Coluna Amadeu Filho: A “era dos alto-falantes” na Terra dos Monólitos

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Corneta da “Solon Magalhães” continua instalada no portão do mercado ´público

Muito antes da chegada da primeira emissora de rádio na terra dos monólitos que aconteceu  no ano de 1980 (século passado), os quixadaenses tinham como principal meio de comunicação os serviços de alto-falantes, também chamados de amplificadoras ou irradiadoras. Algumas ficavam sobre os telhados, postes ou até em árvores.  Elas eram utilizadas como meio de divulgação do que acontecia na cidade como, por exemplo,  horário de missas, convites de enterro, festas que aconteciam na região, publicidade do comércio existente no espaço verdadeiramente com cara de interior. Sem esquecer, é claro,  as mensagem musicais seguidas de juras de amor eterno e sem identificar os apaixonados, baseados naquela poética máxima de “não dizer o nome para evitar confusão”.

Stúdio central da “Solon Magalhães”

Os felizes ouvintes iam para perto das cornetas e naquele ambiente de muita paz nasciam novas amizades e até amores. Nos parques de diversões as amplificadoras faziam mocinhos e mocinhas sonharem no voo das canoas ou nas viagens para perto do céu nas rodas-gigantes.

Quem consegue esquecer da irradiadora do parque de diversões do seu Pedro tocando coisas de amor. Mas esses veículos de comunicação também informavam sobre o que acontecia no mundo, as guerras, mundo político, os esportes e até eram utilizados para os protestos da população na busca de uma melhor qualidade de vida. Então, tudo isto quer dizer que antes do rádio, as amplificadoras eram uma espécie de voz do povo. Se faz necessário afirmar que também serviram como escola para aqueles que tinham pendores para a radiofonia.

As repetidoras do som em mais de uma praça chamávamos de cornetas. Podemos até dizer que antes da presença do rádio tivemos o que poderíamos denominar de “A Era dos Alto Falantes” em Quixadá.

Na década de 20, 30, funcionava na rua Rodrigues Junior, na esquina onde ficava localizada a famosa farmácia de Zé Forte uma amplificadora de propriedade do senhor Luis Pontes de Lima. Era a “LPL” e ali havia um bar chamado Mantiqueira e que era frequentado por muitos quixadaenses. Era uma atração para a época e tornou muito popular o locutor Viana Filho(Vianinha) que era reconhecido em toda a cidade.

E o vento levava para longe o som da “LPL” e muitos tomavam banho no rio Sitiá ouvindo belas melodias. As jovens que vinham pegar água nos tanques de água que existiam na cidade para encherem os potes suspiravam ao ouvir uma doce melodia de Vicente Celestino. Marcou época a amplificadora” Iracema” administrada  pelo senhor José dos Santos que alegrou durante bom tempo a terra dos monólitos e que funcionava no bairro Rodolfo Teófilo depois chamado rua da Matança e transferindo-se anos mais tarde para a rua do Prado(Tenente Cravo). Ficava  na esquina do antigo estádio Luciano de Queiroz onde, atualmente, está localizado o centro administrativo da prefeitura.

Adolfo lopes-pai da radiofonia quixadaense

Nos anos 60, funcionava na rua Tenente Cravo num ponto comercial do senhor Chico Padeiro a amplificadora “Voz do Norte” comandada pelo amante da comunicação, Antônio Anastácio da Silva, o popular poeta Paroara. Muito organizado, confiou ao senhor Edwardes Mendes de Carvalho toda a documentação do seu equipamento de comunicação. Durante muitos anos, a “Voz do Norte” foi a alegria dos moradores da rua Tenente Cravo e de outras ruas próximas. A partir de 1938, passou a funcionar o” Serviço de Alto- Falantes Solon Magalhães” dirigido pelo benfeitor quixadaense Adolfo Lopes da Costa.

Luiza Lopes-esposa do mestre Adolfo e locutora

Naquela pacata Quixadá, a voz de Luiza Lopes, Geraldo Cabral e outros locutores enchiam de alegria os corações daqueles ouvintes que pareciam sempre felizes. A irradiadora comandada pelo mestre dispunha de quatro cornetas instaladas nas praças de maior movimento. Ainda hoje, permanece no mesmo local uma dessas cornetas, exatamente no portão lateral do velho mercado público. Adolfo Lopes é considerado o pai da radiofonia na terra dos monólitos pois o seu veículo de comunicação prestou relevantes serviços à comunidade e também serviu de escola para aqueles que sonhavam trabalhar na comunicação. A “Solon Magalhães esteve em atividade até a morte de seu idealizador ocorrida em 1997. Não se pode contar a história das irradiadoras em Quixadá sem dedicar um capítulo especial ao senhor Raimundo Alfredo Teixeira, o popular e querido Poti que mesmo tendo nascido em Iguatu se tornou um quixadaense de coração e amava demais a comunicação. Ele era um adepto do rádio amadorismo e montou uma amplificadora nas proximidades da Casa Olinda e sem esquecer o fato de que ele fazia a cobertura dos grandes eventos ocorridos em Quixadá, ali pelos anos 50, 60, 70.

Raimundo Alfredo Teixeira(Poti) na cobertura da presença de Jânio Quadros em Quixadá

Poti prestou enormes serviços a terra dos monólitos através da maçonaria, do LIONS e sem esquecer que foi secretário de urbanismo no primeiro mandado do prefeito Aziz Okka Baquit(1973-1977).

Paroara-diretor da “Voz do Norte”

Ainda nos dias de hoje, temos as irradiadoras nas torres da igreja chamando aqueles que acreditam nas coisas lá do céu. Acredito não haver dúvida mesmo não sendo um historiador de que os serviços de alto-falantes são parte da memória histórica da cidade.

As amplificadores estavam presentes no cotidiano dos quixadaenses

Para montar este simples texto coletei narrações de pessoas de mais idade da cidade e também levei em conta a minha própria experiência pois acompanhei o funcionamento de parte desses pioneiros meios de comunicação. Pensei demais na atual geração que não vivenciou os tempos das amplificadoras e espero que alguns jovens realizem pesquisa sobre o assunto. Estamos, com certeza, realizando a valorização do passado. Podemos, juntos, resgatar muito do nosso passado. Acredito, mas com muita humildade, que estou fazendo a minha parte.

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Autor

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional