Os dois anos de pandemia e a correria do dia a dia deixaram os profissionais que atuam no Eixo Covid do Hospital Regional do Sertão Central (HRSC), unidade vinculada à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) e administrada pelo Instituto de Saúde e Gestão Hospitalar (ISGH), com uma rotina de trabalho “automatizada”. Para reforçar os valores da instituição, a sensibilidade e a empatia de seus colaboradores, enfermeiros e técnicos de Enfermagem foram convidados a participar da Oficina Realística do Ser Profissional, Paciente e suas Ressignificações.
A ação consistiu em uma série de atividades práticas, entre elas, um corredor de sensações pelo qual os trabalhadores caminharam de olhos vendados. “Preparamos um ambiente onde eles percorreram várias etapas. Tentamos recordar a época em que eles foram aprovados no processo seletivo e todos os sentimentos e expectativas que tiveram a respeito disso. Em seguida, foram inseridos nas primeiras semanas pós-admissão, quando passaram por um momento chamado ‘pega de rotina’, em que são conduzidos por pessoas experientes, e vivenciam, de fato, a assistência”, explica a coordenadora de Enfermagem do Eixo Covid, Joelice de Oliveira.
Os profissionais também experimentaram caminhos que reproduzem adversidades e inseguranças, como subir escadas, pisar em algodão, em chão molhado e em cascas de ovos.
Ainda vendados, os enfermeiros e técnicos chegaram à segunda parte da oficina: vivenciar os sentimentos dos usuários atendidos a partir da simulação de ações como aspiração de vias aéreas, uso de VNI (máscara facial colocada com pressão negativa), o garrote dos membros para punções periféricas, uso de sons do ambiente da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), entre outros.
“A intenção é que eles se sintam na pele do paciente. Depois de anos de prática na UTI, algumas preocupações são perdidas com a rotina atribulada. Mas como o paciente se sente? Para eles recuperarem essa empatia, inserimos essas cenas e tentamos resgatar toda aquela garra, empenho e entrega do início”, explica Oliveira.
Ao final da experiência, os profissionais receberam cartas dos colegas de trabalho e da coordenadora. “Eu acredito no potencial deles e, por isso, a oficina foi promovida. O intuito é também de dizer que eles não estão sozinhos e que a gestão está ao lado deles para o que precisarem”, destaca.
Choque de realidade
Para a técnica de Enfermagem, Débora de Sousa, que está há dois anos atuando no Eixo Covid, a oficina a fez lembrar de seu início no HRSC e a olhar com maior cuidado para o paciente. “Querendo ou não, estávamos no automático. Essa dinâmica nos fez abrir os olhos e rever coisas de quando começamos no hospital. Com o passar do tempo, querendo ou não, entramos no comodismo de fazer o mesmo trabalho diariamente e de todo plantão vivenciarmos as mesmas intercorrências. Essa dinâmica fez a gente voltar para a realidade”, avalia.
Ao final da experiência, os profissionais receberam cartas dos colegas de trabalho e da coordenadora de Enfermagem
Maria Érica, técnica de Enfermagem do Eixo Covid desde a segunda onda, não imaginava o barulho que faz na UTI. “Depois da dinâmica, no plantão seguinte, já passamos a prestar mais atenção nos sons. Às vezes, sem perceber, você puxa a luva, bate o lixo. E agora, fazemos tudo bem devagar para não incomodar os pacientes. Nada como você estar no lugar do outro. Para mim, é um barulho comum, mas para eles, que estão longe de tudo e de todos, é algo de outro mundo”, comenta.
Segundo Viviane Santos, também técnica de Enfermagem, o que levou da experiência foi amadurecimento e humanização. “Vamos olhar com outros olhos para o paciente. Mudaram da água para o vinho, literalmente, os nossos pensamentos, não apenas no profissional, mas também no lado pessoal”, pontua.