Localizada no Sertão Central cearense, região entre as que mais sofrem em períodos de estiagem prolongada, uma experiência com produtores de leite vem se destacando na paisagem semiárida. Com apoio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) através do Projeto São José, a Cooperativa Regional dos Assentamentos de Reforma Agrária do Sertão Central do Ceará (Cooperasc), em Quixeramobim, opera uma agroindústria que pasteuriza entre 7 mil e 8 mil litros de leite por dia, reúne 93 produtores de 26 assentamentos e atua na cadeia produtiva desde a produção até a comercialização.
Além de fornecer leite para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA Leite) em 15 municípios da região e para a gigante do setor lácteo Alvoar, a Cooperasc lançou uma linha de produtos com marca própria e está prestes a dar mais um passo. “Produzimos queijo coalho, requeijão cremoso, requeijão bisnaga, nata em diversos tamanhos e, em abril ou maio, estaremos implantando uma linha de iogurtes que vai proporcionar maior participação no mercado institucional, que é o maior comprador da agricultura familiar”, revela Lucimerio Araújo, gestor de produção da Terra Conquistada Laticínios, financiado pelo Governo do Estado.
O PAA Leite foi o carro chefe inicial para que esse processo fosse viável”, conta Gizeli Morais, coordenadora do programa na SDA. Segundo ela, o governo adquire cerca de 4 mil litros diários dos produtores associados à cooperativa e o destina a famílias em situação de vulnerabilidade social e/ou em estado de insegurança alimentar e nutricional nos municípios de Ibicuitinga, Ibaretama, Quixadá, Quixeramobim, Banabuiú, Madalena, Itatira, Boa Viagem, Mombaça, Pedra Branca, Piquet Carneiro, Senador Pompeu, Milhã, Dep. Irapuan Pinheiro e Solonópole.
A coordenadora afirma que a SDA tem ajudado a fortalecer o sistema de produção por meio da implantação de tanques de resfriamento. “Hoje já são 13 tanques destinados para a rota de coleta da Cooperasc”, revela. Os tanques são uma das ações mais importantes da secretaria operacionalizadas pela Coordenadoria do Desenvolvimento das Cadeias Produtivas da Pecuária (Codep) da secretaria. De acordo com o coordenador Márcio Peixoto, eles são entregues a cooperativas dentro do Projeto de Fortalecimento da Bovinocultura Leiteira no Ceará.
A produção do leite fornecido pelos assentados dos municípios de Quixeramobim e Senador Pompeu também foi objeto de atenção do projeto, observa o coordenador da Codep/SDA. Caso do seu Cícero que, com um pequeno rebanho de 10 vacas, produz diariamente cerca de 60 litros. “A média das vacas dele no pico de produção é de 16 a 18 litros por dia. Só que, nesse período, elas estão com garrotes maiores e a produção chega a 60 litros por dia. Isso é bom para mostrar que ele está utilizando a palma forrageira na silagem, uma produção organizada diária, importante para não desabastecer o laticínio. Um veterinário o acompanha para mostrar a importância da qualidade do leite”, explica Peixoto.
Para Lucimerio Araújo, esse trabalho junto aos produtores vem surtindo efeito. “Atualmente, a média dos nossos produtores está em 12 litros por animal. Em 2019, quando iniciamos, ela era de seis litros, e a captação média dos nossos produtores varia de 35 a 70 litros por dia”, justificou.
Dia de Campo da I Oficina Nacional do PAA Leite em 2023
A visita in loco à experiência da Cooperasc nesta sexta (31/3) foi a última atividade da I Oficina Nacional do PAA Leite em 2023, promovida pela SDA com a coordenação da Codep desde quarta-feira, e reuniu em Fortaleza gestores do PAA Leite do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), dos nove estados do Nordeste e de Minas Gerais.
Coordenadora do PAA Leite do Maranhão, Andréa Cristina Sousa Reis comemorou o retorno das oficinas do programa após a pandemia. “Esses três dias foram de suma importância pois a gente conseguiu fazer avaliação do programa, rever todas as condicionantes que tínhamos antes e as mudanças que estão por vir”, disse. Ela classificou como “de excelência” a realização da oficina em Fortaleza pelo tempo recorde com que foi organizada. “Tanto a acolhida, como a estrutura e a logística facilitaram muito a dinâmica do trabalho. Está de parabéns a equipe da SDA”, acrescentou.
Coordenadora nacional do PAA Leite no MDS, Elenita Correia falou sobre a oficina. “Fizemos um balanço do que a gente executou de 2013 a 2021 e também conversamos sobre o convênio e a vigência, tratamos do termo de aditivo do que a gente está trabalhando nesse momento, assim como as perspectivas para execução do programa em 2023”, situou.
“É sempre muito enriquecedor ver os nossos parceiros lá na ponta, os beneficiários. Para todos estados que vieram participar dessa rotina, foi um aprendizado e uma troca de experiência que contribuem muito para o desenvolvimento dos convênios nos Estados”, afirma Elenita. Ela considera que a oficina cumpriu seu objetivo. “A gente tá saindo daqui com diretrizes, com aprimoramento no sistema, então foi muito importante para todos que participaram. E a gente espera novas oficinas para continuar crescendo no programa e desenvolvendo melhor essa modalidade tão importante para os produtores e para as pessoas que recebem leite”, avaliou.