Região Central: Diariamente, através das redes sociais como grupos no whatsapp até páginas do facebook e instagram, a população quixadaense é bombardeada com várias fotos e textos sobre ações de limpezas que são realizadas no município pela Secretaria de Trânsito, Cidadania, Segurança e Serviços Públicos de Quixadá, no entanto, a realidade vai além das imagens, tendo populares como testemunhas.
Em mais uma reportagem especial, o Revista Central revela alguns fatos sobre a tentativa irrisória do poder público municipal de esconder o real problema da gestão de resíduos sólidos no município de Quixadá.
Maior produtor de lixo
Aproximadamente 85 mil toneladas de lixo são produzidos por dia em Quixadá, o que dá ao município o posto de maior produtor de lixo da Região Central. Em toda a região, são estimados 357,56 mil toneladas de lixo produzidos ao dia. Para uma noção melhor, o município de Quixadá corresponde a 24% de todo o lixo que é produzido no Sertão Central do Ceará.
(Dados retirados do plano regional de gestão integrada dos resíduos sólidos para o Sertão Central e analisados pelo portal Revista Central)
Lixão de Quixadá
O terreno que durante muitos anos foi usado ilegalmente como depósito de todo o lixo em Quixadá, sempre esteve envolvido em polêmicas. Após ser fechado no ano de 2017, voltou a ser utilizado (ilegalmente) no ano de 2018, devido ao rompimento do contrato entre a Prefeitura de Quixadá e o aterro sanitário de Senador Pompeu. Com a decisão de reutilizar a área, o Ministério Público do Ceará (MPCE) interviu, sendo deferida ordem judicial proibindo, inclusive com multa pessoal ao prefeito Ilário Marques (PT), no valor de R$ 10 mil reais, caso o gestor voltasse a utilizar o local.
Em novembro de 2018, após decisão judicial, a Prefeitura de Quixadá foi autorizada a voltar a utilizar o aterro sanitário particular da empresa DFL Serviços de Limpeza Urbana e Meio Ambiental, localizada em Senador Pompeu. Neste mesmo mês, Ilário Marques retomava seu cargo como prefeito após ser afastado por suspeita de desvio de dinheiro público no serviço de coleta de lixo.
Consórcio de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos do Sertão Central
No dia 10 de maio deste ano, prefeitos da região formalizaram junto a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a criação de um consórcio para a gestão de resíduos sólidos do Sertão. O consórcio tem como objetivo atender, integralmente, os requisitos do Índice Municipal de Qualidade do Meio Ambiente (IQM) que garante 2% de repasse do ICMS aos municípios. Outro propósito bastante pertinente é a extinção de todos os lixões que ainda existem na região.
Estiveram presentes os prefeitos Ilário Marques, de Quixadá, Marcondes Jucá, de Choró e Francisco Edson de Moraes, de Ibaretama e os representantes das prefeituras de Quixeramobim, Ibicuitinga e Banabuiú, que compõem a Região do Sertão Central I. Para presidir o consórcio, foi eleito o prefeito de Quixadá, Ilário Marques (PT).
O consórcio até esse mês de setembro, ainda não teve sequer uma atividade realizada. Comparando-o com o consórcio da região metropolitana de Sobral, o atraso se torna evidente, já que o Consórcio de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos Região Metropolitana de Sobral (CGIRS) tem um site no ar onde são exibidas todas as informações sobre ações e atividades. Até então, o do Sertão Central teve sua última atividade registrada na sua formalização, em maio deste ano. Articulações ainda não foram divulgadas.
Centro Municipal de Resíduos
Foi determinado por lei que o município de Quixadá tem cinco anos para construir um Centro Municipal de Resíduos, e que nele devem ser geridos todos os resíduos sólidos produzidos no município. Quixadá como maior produtor de resíduos sólidos, e tendo como presidente do consórcio regional, seu atual prefeito, tem capacidade de construir um aterro sanitário capaz de até mesmo gerir todo o lixo do Sertão Central. Mas o que se vê atualmente, é um município incapaz de gerir o seu próprio lixo.
Para a construção do Centro Municipal de Resíduos Sólidos de Quixadá são necessários 191.459m² de área e aproximadamente três milhões de reais, este valor inclui construção e investimento operacional necessários para o funcionamento do CMRs (Centro Municipal de Resíduos Sólidos).
Em uma breve comparação, em dois anos de gastos com o transporte do lixo para Quixeramobim, a Prefeitura de Quixadá conseguiria captar mais de três milhões e cem mil reais, valor que ultrapassa o necessário para construir o CMRs.
A construção do Centro Municipal de Resíduos Sólidos (CMRs) levaria um bom período, e durante esse tempo, o lixo produzido no dia a dia precisaria de alguma solução, convém então o investimento através de emendas ou financiamento junto a Caixa Econômica Federal, por exemplo. As alternativas são variadas, e a solução deste problema é claramente viável.
Transporte do lixo
Atualmente, todo o lixo produzido em Quixadá é transportado para Quixeramobim, município vizinho. Em um contrato com o valor de R$388.800,00 reais, os resíduos sólidos deverão ser transportados durante 90 dias para o aterro em Quixeramobim pela empresa Pitu Transporte.
O valor extrapola os limites e coloca em questão o seguinte: já não passou da hora da Prefeitura de Quixadá parar com gastos absurdos com o transporte de lixo, e começar a construir seu próprio aterro sanitário?
Aterro Sanitário Regional, em Quixadá
Estudos apresentados pelo plano regional de gestão integrada dos resíduos sólidos, demonstram que Quixadá seria a cidade mais viável para receber os resíduos sólidos de municípios vizinhos como Banabuiú, Choró, Ibaretama Ibicuitinga, Quixeramobim, além do próprio lixo do município, devido seu porte e geolocalização.
As estimativas dos custos do pré–dimensionamento de um aterro de grande porte em Quixadá é de mais de R$72 milhões de reais. Os valores estimados de pré–implantação incluem, colocação, operação em um horizonte de 20 anos e manutenção. Com o alto valor estimado, fica a dúvida: qual político teria cacife para correr atrás de verbas para este grande projeto?
Indústria lucrativa
A indústria do lixo é conhecida por ser um ramo muito lucrativo, toda a cadeia que alimenta esta indústria carece de incentivos no município de Quixadá. Os catadores, por exemplos, ainda não são amparados por programas de incetivo como bolsa-reciclagem, para que impulsione este tipo de trabalho. Sucatas que poderiam comprar as produções dos catadores não recebem fomentos. E no alto escalão desta cadeia produtiva, as indústrias, não são contatadas para eventuais parcerias. Quixadá poderia lucrar com o lixo.
A primeira impressão nas ruas de Quixadá pode até ser de cidade limpa, porém a sensação que a população têm hoje é de que o prefeito tenta de variadas formas apenas “se livrar” do lixo. Limpar as ruas e gastar milhões do dinheiro público para dar “fim” aos resíduos sólidos sem um propósito definitivo, não vai resolver a problemática. Além do mais, a limpeza das vias públicas nada mais é do que obrigação diária da secretaria encarregada.
É como se você, dona de casa, limpasse sua casa e não tivesse onde descartar a sujeira.