Calixto viajou de Senador Pompeu até Maracanaú, onde fica o CT do Fortaleza, para conhecer elenco do Leão. Ganha cartão de sócio, da diretoria, e camisa das mãos do técnico Rogério
Pelas ruas de Senador Pompeu, Calixto, de 51 anos, sobe e desce as ruas com o carrinho nas cores do Fortaleza em busca de plástico, lata de alumínio, tudo o que pode ser reciclado. O apurado diário costuma ser R$ 10. Mas, por um dia, o suor do trabalho deu lugar ao do nervosismo. Após um vídeo de Calixto viralizar nas redes sociais, ele realizou um sonho: foi ao CT de Maracanaú, Região Metropolitana de Fortaleza, assistir a um treino do time pelo qual é fanático: o Tricolor do Pici. E conheceu o técnico Rogério Ceni.
– Junto plástico, latinha de refrigerante, ferro, quando tem. Pego no mercantil, o povo me dá nas lojas. Agora, é um serviço que não dá para quase nada. Estou ali porque não tenho outro apelo. Só tem aquilo ali, porque não sei ler, não sei escrever… Por dia, dá 10 reais. Tem dias que eu faço 20 reais. Quando quero ir para um canto, não posso ir. Assistir a um jogo também não posso. Sou guerreiro, não desisto da luta – conta Calixto.
Antes de viajar para a capital cearense, Calixto tratou de enfeitar o corpo com fitas das cores do Fortaleza. E perdeu o horário. Só deu tempo mesmo de engolir, segundo ele, um prato de feijão com água antes de pegar o carro rumo a Maracanaú. No caminho, se sentiu mal. Mas nada que tirasse o brilho do que ainda estava por vir. O mesmo homem que às vezes precisa recorrer à televisão dos amigos para ver os jogadores no gramado agora estava ali com os olhos firmes no elenco e em Ceni. O advogado Yago Pinheiro, que também é de Senador Pompeu e torce Fortaleza, assistiu ao vídeo e ele foi o responsável por trazer Calixto ao treino.
– Eu nunca tive essa oportunidade que eu tenho agora. A minha casa lá é pobre. A antena é meio fraca. Quando não pega, fico na casa dos outros. O jogo passado fui assistir na casa de um colega meu. Quando estava nos 13 anos, já comecei a torcer Fortaleza. Me engracei das cores. Hoje, eu sou tão forte de um jeito que se o Fortaleza derrapar eu choro, eu não aguento. Eu gosto do meu Tricolor, é tudo da minha vida. Fiquei muito alegre e estou. Era o meu sonho, estou emocionado. Eu quero assistir ao jogo no estádio, nunca fui, só vejo na televisão e no rádio – declara.
Calixto conta que certa vez comprou um relógio de R$ 20, parcelado em duas vezes. Mas com uma condição: o vendedor precisava trocar o bracelete que era preto por azul. Negócio feito. Depois, em casa, pintou um detalhe de vermelho, com esmalte, nas cores do Leão do Pici. Calixto, que nunca viu um jogo no Castelão, recebeu da diretoria do Fortaleza um cartão de sócio-torcedor “Leão do Interior”. E das mãos de Ceni uma camisa do clube em alusão ao Centenário.
– Aqui está um presente para você, do Fortaleza. Essa é a nova camisa do Fortaleza, a 18, de 1918, fundação do clube. Se eu fosse você, até vestiria ela. O Fortaleza vai dar o cartão para você de sócio Leão do Interior de presente – disse Rogério Ceni, no encontro com Calixto, na última semana.
Não foi só com Ceni que Calixto conversou. Ele, que vive elogiando o presidente do clube Marcelo Paz em Senador Pompeu, surpreendeu a todos com o abraço no dirigente. Tão forte que até levantou Paz. Mas, depois do acesso à Série A e de ser campeão da Série B, não foi a Paz que ele fez um pedido, mas a Ceni. Se o estadual não parece ser prioridade diante da Série A, para Calixto ele é vital. Tudo por conta da rivalidade com o Ceará.
– O meu pedido para o Ceni, que vou fazer hoje, é que eu não aceito perder campeonato nenhum para o rival. Eu não quero perder título para eles, não. Ano passado eu chorei, fiquei dando murro nas paredes. Uma boa campanha na Copa do Nordeste, já ganhamos o primeiro e vamos longe. Temos tudo para fazer uma boa campanha e ganhar títulos – confia.
Reportagem do Globo Esporte CE / Por Caio Ricard e Thaís Jorge / G1