O fascínio humano pelo desconhecido – e as teorias que surgem na tentativa de explicar fenômenos aparentemente inexplicáveis – tem tido terreno fértil nas luzes que, desde o dia 4 de novembro, frequentam os céus do Sul do Brasil.
A história ganhou força após a divulgação, na internet, de diálogos entre operadores de voo e pilotos, profissionais que, apesar de habilitados para identificar os mais diversos fenômenos atmosféricos, se mostraram surpresos com o que estavam testemunhando. Em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, pilotos e controladores de voo afiraram ter visto as luzes durante pelo menos seis dias seguidos, no espaço aéreo próximo do aeroporto Salgado Filho.
O que intrigava os profissionais é que as luzes não eram detectáveis nos radares. Na gravação veiculada na internet, a operadora de voo pergunta ao piloto se ele teria avistado “alguma luz no setor sul de Porto Alegre”. “Eu ia informar vocês, mas iam falar que eu estou louco. Na verdade, nós estamos vendo essas luzes lá desde Confins. São três luzes girando entre elas, bem forte”, respondeu o piloto que, na sequência, acrescentou que as luzes “aparecem e desaparecem”, e que seriam “fortes e girando em espiral”.
O caso ganhou tons de polêmica e os internautas pasaram a questionar a possibilidade das luzes serem Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs). Mas parte dos casos – os de luzes em movimento uniforme – já têm explicação cientificamente respaldada pelo Observatório Nacional.
“A princípio, chamamos essas aparições de fenômenos aéreos não identificados (UAPs, sigla em inglês). Podem ser fenômenos naturais da atmosfera, planetas, nuvens ou mesmo objetos como drones ou balões”, disse Marcelo de Cicco, astrônomo. No caso específico das luzes em movimento uniforme, o astrônomo tem uma explicação, fruto de uma investigação já publicada por ele na internet. “São os satélites da Starlink, uma das empresas do Elon Musk. Esses satélites têm uma superfície metálica, com sua base voltada à Terra apresentando anteparos que refletem de forma mais intensa a luz”, conta ele.
De acordo com o astrônomo do Observatório Nacional, as explicações para os demais casos (luzes em movimento uniforme) “não batem com este e outros relatos de luzes que seguem as aeronaves ou que estão em movimento de rodopio”. No campo das “possíveis explicações” para esta e outras luzes com movimentos diferenciados estão os treinamentos militares da Força Aérea Brasileira, que estão ocorrendo na Região Sul.
“Agora, de fato, até o momento, desconheço qualquer explicação plausível para essas luzes rodopiantes. Carece ainda de explicação do ponto de vista da natureza ou de atividade humana”, acrescentou. O astrônomo e professor de metrologia e astrometria tem, entre alunos e contatos profissionais, diversos colegas que trabalham na área de Defesa. Em especial, técnicos das áreas espacial e de radares. Segundo De Cicco, muitos desses profissionais já confidenciaram a ele terem testemunhado fenômenos ainda sem explicação nos céus do país.