Situada a pouco mais de 160 quilômetros de Fortaleza, Quixadá tornou-se cenário de grandes produções cinematográficas. Filmes como A morte comanda o cangaço (1961), “O Auto da Camisinha”(2009), Área Q (2012), Cine Holliúdy (2013) e Shaolin do Sertão (2016) tiveram cenas gravadas no município.
Já foram mais de 50 produções, entre longas, médias e curtas-metragens; videoclipes e até filmes experimentais. As belezas locais – independente do clima encontrado – como as imensas formações rochosas e a luz, além de ruas de época, são um atrativo para diretores e produtores.
Quixadá recebeu sua primeira produção em 1960, com o filme O Quinze, adaptação de livro homônimo escrito pela cearense Rachel de Queiroz. Desde então, outros filmes foram rodados na cidade e, ao longo dos anos, o avanço tecnológico, logístico e hoteleiro facilitou a chegada de pessoas de todo o Brasil, principalmente aquelas que viram no local a possibilidade de executar seus roteiros sem que se façam necessários efeitos especiais usados em grandes produções.
Única produtora cultural de Quixadá, Edna Letícia enfatiza que a procura pela cidade nos últimos anos tem sido frequente, o que não acontecia cerca de dez anos atrás, quando as condições da estrada de acesso ao município eram péssimas e não existia em Quixadá uma rede hoteleira com estrutura razoável para receber as equipes de filmagem.
Embora a realidade seja diferente de 10 anos atrás, diretores, líderes de projetos culturais nas áreas do audiovisual e de teatro, produtores e estudantes reiteram que ainda falta muito para a cidade se tornar referência em produção cinematográfica. Os profissionais reconhecem que, em tempos de filmagens, Quixadá se movimenta economicamente. Bares e restaurantes são ocupados por turistas, o famoso açude Cedro recebe visitantes, porém não há políticas públicas específicas que incentivem a continuidade dessas atividades.
Hoje, a área urbana está perdendo seus traços históricos.
Casas e prédios antigos, cenários atrativos para as filmagens, estão dando lugar à modernização, e nenhum projeto foi criado no sentido de preservar os imóveis. “O barulho constante de motos torna as gravações nas praças inviáveis.
Existem locais que, mesmo com a intervenção da prefeitura, a população não respeita”, destaca Halder Gomes, diretor dos filmes Área Q, Shaolin do Sertão e Cine Holliúdy, rodados na região.
O secretário de Cultura de Quixadá, Audênio Morais, ressalta que, em 2017, a gestão municipal ofereceu apoio logístico, hoteleiro e de alimentação para a única gravação feita na cidade desde o momento em que assumiu a pasta. Mas ele admite que, por hora, não existem leis ou políticas públicas incentivando a produção de cinema local.
Um dos poucos projetos audiovisuais na cidade é o Núcleo de Pesquisas e Experimentos Audiovisuais (Navi), do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE)/Campus Quixadá. O espaço é um projeto de extensão que surgiu da necessidade de trazer a discussão acerca do desenvolvimento de políticas públicas para o setor. O projeto já capacitou mais de 100 pessoas desde que foi criado.
“Existe um grande talento aqui para a produção cultural e produção audiovisual, mas eu acho que falta o Estado e outras instâncias governamentais em nível municipal e federal também terem sensibilidade pra perceber esses talentos”, enfatiza Geraldo Cavalcante, coordenador do Navi.
(Ana Rithielly Teixeira é estudante de jornalismo e desenvolve pesquisa sobre a produção audiovisual no município de Quixadá)
Informações do jornal O Povo