multidão se aglomerou no bairro Rodoviária, a cidade comentou, os veículos de comunicação do país noticiaram mais uma morte, dessa vez do querido Jean Silva, assassinado com cinco tiros pelo mototaxista Francisco Reginaldo Feitosa Sousa, 41 anos, segundo informações, amigos desde criança.
Muitos não queriam acreditar no que aconteceu. O velório de Jean aconteceu no Pólo Campo Novo com a presença de muitas pessoas, de todos os cantos da cidade. O seu enterro, praticamente parou a cidade, com crianças, jovens, adultos, com lágrimas nos olhos. Terminava a trajetória de um ser humano que venceu pelo trabalho honesto e se fez respeitado, querido, exatamente pelo grande amor aos pais e respeito aos amigos. Amigos que, inclusive deixaram de residir no bairro, para afastar as lembranças daquele cidadão que fez do calor humano uma realidade sempre presente.
“Foi a melhor pessoa que conheci neste mundo, presente nas nossas alegrias e tristezas”, afirmou Dias, o seu fiel amigo nas promoções que Jean realizava. Jean será sempre uma doce saudade. Quem priorizou em vida o trabalho honesto, o caráter, a solidariedade, permanecerá presente no coração das pessoas.
Conteúdo relacionado ao julgamento
Julgamento do ano: assassino do Secretário Jean Silva vai a Júri Popular no dia 24
Familiares, amigos e admiradores do ex-secretário, estão ansiosos para o grande julgamento dessa quarta-feira, 24, no Fórum Desembargador Avelar Rocha da Comarca de Quixadá, no Sertão Central cearense. Francisco Reginaldo Feitosa Sousa, 41 anos, réu confesso do político sentará no banco dos réus para responder por homicídio qualificado, art. 121, §2º, inc. II e IV do Código Penal (II – por motivo fútil e IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível à defesa do ofendido).
A presidenta do Tribunal Popular do Júri, juíza Patrícia Fernanda Toledo Rodrigues fará o sorteio dos jurados, o qual dos sete serão escolhidos para julgar o réu. A família de Jean espera por Justiça.
Fechamos este texto sobre o Jean, lembrando o poeta Carlos Drummond de Andrade: “sentimos saudades de certos momentos de nossas vidas e de certos momentos de pessoas que passaram por ela”.
Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer mais sobre a história de Quixadá.
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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