“Pode entrar que a casa é sua!”. É desta forma que o advogado Francisco Chagas da Costa – (Chiquinho) acolhe aqueles que o procuram. A porta do escritório está sempre aberta e a simplicidade do cordial profissional faz com que as pessoas fiquem bem à vontade. Por algum tempo, as pessoas se sentem como se estivessem em suas casas. “Só me tratem por Chiquinho, nada de doutor!”. Simplicidade é o que mais encanta neste profissional que há muitos anos exerce a desafiadora carreira de advogado.
Quando o casal Geraldo Xavier Costa(Juvino) e Maria Agostinha Costa saíram do Rio Grande do Norte e vieram para a Terra dos Monólitos, o menino Francisco Chagas Costa contava com 10 anos. Estávamos no começo dos anos 60 e o sapateiro Juvino logo conquistou a clientela e fez grandes amizades. Ele começou a desempenhar seu ofício na oficina do senhor Teófilo, localizada próxima a atual Casa Olinda. Não demorou muito e passou a trabalhar por conta própria. Enquanto o pai trabalhava para o sustento da família, Chiquinho que nasceu em Macau-RN e não em Quixadá vivia a pureza da infância. Foi o momento das brincadeiras com os amigos mais constantes como Paulo Inácio(Cacete), Didi da Mengarda, Zé Bodega, dentre muitos outros.
A atenção para com o estudo das crianças sempre foi uma grande preocupação da mãe Maria Agostinha e era parte da rotina daquele feliz lar. A primeira professora do futuro advogado e que estará sempre em sua lembrança foi dona Neusinha e diz não esquecer quando ela colocava os alunos em fila para prestar contas sobre a sempre temida Aritmética. Se o menino (ou menina) não prestasse conta direitinho da tabuada de somar, dividir e multiplicar, era a hora daquele instrumento de punição física, a temível palmatória. Chegou a hora do Ginásio Waldemar Alcântara onde recebeu ensinamentos de Padre Clineu (era craque na Língua Portuguesa), Iracilda, Jaime, Socorro e Francy que muito lhe ajudaram a obter conquistas na vida de aluno. Sempre esteve motivado a prosseguir nos estudos mas teve que dar uma parada indo residir e trabalhar em Santa Helena-GO atendendo a um chamado do seu irmão Geraldo Costa que ali já se encontrava trabalhando no escritório da fábrica do Senhor Joaquim ventura.
O irmão e outros quixadaense que trabalhavam naquela cidade voltaram para Quixadá mas Chiquinho lá continuou e mesmo trabalhando resolveu fazer o curso de Contabilidade no Colégio Estadual Vital de Oliveira concluindo o mesmo no ano de 1979. Neste momento, alguns quixadaenses se transferiram para aquele estado indo trabalhar em uma fábrica na cidade de Maurilândia, bem próximo a Santa Helena sob a coordenação de Sotero Nogueira Lima Leite, cunhado do senhor Renato Carneiro. Chiquinho foi então trabalhar na fábrica de Rio Verde administrada por Sotero nascendo daí uma grande amizade. Ganhando a confiança de toda a equipe da fábrica, foi realizar um trabalho em Uberlândia, cidade localizada no triângulo mineiro.
Um certo dia, caminhando pelas ruas daquela bela cidade deu de cara com a presença de muitos jovens em um espaço de educação superior. Parou por algum tempo, olhou atentamente e percebeu se tratar de uma Faculdade de Direito. Apaixonado pela profissão de advogado e devorador de livros de Rui Barbosa, criou coragem e se informou do valor da taxa de inscrição do vestibular. Na verdade, essa vontade de um dia se tornar profissional vinha desde a adolescência e sabia que concretizar esta meta não era uma situação inatingível e estava mesmo disposto a ‘tirar leite de pedra’, a enfrentar os maiores obstáculos.
O jovem comunicou este desejo ao senhor Sotero que concordou e até o incentivou a fazer a inscrição e concluir o tão sonhado curso. Parece até que Chiquinho foi escolhido para seguir o caminho do Direito, pois passou por situações verdadeiramente incríveis. Interessante foi que a família em Quixadá só foi comunicada quando houve a conclusão do curso. O irmão Geraldo pensou até tratar-se de uma brincadeira quando lhe foi dada esta informação da conquista do esforçado irmão. Todos ficaram muito felizes mas não compareceram à festa devido à grande distância entre Quixadá e Uberlândia. Faz questão de lembrar da enorme gratidão que tem para com o senhor Soterro e para com um mecânico por nome de Pedro Machado de Lima que trabalhava na algodoeira de José Baquit e que muito lhe ajudou nos seus estudos superiores.
“Finalmente, agora posso afirmar que sou advogado” foram as suas palavras logo após a colação de grau. Tinha plena consciência de que não bastava a graduação mas outra luta viria mais à frente que seria a aprovação no exame da OAB(Ordem dos Advogados do Brasil). É Sabedor de que nesta profissão é necessário estudar permanentemente pois há a necessidade de se estar sempre atualizado nas questões relacionadas a área jurídica. Na verdade, o advogado deve ser um profissional atento ao que que acontece na sociedade e que impacta na vida das pessoas.
Voltou para Quixadá no ano de 1982, deixando bem feliz toda a família, mas ainda era um desconhecido para a maioria das pessoas, pois esteve ausente durante muitos anos para dar conta do trabalho e do estudo. Neste seu retorno a terra dos monólitos foi importante o apoio do senhor Lafayete que era um amigo dos mais próximos. O tão sonhado primeiro escritório localizava-se na rua Irmãos Queiroz, próximo ao cartório e em pouco tempo conquistou muitos clientes. Esteve em outros endereços mas atualmente atende na rua Rodrigues Junior já por mais de dezesseis anos e sempre mantendo uma clientela fiel.
Naqueles anos 80, a terra dos monólitos contava com poucos profissionais do Direito e Chiquinho cita Dr. Júlio Queiroz que fora juiz e depois ficou advogando durante alguns anos. Lembra quando ele e Dr. Julio se enfrentaram numa ação em que um poderoso mercantil local moveu uma ação contra um cliente muito simples, residente em Itapiúna e com argumentos convincentes foi vitorioso neste embate judicial livrando aquele senhor de uma situação muito complicada. “Foi aquele neguinho que me derrotou, ele é bom, vai trabalhar comigo!” Foi desta forma que Dr. Júlio falou para o senhor Lafayete que sabia que o jovem advogado era sempre bem informado. Se faz necessário destacar que durante alguns anos, atuou na defesa de pessoas necessitadas prestando assistência jurídica e substituindo os colegas que residiam em Fortaleza e nem sempre compareciam na defensoria pública. Atuava como “Ad-hoc“, ou seja, advogado que era nomeado para a defesa pública de um réu que comparecia a uma audiência sem um profissional para o defender.
Por ter contribuído para uma maior operacionalidade do judiciário quixadaense, naqueles anos de dificuldades neste setor, foi homenageado em um espaço que recebeu o seu nome no Fórum Desembargador Avelar Rocha. No entanto, uma lei não permitia homenagens as pessoas vivas.
Ao contrário de alguns escritórios de advocacia que apresentam um local bem elegante, o do nosso amigo se destaca e cativa as pessoas que o procuram pela simplicidade. Chama a atenção a placa que identifica o local de trabalho do estimado advogado. Nela apenas consta o nome “Dr. Chiquinho” o que dá um toque de leveza ao espaço. O relato de algumas pessoas nos mostram que ele exerce a profissão por paixão e pelo desejo de servir aos mais necessitados e que nem sempre podem pagar pelos serviços advocatícios. Para os colegas com menos tempo de profissão os orientam a se empenhar com afinco na defesa do cliente, independente do valor a ser cobrado. Sente-se feliz ao ser procurado por jovens colegas pois isto confirma que a experiência é fundamental nesta desafiadora mas atraente profissão.
Segundo o jovem advogado Saraiva Leão, quando verdadeiramente for contada a história do direito na terra dos monólitos, o nome do Dr. Chiquinho, com certeza, merecerá um capítulo especial. Muitas vezes, foi buscar clientes em lugares distantes para as audiências pois os mesmos não tinham condições de deslocamento. Não poderia deixar aquelas pessoas serem prejudicadas pelo fato de não poderem pagar as ações de que necessitavam com o objetivo de eliminar possíveis prejuízos em sua vida. Sempre procurou defender os mais humildes combatendo aqueles que se acham superiores as demais pessoas no campo do direito, pois é de praxe ser amável e atencioso para com todos.
Mesmo com todo este tempo no exercício da profissão que abraçou e com relevantes serviços prestados a comunidade, foge de ostentações e afirma com tranquilidade que jamais foi o dinheiro que o guiou na sua atuação como profissional e sim a vontade de servir aqueles que necessitam defender seus direitos. Sempre soube que o dinheiro melhora a qualidade de vida de todo profissional e lembra que isso vem naturalmente. Tem consciência de que é difícil conciliar o exercício do direito com a paixão mas é exatamente isso que deve ser a força motriz de um advogado na expressão da palavra.
Quando estava terminando a entrevista que realizei com o objetivo de produzir este texto, Chiquinho chamou-me para perto de sua biblioteca, pegou um livro de Leon Tolstói e leu em voz alta: “Não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade”.
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