Não tive a felicidade de conhecer meu avô, mas, estranhamente, a saudade que sinto dele aperta e sufoca meu coração. Sua ausência tem um sabor muito amargo, mesmo tendo nascido muitos anos depois (ele nasceu em 1851). Nunca entendi o porquê de minha mãe e minhas tias sempre terem se negado a dar maiores informações sobre ele. Falam e é verdade que ser avô é também ser pai pela segunda vez e gostaria de ter convivido com este meu novo pai. Tenho muitas saudades do abraço que nunca lhe dei.
Nabor Crebilon de Sousa é o seu nome. Ainda na adolescência, ali pelos anos 60, ouvia os quixadaenses de mais idade falarem que Nabor foi um grande músico e tendo, inclusive, ensinado em diversos colégios. Comecei então a me interessar mais pela trajetória deste notável maestro e logo descobri que ele não nasceu na terra dos monólitos e sim em São Miguel-RN, aqui chegando no ano de 1888, na companhia de sua esposa Maria Angélica de Carvalho.
Meu interesse em conhecê-lo melhor aumentou muito nos últimos anos e procurei historiadores, jornalistas, artistas plásticos, enfim, pessoas ligadas à cultura. Há alguns anos, li e recortei uma matéria de autoria de Jonas Sousa, no jornal “Tribuna do Ceará” que me possibilitou um conhecimento maior de meu avô. Lembro que pedi a mamãe, a doce Itamar, uma de suas filhas e as minhas tias Maura, Maria, Baviera, Robéria e Elba, algum retrato dele e elas nada.Como ele seria? Me veio então a ideia de pedir ao talentoso artista plástico quixadaense, Waldizar Viana, um retrato falado.
Há quem diga que ele enquanto monta um retrato vê a própria pessoa, mas o pintor não confirma essa versão. Queria saber mais sobre a sua trajetória e procurei o socorro sempre necessário do memorialista João Eudes Costa que sempre atencioso foi logo me informando que meu avô lecionou música no Ginásio São José na Serra do Estevão, convidado por Dom Maurício, consagrado mestre que teve sua formação nas melhores escolas da Europa.
Me contou Eudes que vovô foi professor dos irmãos Fernando e Juarez Távora, famosos militares e políticos brasileiros no respeitado Instituto Chaves. Outras informações que me foram repassadas pelo memorialista constam ter sido a professora Maria do Carmo Lélis, a querida professora Quintina, a pessoa que guardou inúmeras partituras compostas por meu avô.
João Eudes lembrou que ele escreveu composições para coral, músicas sacras, consertos para pianos, duetos vocais, marchas fúnebres, dentre outras criações artísticas. O ano de 1918 foi a data de sua morte.
Todas essas informações estão nas páginas do elogiado livro “Ruas que Contam a História de Quixadá” de autoria do querido escritor quixadaense. Com certeza, sentirei a sua permanente presença em minha vida realizando pesquisas sobre a sua figura, sobre a sua contribuição a nossa cultura.
Sabedor de todas essas qualidades do Mestre Nabor passei a ter uma admiração bem maior e sou bastante grato aos que estudaram e divulgaram sua arte. Agradeço ao meu amigo Morvan Lobo de Carvalho que no ano de 1994 propôs o nome de meu avô para dar nome a nossa banda de música com a aprovação de todos seus colegas vereadores. Outro motivo de alegria é o fato de morar numa rua que tem o seu nome. Certa noite, tive um lindo sonho. Sonhei que estava ao lado do Mestre quando este regia a sua orquestra numa solenidade festiva no Mosteiro de Santa Cruz e professores, alunos e toda gente o aplaudiam com entusiasmo.
Reconheço que demorei bastante para perceber a importância de Nabor Crebilon de Sousa na vida cultural de nossa cidade. E mais que isso, percebi somente agora o quanto a presença de um avô é importante na formação do caráter de uma pessoa. Adoraria se ele estivesse aqui contando estórias, me ensinando a tocar algum instrumento, mas principalmente me falando de suas atividades como grande músico.
Como todo ser humano, também tenho minhas vaidades e fiquei cheio de orgulho quando jovens universitários realizavam uma pesquisa sobre o maestro e um deles, assim se expressou:” Mestre Nabor é avô do radialista Amadeu Filho”. Mas, a maior alegria que sinto agora é ser sabedor da importância de um avô na vida das pessoas. E claro, reconhecer que ele foi um construtor de nossa arte musical. Vovô Nabor sempre fará parte de minha vida!
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Colunista / Autor