Ninguém tem a habilidade com as lâminas e a navalha como ele. A seriedade e a perfeição com que executa a sua profissão chega a impressionar. Profissional sério e da mais alta dignidade e é como se diz na linguagem popular um “velho macho”, pois resiste com altivez na profissão que vem desaparecendo numa velocidade incrível. Francisco de Assis Pereira é o nome de batismo mas é conhecido carinhosamente como “Assis Barbeiro”.
A presença dos barbeiros agora nas cidades é coisa bastante rara. Bem diferente de tempos idos quando o espaço destes trabalhadores eram bastante frequentados. As novas tecnologias modificaram os hábitos das pessoas e tal aconteceu não só na terra dos monólitos mas em todos os lugares. Os salões surgiram e quase acabando por completo com a presença dos velhos profissionais do pente e da tesoura. A maioria dos homens preferem nos dias atuais, fazer a barba na própria casa.
As barbearias existem em pouco número mas jamais perderam o seu encantamento. Prova disto é que muitas figuras quixadaenses preferem os serviços destes icônicos profissionais. Há mais de 60 anos que Assis está na profissão pois começou ainda adolescente trabalhando ao lado do seu pai e professor Raimundo Pereira da Silva, que além de barbeiro, também trabalhava na agricultura e na construção, residindo naqueles anos 60 em Veríssimo, localidade do (na época), município de Choró.
A sua mãe, Ana Elisa de Sousa, queria que o menino viesse para a cidade com o objetivo de estudar e chegar até a se tornar um homem de letras. Mas o destino do jovem estava traçado e ele veio ao mundo para desempenhar o papel de mestre na arte de cortar cabelo e fazer a barba. Já pertinho do final dos anos 60, o jovem veio para Quixadá disposto a enfrentar maiores desafios pois já manejava com arte as lâminas e as tesouras.
Seu primeiro local de trabalho foi num ponto em frente ao velho mercado público,num salão de propriedade do senhor Miguel Aguiar e próximo a sua farmácia. Ficava próximo ao inesquecível bar do Zé Cazuza, nos lembra saudoso o querido barbeiro. Eram seus colegas de trabalho o Zé Simão, Zé Antônio e Seu Sitonho Alexandrino. Trabalhou neste local de 1963 a 1969 e como tratava com cordialidade a todos os clientes, foi se tornando conhecido e respeitado na cidade.
Depois, montou um salão num prédio do senhor Zé Lucas do Banabuiú, onde funciona até nos dias de hoje, a Câmara dos vereadores. No começo dos anos 70 já estava na Epitácio Pessoa, nas proximidades da fábrica de redes do senhor Benjamim e sempre conquistando novos clientes galgando o carinho e o respeito dos colegas de profissão e já considerado uma referência na arte. Em 1974 num espaço pertencente ao senhor Geraldo Ricardo, onde hoje funciona a loja do João da Sapataria, montou um espaço em melhores condições de atender aos fiéis frequentadores. Passou pouco tempo trabalhando num ponto próximo ao comércio do senhor Aloísio, o conhecido Chefe que se tornou um de seus grandes amigos.
Em 10 de outubro de 1975 passou a trabalhar no “Salão Abraão Baquit” que foi fundado pelo Dão, onde permanece até os dias atuais e mantendo a mesma energia e seriedade no desempenho da profissão que tanto ama e com a presença sempre certa de novos e velhos clientes.
No mesmo local trabalhava o Dão, Chico Calixto, Chico Ciriaco, Valdemar e Chico Cabeleira. Parece até mesmo que muitos quixadaenses seguiam Assis Barbeiro em qualquer lugar em que estivesse cortando cabelos, fazendo barba e sempre contando fatos do passado e do presente da bela Quixadá. Este dedicado trabalhador tornou-se um mestre da tesoura e da navalha e sempre demonstrando um enorme amor e respeito para com todos. Não gosta da discriminação que algumas pessoas tem com a sua profissão e a defende com unhas e dentes.
Certa vez, atendendo a um médico teve que lhe dar uma pronta resposta. O doutor falou que barbeiro vive a alisar homem e nosso Assis mandou ver: “Pior são vocês que alisam certas partes do corpo masculino. Lembra com emoção de alguns de seus clientes e amigos como João Viana da padaria, Demir lopes, Zé Lito da Ibaretama, Chaguinha, Zeca Saldanha, Amadeu do mercado, Severino Marcolino, Manu Brasilino, Cícero Brasilino, Sebastião Correia, Chico Benedito, O motorista Pelé, Chupaca, Vidal, Baltasar do Choró, senhor Lafayete, Osvaldo Segundo, Quincas Capistrano, Portela, Agenor Magalhães, Cicero Bertoldo, dentre muitos outros.
O experiente profissional também cuida da aparência de muitos jovens quixadaenses que preferem frequentar a velha barbearia e não modernos salões que hoje estão presentes em grande número. Sempre estar a lembrar que sua profissão foi um dom que Deus lhe deu e apenas cuidou em evoluir com os ensinamentos de velhos mestres como seu pai a quem muito deve. Acredita que sua profissão permite ajudar as pessoas em momentos difíceis, pois ao sentarem na cadeira do barbeiro, muita gente confia suas angústias, suas decepções, e claro, tem aqueles que vem falar de alegria como o nascimento de um filho, uma nova namorada, a vitória de seu time e muito mais.
No Choró, Assis namorou e algum tempo depois casou com aquela que se tornaria o seu anjo da guarda, Maria Conrado Pereira, uma jovem muito querida na comunidade e possuidora de bom caráter. O casamento aconteceu no primeiro dia de novembro de 1960 na capela do Choró, em cerimônia celebrada pelo padre José Bezerra. Um detalhe é que neste mesmo dia e local se deu a união pela lei de Deus do grande amigo Aloísio(O Chefe) e Naidinha. Assis e Maria Conrado são pais amorosos de Cristina, Ana Lúcia, Novinho, Antônio de Assis e Ana Paula.
O salão do nosso amigo Assis funciona como um encontro de quixadaenses de todas as idades e ali os assuntos são postos em dia e não existe diferenciação de classes e onde o calor humano está sempre presente. Fica muito feliz quando velhos clientes trazem para o seu salão os filhos e até os netos. Com ar de seriedade afirma que é com o seu trabalho que sustenta a família e construiu o sem patrimônio.