Um objeto luminoso no céu chamou a atenção de moradores do Ceará na madrugada desta segunda-feira (9). Embora tenha sido referida como “anjo” ou um cometa, a luz se trata, na verdade, do foguete chinês Long March 7A, da missão Shijian 23, lançado neste domingo (8), segundo o professor de astronomia Romário Fernandes.
Ao analisar imagens recebidas pelo g1, o docente do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros do Ceará ponderou que a luminosidade ocorreu em razão de plumas de combustível do equipamento. As plumas se formam a partir da propulsão do foguete após este ser ejetado. “O mais provável é que seja isso que causou esse fenômeno visual”, considerou.
Apesar de o céu estar escuro do ponto de vista terrestre, as plumas de combustível se dão em uma altitude em que a luz do sol ainda incide, apontou o professor. Em razão disso, os gases são iluminados e refletem a luz.
“Como ele está numa grande altitude, a luz do sol ainda toca lá e acaba causando essa reflexão, deixando ele brilhante para os nossos olhos. Ele encontra um céu escuro, o que é fundamental para ele poder ser visível”, explicou.
Visibilidade
O foguete, mesmo tendo sido lançado na China, no hemisfério Norte, pôde ser visto no Brasil por causa do percurso geral traçado por objetos lançados da Terra.
Romário Fernandes destacou que todo equipamento destinado a uma órbita geoestacionária — que gira em torno da Terra na mesma velocidade em que ela gira ao redor de si mesma — fica sincronizado com a rotação do planeta.
“Todo esse trajeto do objeto, que é lançado de qualquer lugar da Terra, e tem que fazer para ir entrando na órbita, alcançando a altura e a velocidade orbitais adequadas para poder ocupar o espaço que deveria”, situou o professor.”Todo objeto destinado a uma órbita geoestacionária tem que fazer um longo percurso até chegar nessa órbita, então ele faz todo um trajeto”.
O professor usou como exemplo objetos lançados pela Agência Espacial Europeia. Estes, normalmente lançados na Guiana Francesa, fronteiriça com o Brasil, fazem um percurso que só entra em órbita na altura da África.
“O destino do seu objeto vai ficar, digamos assim, parado sobre um ponto fixo do globo terrestre. Daquele lugar, ele sempre seria em tese visível se estivesse brilhando ou estivesse refletindo do sol”, afirmou. Assim, “onde ele parar, ele vai ficar sempre visível”.
De acordo com o site Everyday Astronaut, especializado em notícias de astronomia, o objeto é provavelmente um satélite de comunicações com não mais que 6 toneladas. O lançamento ocorreu às 23h de domingo (8) por meio da Corporação de Tecnologia e Ciência Aeroespacial da China (Casc, na sigla em inglês).
Cometa se aproximando da Terra
O objeto luminoso foi confundido com um cometa em razão deste tipo de corpo celeste apresentar uma luminosidade visível da Terra. Além disso, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) divulgou, na última semana, que o cometa C/2022 E3 (ZTF), recentemente descoberto, passaria novamente pela órbita terrestre após 50 mil anos.
Contudo, segundo Romário Fernandes, a luz observada no Ceará não se trata desse cometa em razão do objeto astronômico ainda não estar visível a olho nu — ele só pode ser visto por meio de telescópio e de exposição adequados.
“Ele não tá visível é a olho nu, e nem se sabe se ele vai ficar, na verdade. Pode ser que ele fique no limite da visibilidade a olho nu, mas é uma coisa que ainda tá bem imprevisível; nos próximos dias é que a gente vai poder saber.”
Com informações do G1