Dados da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares estimam que 70% das pessoas acometidas por um acidente vascular cerebral (AVC) não conseguem retomar as atividades profissionais e cerca de 50% precisam de acompanhamento permanente. Usar estratégias para diminuir as sequelas durante a reabilitação é tão importante quanto prevenir o problema. No Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), em Quixeramobim, a equipe usa, desde 2020, um videogame como método de realidade virtual para a recuperação de pacientes.
De acordo com a terapeuta ocupacional Jamila Gaspar, a tecnologia possui um sensor que mapeia o corpo do paciente e o estimula a fazer movimentos para pontuar no jogo. “Desta forma, conseguimos trabalhar o raciocínio, a parte cognitiva, a coordenação motora e o estímulo visual”, detalha.
Indicado na reabilitação a longo prazo, a ferramenta é utilizada entre os que tiveram movimentos parcialmente comp
rometidos. A equipe reconhece que os games virtuais melhoram a recuperação dos internados. “Já conseguimos comparar os níveis de funcionalidade do paciente quando ele entrou e após a alta, e os resultados foram muito bons. Houve casos de pacientes com dificuldade para movimentar o braço e, com o jogo de arremesso de dardos do videogame, retomou os movimentos”, exemplificou Gaspar.
O médico Alan Cidrão, coordenador da Unidade de AVC do HRSC, explica que o uso do dispositivo é uma terapia em crescimento nos pacientes com sequelas da doença. “A tecnologia aumenta as conectividades cerebrais, garantindo uma recuperação rápida e plena, sendo complementar no tratamento”, afirma.
Cidrão também pontua que o videogame garante ao paciente não só uma reabilitação da parte física, mas uma motivação maior no seu tempo de internação hospitalar. “Isso reduz o risco de complicações”, argumenta.
Reconhecimento internacional
O HRSC, vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e sob gestão do Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), revolucionou a forma como o AVC passou a ser tratado na região do Sertão Central cearense desde 2018, quando a unidade foi inaugurada.
As práticas inovadoras fizeram do equipamento uma referência no Brasil e no mundo. Em 2020, o trabalho foi reconhecido com a certificação internacional Angels Awards – foi o único hospital do País até então premiado com o título.
Até o fim deste mês de outubro, mais de 3.400 pessoas foram assistidas em uma linha de cuidado estruturada. Quando o paciente chega em até quatro horas e meia depois dos primeiros sinais do AVC, tempo estabelecido nos protocolos para que o quadro clínico seja revertido com o mínimo de sequelas, as equipes utilizam um método no qual toda a parte assistencial se mobiliza para atender a pessoa de forma mais rápida, inclusive com cirurgia, se necessário.
São 20 leitos ofertados no equipamento, com atendimento multiprofissional 24 horas. O HRSC também promove o acompanhamento permanente do paciente mesmo após alta hospitalar, evitando que ele volte a apresentar complicações. “Nossa unidade tem passado por uma mudança desde a sua abertura, principalmente no que se refere ao número de atendimentos, à qualidade, aos indicadores assistenciais e aos processos”, destaca Alan Cidrão.
Carliziete Massena, de 44 anos, teve um AVC no início do ano. Moradora de Tauá, ela foi encaminhada para atendimento no HRSC. Um dos rastros da doença foi a paralisia do lado direito do rosto, mas o tratamento realizado no hospital, ela avalia, foi o responsável pela sua recuperação.
“A assistência foi de primeiro mundo. Tudo o que eles tinham para inovar, usaram. Os médicos ficaram impressionados com minha recuperação”, lembra. Cozinheira, Carliziete retomou as atividades na última quinta-feira (27). “Tenho total reconhecimento e sou muito grata à equipe”.