Agroindústria do MST beneficia produtores de leite de assentamentos em Quixeramobim e Senador Pompeu

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Com o leite comprado dos produtores, agroindústria produz derivados como iogurte e nata (Foto: Flaviana Alencar)

Região Central: Seu Erinaldo Castro acorda cedinho. Sua primeira tarefa do dia é no pasto, ordenhando as vacas, uma atividade que aprendeu com o pai. A diferença é que depois de assentado no Nova Canaã, em Quixeramobim, no interior do Ceará, o resultado do seu trabalho, em vez de ir para o dono da fazenda, permanece na sua família. “No tempo da fazenda, meu pai que hoje está com 84 anos e é a prova viva disso, se deslocava 3 km pra tirar leite na fazenda Manajú, para ganhar 2 litros de leite. A partir daí [do assentamento], melhorou muito porque tivemos o acesso a comprar sua própria vaca. Aí você não fica dependendo de ninguém”.

O leite produzido pelo Erinaldo na sua pequena criação, assim como de outros produtores, vai direto para a mais nova conquista do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST): uma agroindústria com capacidade para beneficiar até 10 mil litros de leite por dia. Cerca de 26 assentamentos de reforma agrária possuem uma produção de leite com qualidade na região de Quixeramobim e Senador Pompeu. O problema era a figura do atravessador, que cobrava altos preços, não só para viabilizar o escoamento dessa produção, mas também para garantir o alimento do gado.

Situações que encareciam o processo, deixando os produtores com mais dívidas do que lucro. Foi então que com o apoio do MST, os trabalhadores e trabalhadoras rurais iniciaram, em 2013, as discussões para a criação de uma cooperativa que pudesse mudar esta realidade. “A partir do momento em que essa cooperativa foi fundada, já se começou a pensar a ideia de se discutir com o laticínio a ideia da comercialização, mas também de construir seu próprio empreendimento. o laticínio foi pensado para ser construído no acampamento Nova Canaã, uma vez que o assentamento é bem central, bem localizado”, explica a gestora da Cooperativa Regional dos Assentamentos de Reforma Agrária do Sertão Central do Ceara Cooperasc Ltda (Cooperasc), Florença Moreira.

Em 2021, a instalação da agroindústria foi concluída e foram adquiridos quatro caminhões para fazer a coleta e o armazenamento do leite de forma adequada dos 26 assentamentos. São dois para a coleta do leite nas comunidades e dois baús refrigerados para a entrega dos produtos beneficiados. 19 assentamentos receberam ainda galpões com toda uma estrutura de tanque de resfriamento de leite: “depois de finalizada sua construção e instalação, nós tivemos o processo de vistoria do empreendimento, através da Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), então nós tivemos o nosso empreendimento registrado como também os 39 produtos”, reitera Florença.

Leite pasteurizado, requeijão, queijo, nata, iogurte. Hoje a agroindústria produz tudo isso, fruto do trabalho duro e de muita luta. Não à toa, a marca foi batizada de Terra Conquistada. “Nós iniciamos o funcionamento desse laticínio, em fevereiro de 2022, com o beneficiamento de 5 mil/litros de leite de saco, entregando em 15 municípios através do programa que a cooperativa também conquistou, que foi o Programa de Aquisição de Alimentos do Estado do Ceará. Então, hoje nós já estamos em Quixeramobim, em 5 supermercados e já estamos em processo de negociação com outra rede de supermercados aqui do Ceará, que tem em torno de 30 lojas espalhadas em todo o estado, para comercializar também os nossos produtos”, pontua Florença.

Reportagem: Brasil de Fato