Oito réus de um processo criminal por um roubo milionário a uma empresa de valores, em Caucaia, na Grande Fortaleza, seguem sem julgamento, mais de 20 anos após o crime. Entre eles está Marcos William Herbas Camacho, o ‘Marcola’, chefe máximo de uma facção criminosa, que tem apenas mais um ano para ser julgado pelo caso.
A quadrilha é acusada de roubar cerca de R$ 1,4 milhão da sede da Nordeste Segurança de Valores (NSV), localizada em Caucaia, na manhã de 18 de fevereiro de 2000. Conforme a denúncia do Ministério Público do Ceará (MPCE), o crime foi planejado, a começar pela aproximação de um réu da irmã do supervisor de segurança da empresa, que aceitou participar do roubo por R$ 35 mil.
A legislação brasileira prevê a prescrição do crime em 20 anos, contados a partir do dia do recebimento da denúncia pela Justiça, se não houver sentença. Assim, ‘Marcola’ e os comparsas que ainda não foram julgados poderiam ficar impunes pelo roubo já em abril deste ano.
Porém, o juiz interrompeu o prazo prescricional por conta dos acusados que estavam foragidos. O prazo começou a contar apenas quando ‘Marcola’ foi localizado, em novembro de 2001. Ou seja, a Justiça do Ceará tem até novembro de 2021 para julgá-lo. A defesa dele não foi localizada.
‘Marcola’ está preso na Penitenciária Federal de Brasília. Além dele, ainda não foram julgados pelo roubo sete acusados. Outros nove foram condenados a prisão em primeira instância. Enquanto duas pessoas foram absolvidas.
O processo chegou a ter um conflito negativo de competência. A 3ª Vara Criminal de Caucaia enviou os autos para a Vara de Delitos de Organizações Criminosas – que trata de crimes que envolvem organizações criminosas – em 1º de agosto de 2019. Mas esta entendeu que também não era de sua competência e devolveu à Vara de origem, no dia 23 daquele mês, porque a lei de organizações criminosas é de 2013, anos após o roubo.
Questionado sobre a demora no julgamento de alguns réus do processo, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) não se manifestou até o fechamento desta matéria.
Crime planejado
O grupo conseguiu a senha de acesso ao cofre e alugou imóveis no entorno da empresa para estudar a rotina do local. Para garantir o transporte e a segurança do grupo, foram roubados carros e feita uma série de sequestros contra familiares de funcionários da NSV. Um deles foi rendido e foi utilizado pelo bando para que os portões da empresa fossem abertos.
Os criminosos utilizaram armamento pesado, como metralhadoras, fuzis e granadas. Conforme a investigação, ‘Marcola’ foi um dos homens que entraram na Nordeste Segurança. Em posse do dinheiro, o bando fugiu para Sobral, na Região Norte, onde um avião e um piloto aguardavam para saírem do Estado.
Aquela foi a segunda ação ousada de roubo da facção no Ceará. Antes, em 1999, a organização criminosa teria levado R$ 6,3 milhões da empresa Corpvs Segurança. Os dois crimes serviram de aprendizado para a facção colocar em prática o maior furto da história do País à época, ao tirar R$ 164 milhões do Banco Central, em Fortaleza, em 2005, sem ninguém ser notado. Nos anos seguintes, crimes semelhantes foram registrados em outros estados e atribuídos à mesma organização criminosa.
Acusado procurado
Um acusado de participar do roubo milionário segue foragido. O Ministério Público do Ceará deu parecer favorável à inclusão de Fábio Augusto Nogueira Fitze no cadastro da Difusão Vermelha (a lista de mais procurados do mundo) da Interpol (Polícia Internacional), no último dia 24 de setembro, após sugestão da Interpol.
Conforme o MPCE, Fábio Augusto é “acusado da prática de crimes graves e violentos, contra o patrimônio e integrante de organizações criminosas”. Ele é suspeito de cometer crimes no Nordeste e no Sudeste do Brasil e em outros países da América do Sul e já está presente na lista de mais procurados do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A defesa do acusado também não foi localizada.
Com informações do G1