Os chamados “profetas da chuva”, pessoas que fazem o prognóstico chuvoso com base em elementos da natureza, afirmam que 2017 será o fim do ciclo da seca, que já dura mais de cinco anos no Ceará. Erasmo Barreira, que participou de todas as edições do Encontro Anual dos Profetas da Chuva, em Quixadá, diz estar “bastante empolgado” com a previsão. “Quando for em julho, ninguém mais vai falar em problema d’água no Nordeste”, diz.
Para o “profeta”, dois fenômenos são indicativos de que vai ocorrer muita chuva no Nordeste em 2017. “Ano passado teve uma coisa que não fazia 10 anos que não acontecia na nossa região, que é o vento do Aracati. É um vento diferente, só passa numa direção e no mesmo horário. Eu anotei. Foi em 1º de julho de 2016 que passou o vento do Aracati. Esse é um dos principais sinais de que vai ter muita chuva, já dizia o meu pai.”
As consequências dos cinco anos seguidos de seca estão no sofrimento dos moradores, dos rebanhos e nos mapas da meteorologia. Eles demonstram a abrangência dos estragos, por exemplo, na agropecuária e reservatórios. É a faixa mais escura em todos os estados do Nordeste. Mostram também a quantidade de áreas com chuva abaixo da média. Tudo o que não está em azul. Os próximos meses são decisivos porque é a época de chuva na maioria dos estados. A previsão para o período ainda vai ser divulgada, mas já é certeza o que vai ser necessário para mudar o quadro atual.
“A gente teria que ter, por exemplo, um março muito bom, um abril melhor ainda, dois meses consecutivos chovendo acima da média para a gente conseguir recuperar os reservatórios”, explica Meyre Sakamoto, da Fundação Cearense de Meteorologia.
Se as imagens de satélite orientam a meteorologia, aqui embaixo olhos bem treinados observam o céu e a natureza para também fazer previsões. E, neste caso, não se trata só de saber se vai chover ou não, mas, por exemplo, se um açude como o que já foi um dos principais do Ceará vai voltar a ter água e vida.
O Cedro, agora seco, é um dos 153 açudes monitorados no Ceará que estão, em média, com 6,5% da capacidade. Mas é acima dele, nas formações das nuvens, que seu Antônio descobre se isso vai continuar.
“Fevereiro e março só mostrou coisa boa, pra chover bem. Suficiente”, anuncia Antônio.
Foi a mesma resposta que o feijão carregado de sementes trouxe para seu Erismar.
“Quando essa carga de feijão bravo está com ela aqui, nessa posição, provavelmente período de fevereiro chove”, afirma Erismar.
No encontro, que se repete todos os anos no sertão do Ceará, por volta de 30 profetas da chuva compartilham previsões.
“Aqui uma casinha aqui de maria-de-barro. Ela quando faz a boquinha dela para o lado do poente, é sinal que vai chover”.
No encontro, que tem até cantoria, a maioria dos profetas constatou que, desta vez, os sinais da natureza foram uma mensagem de esperança.
“Seca tirana, que assola o meu sertão, seca tirana, faz isso mais não”.