Mortes por intervenções policiais crescem 439% em seis anos, no Ceará

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Carro em que vítima estava junto com criminosos foi atingido por diversos tiros em Milagres, no Ceará — Foto: Antônio Rodrigues/DN

O número de mortes provocadas por agentes da segurança pública no Ceará cresceu 439% entre 2013 e 2018, de acordo com a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). No início da série histórica, foram contabilizados 41 assassinatos por agentes do estado; já no ano passado, o total foi de 221. O crescimento percentual estadual, em números gerais, é maior do que o ocorrido no Brasil, que teve aumento de 178,4%.

Os dados da Secretaria da Segurança Pública detalham todos os homicídios realizados por policiais desde que os casos começaram a ser contabilizados oficialmente pela gestão estadual, há seis anos.

A secretaria informou, em nota, que o aumento de mortes por policiais ocorre em razão de maior “resistência por parte de criminosos”.

De acordo com o presidente da Comissão do Sistema Prisional, Controle Externo da Atividade Policial e Segurança Pública do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), Dermeval Farias Gomes Filho, é difícil afirmar que o acréscimo de mortes por intervenção policial no Ceará é percentualmente maior do que a nível nacional. “Numericamente, ele parece um aumento grande, uma diferença bem grande do ponto de vista nacional, mas será que a alimentação tem sido feita diferente de outros estados?”, questiona.

Conforme o sociólogo Luiz Fábio Paiva, integrante do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), há uma tendência de recrudescimento das forças policiais. “Hoje, no Brasil, e especialmente no Ceará, há uma confusão em tratar políticas de segurança pública como se elas se limitassem a uma política de intervenção policial”, afirma.

Segundo o pesquisador, a gestão do atual secretário da Segurança, André Costa, oferece incremento na intensificação do poderio armado da polícia; a prova, conforme Fábio Paiva, seria o fortalecimento do Batalhão de Policiamento de Rondas e Ações Intensivas e Ostensivas (BPRaio).

“Ele [secretário André Costa] tem muita tranquilidade em dizer: ‘o meu tipo de gestão é do incremento do aparato da força militar’. Isso de fato está acontecendo, só que a consequência é essa: o aumento do número de mortes por intervenção policial.” A crítica se reflete nos números de mortes por policiais durante a gestão André Costa.
‘Justiça ou cemitério’

‘Justiça ou cemitério’

Troca de tiros entre criminosos e policiais deixou 14 mortes em Milagres; pelo menos seis pessoas mortas eram reféns de duas famílias — Foto: SVM

Desde que assumiu a Secretaria da Segurança, em janeiro de 2017, com a polêmica frase “Justiça ou cemitério” para criminosos no Ceará, mais pessoas têm sido assassinadas por agentes de segurança no estado. Desde o início da gestão, ocorreram 376 mortes por policiais. Uma média de um homicídio a cada dois dias.

Nas gestões dos secretários anteriores, nunca o Ceará teve números tão altos. No período Delci Teixeira (2015 a janeiro de 2017), a média foi de uma pessoa morta pela polícia a cada três dias e meio. Na administração Servilho Paiva (setembro de 2013 a dezembro de 2014), uma pessoa morria pelas mãos de um agente de segurança a cada seis dias e meio. Já na gestão de Francisco Bezerra (entre janeiro e setembro de 2013), o número foi o menor identificado: uma morte a cada 12 dias.

A Secretaria da Segurança informou que “o crescimento desse tipo de ocorrência está relacionado ao aumento da resistência por parte dos criminosos, que reagem às abordagens policiais nas ruas”.

Segundo a pasta, “é importante destacar que o sistema de segurança, atualmente, possui um processo de aquisição em andamento de quase 600 espingardas calibre 12, que carregam projéteis letais e menos letais. O uso desse tipo de armamento permitirá o uso de munições diferentes a depender da análise do policial durante a ocorrência”.

Conteúdo: G1