Coluna Amadeu Filho: Tomé foi um eficiente zagueiro e respeitado pela torcida do Quixadá Futebol Clube

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Tomé, um dos mais eficientes zagueiros que o futebol quixadaense (foto: Amadeu Filho)

Numa tarde de um dia da semana naquela doce terra dos monólitos, anos 70, um craque do Quixadá Futebol Clube comparece a loja do inesquecível Zeque Roque, então presidente da equipe Canarinha para receber o seu salário de atleta  e escuta da senhora Neide Roque: “Tomé, por que você não joga de Graça, rapaz?” Tomé, não se fez de rogado e respondeu: ” Não me oponho desde que a senhora permita que eu leve roupas e calçados”. Naquele tempo, os atletas canarinhos recebiam um salário mínimo. Este fato tão interessante e até engraçado nos mostra que se jogava futebol por amor, por paixão.

Tomé, um dos mais eficientes zagueiros que o futebol quixadaense já conheceu relembra com imensa saudade este e outros acontecimentos relacionados à sua carreira como jogador profissional. Desde a infância tem verdadeira paixão pelo futebol e não esquece as recomendações da santa mãezinha, dona Ambrosina, que estava sempre a lembrar que o menino deveria estudar para ser doutor.

Quixadá nos anos 70-Tomé é o quarto pela ordem (foto: arquivo pessoal)

Aos 12 anos de idade já integrava o “dente de leite” do Bangu, comandado por João Eudes Costa e que disputou uma competição estadual chamada “Craque na Bola, Craque na Escola“. Só participava do campeonato aquele garoto que obtivesse boas notas e Tomé, um apaixonado pelo futebol, estudou para valer, pois queria jogar.

Adolescente e com raízes sertanejas, defendeu as cores da equipe do Jatobá que participou do torneio “Inter Distrital” e já chamando a atenção pelas boas exibições que fazia. Foi um dos fundadores da equipe do 13 de Maio, juntamente com Celi, Joaquim e outros abnegados que fizeram deste time um dos ganhadores de títulos na terra dos monólitos.

No ano de 1975, contando com apenas 16 anos, foi convidado e passou a integrar o canarinho do sertão que naquele momento estava retornando a nossa cidade. Somente no ano de 1976 passou a jogar profissionalmente tendo atuado em todas as partidas do torneio início e sempre com bom desempenho. Não demorou muito e ficou titular absoluto na zaga canarinha e sendo observado por times de maior expressão como Ceará, Fortaleza e Ferroviário que queriam contar com ele para reforçarem suas defesas.

Depois do Quixadá passou a jogar em equipes amadoras-Tomé é o sexto(da esq para à dir (foto: arquivo pessoal)

Não há dúvidas e o próprio Tomé admite que seu melhor ano como craque do Quixadá F. C. foi no ano de 1977, quando conquistou o carinho da torcida e o reconhecimento da crônica esportiva. Naquele ano foi incluído na seleção dos melhores e uma atuação sua contra o Ceará no estádio local e contra o América em Fortaleza quando sua bela atuação e de todo o time foi decisiva para a permanência do canarinho no certame daquele ano.

Naquela partida quando o time da terra da Galinha Choca derrotou a equipe rubra da capital por “3 X 1” numa excelente exibição. Tomé foi eleito o craque do jogo. É bom frisar que aquela equipe era respeitada até pelos chamados grandes do futebol cearense. O time base de 1977 era o seguinte: Zé Antônio, Carlos Antônio, Carlão, Tomé e Birungueta; Helano,   Nenen Mossoró e Doca; Manuelzinho, Massangana e Chiquinho Paraíba.

O zagueiro tem boas lembranças dos seus outros companheiros, como por exemplo, César ( Gaguinho), Tim, Luizinho peito de Aço,Helano, Zé de Barros  e todos os outros. Um detalhe é que naquele momento, o Quixadá ficava ativo durante todo o ano, pois além do campeonato cearense propriamente dito, tinha o torneio início e para esta competição o canarinho só contava com atletas da terra. Tomé foi e é sempre grato aos seus treinadores como Freitinhas, Zé Preguinho, Zé Antônio, Zé Nilo, Sóstenes e Dunga que deram suas contribuições para o engrandecimento da equipe do sertão central. Faz questão de dar um destaque especial ao Freitinhas, uma espécie de pai dos seus comandados que além de saber valorizar o atleta foi um dos precursores de um sistema tático que priorizava o setor defensivo. Freitinhas se adiantou no tempo, admite  Tomé com segurança.

Quixadá, anos 70: (Tomé é o sexto pela ordem)(foto: arquivo pessoal)

O seu jogo inesquecível foi contra o Ceará no campeonato de 1977, mesmo com a derrota da equipe canarinha por “1 X 0”, o zagueiro não esquece a grande atuação da equipe e o aplauso do público e reconhecimento da imprensa do excelente desempenho que teve naquela partida. Lembra com emoção de uma gravação que ouviu depois do jogo quando o premiado e inesquecível comentarista Paulino Rocha fez ótimas referências sobre ele e recomendações para que equipes da capital o contratassem.

Muitos torcedores que assistiram aquela partida lembram que Tomé marcou o temido artilheiro Ferréti, artilheiro do vozão e que tinha brilhado no Botafogo, Vasco e no Santos. Além de marcar o Ferréti, Tomé nos lembra que aquele ataque do Ceará era muito bom e diz sem nenhum medo que no gol do Ceará, sofreu um empurrão do artilheiro que inclusive fez questão de cumprimentar o craque quixadaense logo após o término da partida.

Tomé(de óculos), Carlão, Airton Lélis, Helano, Carlos Antônio, Freitinhas e Doca-anos 70 (foto cortesia do craque Helano) (foto: arquivo pessoal)

O zagueiro enfrentou grandes nomes do futebol cearense como Artur, Zé Eduardo, Da Costa, Pedro Basílio, Amilton Melo, Edmar, Lucinho, Jorge Costa e outros, mas diz com plena convicção que considera Artur o maior craque que o futebol cearense já conheceu. Jogou no canarinho até meados dos anos 80, mas não se afastou dos gramados passando a vestir a camisa de várias equipes amadoras de Quixadá e outras localidades. Chegou a atuar em equipes de futebol de salão, mas gostava mesmo era do futebol de campo onde se realizava como atleta.

Com emoção, fala que gostaria que fossem homenageados os ex-craques e treinadores da equipe quixadaense e ainda desportistas como  João Eudes Costa, Manoel Bananeira, Pio, Jacu, Zé Abílio e todos que contribuíram com o nosso futebol profissional e amador. Tomé foi considerado um dos melhores defensores do futebol cearense e só não se tornou um grande zagueiro do futebol nordestino porque amava(e ama) demais o canarinho do sertão. Se fosse para jogar em outro time que não  o canarinho, preferia ter abandonado o futebol.

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Autor

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional