Crônica de uma despedida: Sr. Nivaldo mostrou que para ser feliz, basta um picolé de morango

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Sr. Nivaldo Paes: 54 anos vendendo sorvetes e encantando pessoas (Foto: reprodução)

Quixadá: A partida do comerciante Nivaldo Paes Oliveira, registrada nas primeiras horas da manhã da sexta-feira (6), fez surgir um misto de saudade e nostalgia nos quixadaenses. Ao partir, Sr. Nivaldo fez brotar em muitos, lembranças que antes estavam adormecidas, e que agora brotam pela saudade.

O comerciante é dono de uma das mais antigas sorveterias de Quixadá. Com mais de 50 anos de comércio, Sr. Nivaldo inventou e reinventou sabores e ofertas, mas foi a simplicidade de um mero picolé de morango, que ganhou o paladar de boa parte da infância quixadaense.

Doente, internado para tratamento e acometido por problemas de saúde que se multiplicavam num corpo de já idade, Sr. Nivaldo partiu na sexta, e quando a notícia de seu falecimento se espalhou, os que hoje nem se dão conta que cresceram, tomados pela correria do cotidiano, em que os afazeres se acumulam e onde o tempo de 24 horas já parece não ser mais suficiente, lembraram que um dia, inevitavelmente, já experimentaram do seu picolé.

A sorveteria do Sr. Nivaldo: palco de encontros na infância (Foto: Foursquare)

São muitos os que lembraram e compartilharam essas lembranças, de terem “fugido” da Escola das Irmãs na hora do recreio para ir comprar o famoso picolé de morango, e outros tantos que gargalharam no dia em que tiveram a roupa sujada pelo corante avermelhado do picolé que derretia. Sujar a camisa com o seu picolé, aliás, era como um mérito.

Sr. Nivaldo pode parecer um comerciante qualquer, como entre tantos outros, instalados numa movimentada avenida comercial. Mas, não era. Ele era dono das boas e melhores memórias de um tempo da vida que não volta, e onde tudo, por mais singelo que fosse, era digno de felicidade e alegria, tal como um picolé de morango.

Talvez, nem seja tanto o sabor do seu picolé o que o tornou mais conhecido, mas seu carisma, sua simpatia sempre presente, e que nos fazem de maneira egoísta, desejar que ele não tivesse ido. É curioso, pois se ao partir Sr. Nivaldo leva junto a certeza de que aqueles dias da infância não se repetirão, ele fez brotar aqueles dias de alegria, nos fazendo ter a certeza de que ser feliz não é tão difícil assim, se compararmos com aquele tempo em que bastava sujar a roupa tomando um picolé, para dar uma risada.