Coluna Amadeu Filho: José Viana – um talento da sanfona que brilhou na terra dos monólitos

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José Viana-um sanfoneiro de muitos talentos

Durante muitos anos, José Viana foi considerado o melhor sanfoneiro da região de Quixadá e outros municípios. Começou seu aprendizado musical muito jovem na bandinha de Mestre Ayres e logo chamando a atenção dos puxadores de fole e dos que já naquela época viviam da música.  Durante muitos anos do século passado fez a alegria de gente da cidade e do sertão. Tocou nas feiras, nas festinhas familiares, num rala bucho de um chão batido e em clubes de maior porte. Os que não dançavam ficavam a olhar para aquela sanfona que fechava e se abria, abria e fechava  guiada pelas mãos mágicas  daquele sanfoneiro que era pura poesia.

E, para espanto geral ele também tocava por partitura, condição que muitos outros tocadores não tinham. Ele com certeza, dava dignidade a sanfona. Ele não nasceu na terra dos monólitos, mas no município de Pereiro em 5/12/1898, vindo para Quixadá junto com a família por motivo da inclemência da seca no ano de 1915.

Nos primeiros anos, muito trabalho na agricultura e exercendo ainda as profissões de marceneiro e pedreiro. Nas tocatas que sempre fazia lá para as bandas do Riacho do sangue(depois Frade e depois Jaguaretama) conheceu a jovem Maria Gercília Peixoto, daí surgindo um bonito namoro e depois um feliz casamento no ano de 1935, gerando desse enlace os filhos Francisca(Fransquinha), Maria(Mariinha), Pedro e Paulo(Paulinho).

Em Quixadá ampliou seus conhecimentos musicais e graças ao seu talento foi convidado para tocar na bandinha de Mestre Nanan e executando outro instrumento, o clarinete. Uma certa noite quando a bandinha estava tocando no “Cine Paroquial”, o maestro saiu para tomar um cafezinho e como o filme ia começar (era exibido com acompanhamento musical), José Viana percebendo a demora do mestre pegou no clarinete e assumiu a responsabilidade até a chegada de Mestre Nanan que ficou encantado com o talento do jovem músico. Como quase todos os artistas, passou por várias dificuldades e precisou ir a Fortaleza para trabalhar.

Na capital ficou muitas vezes tristonho por ter que tocar em lugares que não condiziam com sua condição de homem muito sério e religioso.  De Fortaleza foi para Sobral chegando a trabalhar numa pedreira e devido ao pó oriundo das pedras adoeceu dos olhos e quase cegando. Um detalhe é que na firma americana em que trabalhava não o chamava pelo nome e sim pela senha. Foi o jeito voltar para Fortaleza e começou a procurar amigos de profissão como Clementinho(conhecido como Preto) que lhe prestou muita solidariedade. Também se aproximou de Gavião e Macacão que muito lhe ajudaram no momento mais difícil de sua carreira artística. Também compunha e inclusive teve um dobrado para acordeom gravado pelo seu sobrinho neto, no caso, o aplaudido sanfoneiro Adelson Viana.

Marrinha filha do músico e seu marido Manoel

Adelson leva adiante a tradição de uma família verdadeiramente musical. Acredita-se que dois motivos o levaram  a abandonar a arte musical na década de 50(século passado): A primeira, talvez, pela desvalorização aos artistas da época e a segunda, conforme nos contou a sua filha Mariinha, foi quando o músico estava tocando na Aliança Artística e Proletária de Quixadá aconteceu um triste episódio que o deixou chateado e decepcionado: Ele estava executando uma valsa e logo que terminou um dançarino aproximou-se e pediu bis, foi quando outro dançarino(desafeto do solicitante) não aceitou o pedido e aí começou uma briga resultando de um deles cair esfaqueado aos pés do sanfoneiro, causando-lhe um grande susto e transtorno.

Esta deve ter sido uma das causas que o fez abandonar a arte musical. Muito conhecido pelo seu caráter e capacidade conseguiu tempos depois arranjar emprego no DNOCS e foi trabalhar em Banabuiú como marceneiro.

Como funcionário público aposentou-se e foi, definitivamente, morar em Fortaleza. Como organista da igreja N.S. do Perpétuo Socorro, no bairro Carlito Pamplona. José Viana marcou sua última atividade como músico. Faleceu em Fortaleza em 26 de maio de 1978. Apesar de ter nascido em Pereiro, adotou Quixadá como a cidade do seu coração e esta o recebeu de braços abertos para enriquecimento de sua cultura musical.

Na terra dos monólitos temos a travessa Irmãos Viana numa justa homenagem ao grande músico José Viana e seus irmãos Raimundo e Antônio também grandes talentos da arte musical. O consagrado músico e artista plástico Waldizar Viana  afirma que os quixadaenses, especialmente os mais velhos, não esquecem a arte dos inesquecíveis músicos. José Viana sempre será lembrado como um sanfoneiro de primeira grandeza e também pela pessoa amiga que foi de todos aqueles que tiveram o privilégio de conviver com ele.

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Autor

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional