Alegria, entusiasmo, gosto pelo trabalho, esperança e otimismo sempre presentes e a preferência em estar sempre perto da família e dos amigos, são os fatores principais que levaram Francisco Moreno Pinheiro a chegar de uma forma bem tranquila aos 100 anos de idade. Chegar a esta idade é para poucos e por isso mesmo a família considera como um prêmio a uma pessoa que sempre foi bondosa, pai amoroso, honesto em seu trabalho e como sabem os seus amigos, apaixonado pelas coisas da vida como gostar de futebol(ele ama o Quixadá Futebol Clube), carnaval, serestas, cinema, tempo de eleições e tudo o mais que lhe proporcione alegria.
A sua vontade de viver sempre foi incontrolável e até quando reunia forças o mundo para ele sempre foi uma festa. Verdade que a sua independência motora já não está tão presente, mas o gosto pela vida é o mesmo. É bastante difícil não gostar de uma pessoa que sempre encarou a vida com leveza e um otimismo a toda prova.
Quase sempre estava nas praças naquele Quixadá cheio de paz e felicidade e sempre participando de atividades ligadas ao esporte e ao entretenimento sendo presença certa no espaço administrativo de clubes sociais como o Comercial, o Avante e outros. Passava grande parte do dia no Avante e era o gritador oficial dos bingos que ali aconteciam e chamava a atenção dos presentes pela forma como apresentava os números, como por exemplo: “Pingo no pé 9 é”; “22, os patinhos da lagoa” e quando ditava a pedra 66 todos os presente davam aquela gostosa gargalhada pela eloquência como ele falava este número.
Não apenas comparecia aos jogos do Quixadá mas sempre ajudou na manutenção do seu querido Canarinho. Aquelas imagens das tabuletas produzidas por ele anunciando os jogos do seu querido time espalhadas pelos cantos da cidade ainda permanecem na retina dos quixadaenses de mais idade. Imagens de um passado feliz que não voltará jamais, é bem verdade.
Pouca gente sabe que este jovem centenário não nasceu na terra dos monólitos e sim em São Miguel-RN. Veio para a cidade que o adotaria como filho em meados dos anos 30 (século passado) com o objetivo de trabalhar no armazém de algodão do seu tio Cícero Moreno. Sempre trabalhando com afinco em pouco tempo conquistou a confiança do seu tio que lhe confiou as mais diversas tarefas. Sempre trabalhando com muita dedicação, quis Deus em sua infinita bondade e misericórdia presentear Chico com uma mulher que lhe desse apoio, segurança e iluminasse os seus dias.
O nome desta mulher(ou seria um anjo?) é Eunice. A proximidade entre os dois se deu por conta de trabalharem na mesma rua não demorando muito a se tornarem grandes amigos. Como falam os poetas, um grande amor nasce de uma forte amizade e foi assim que se tornaram namorados e cinco anos depois unidos pela lei de Deus. Ele trabalhava no Armazém e ela na fábrica de rede do Senhor Juvêncio e em frente havia o ponto de merenda do Raimundo e ali bem na hora do lanche o coração dos dois batiam mais forte.
A noite na praça da velha matriz era sempre muito animada com as novenas, as quermesses, o cherinho de pipocas no ar e as canções que brotavam do Serviço de Alto-falantes de Adolfo Lopes faziam arrepiar o coração de jovens cheios de sonhos. Um simpático baleiro levava balas para a jovem Eunice como oferta de um jovem apaixonado. No ano de 1955 aconteceu o tão sonhado casamento na capela do Choró, com as bênçãos do Padre Zé Bezerra.
Eunice nos lembra que neste mesmo dia e local aconteceu o casamento dos amigos Zé Maria Maia e Antonieta e como afirma foi um dia especial na vida de todos. Desta abençoada união nasceram os filhos João de Sousa Moreno (Django), Del Vecchio e Neivaldo, razão maior da existência do casal. Tantos anos já vividos permitiu a este pacato cidadão ter presenciado fatos que contribuíram para o desenvolvimento de Quixadá.
Quando aqui chegou administrava a cidade o Senhor José de Queiroz Pessoa (1936-1943), logo fazendo amizade com o mesmo. Há poucos anos, Chico Moreno nos contava que lembrava muito bem da construção da Praça Coronel Nanan e que muitos benfeitores ajudaram neste empreendimento como seu tio Cícero moreno, Fausto Cândido, Hercílio Bezerra e outros. Nos contou que muitas vezes comprou remédios na farmácia Solon Magalhães que ficava na praça José de Barros para familiares e amigos. Nunca esqueceu da alegria que ele e toda população sentiu com a inauguração do novo sistema de iluminação pública nos anos 50(século passado), muito embora não houvesse fornecimento de energia durante o dia.
Chico esteve presente na inauguração do Abrigo próximo a estação ferroviária na administração do senhor Hemínio Dinelly(1951-1955) e sempre lembrava do grande movimento com a chegada e saída dos trens. Vibrou de alegria com a vitória do seu amigo José Linhares da Páscoa que administrou Quixadá de 1967 a 1971 e esta forte amizade durou a até a morte do amigo em 1995. É difícil precisar o grande número de amigos que Moreno conquistou não importando a que classe social pertencia. Mas, com certeza, as suas companhias na maioria das vezes estavam ligadas a duas paixões de sua vida, casos do Avante e Comercial Clube. Neste último, conviveu com Chico Gildo, Luis Capistano, Nequinho, Nenen Dias, Raimundo Costa, Raimundo Mesquita, Chico Moreno, Milton Barbosa, Zé Rolim, Zé Hélio(Vein), Osmildo Pereira, José Carlos Alves, Zé Maria Libório e outros.
Nos contou a simpática Eunice que Chico algumas vezes sonhar como se estivesse conversando com os amigos como o Copinha, Leal, Dr. Rui Maia, entre muitos outros. Sofreu muito com a partida para a eternidade do seu amigo Edinho no ano de 2003 e disse que Deus queria seu amigo na companhia dele. Fazer o bem, ser bom, são as maiores virtudes de Chico Moreno que na sua vida centenária não se tem notícia de ter endurecido o seu coração para com alguém.
Os filhos Django, Del Vechhio e Neivado não se cansam de afirmar que ele é o melhor pai do mundo e da mesma forma, os netos o consideram um avô nota 10. Para a família e os amigos a sua presença é uma grande alegria e um conforto incomparável. As lições de vida que Chico Moreno nos apresenta são emocionantes. Sempre trabalhou duro para que nada faltasse a sua querida esposa e os meninos e mesmo tendo estudado muito pouco sempre se esforçou para que todos frequentassem a escola.
Com a ajuda de Eunice os meninos aprenderam a lutar pelos seus sonhos, a buscar seus espaços no mercado de trabalho. E todos, pais e filhos, fazem esta viagem na imensa jornada da vida. Depois que o seu tio Cícero Moreno faleceu passou a trabalhar no armazém do senhor Marcone, ali permanecendo por vários anos. Nunca pensou em parar de trabalhar e quando deixou de trabalhar nesses locais passou a vender dindins nas escolas, em especial, no Colégio Valdemar Alcântara.
100 anos de Chico Moreno é mesmo para se comemorar e com muita alegria! Então, a família organizou uma festa exatamente no clube do seu coração, o Comercial Sport Clube. As netas Nídia e Lívia contando com a colaboração do restante da família se empenharam com muita dedicação para que o evento acontecesse. Foi uma bela e emocionante comemoração e Chico Moreno era só felicidade sorrindo para todos que foram abraçá-lo. Seu coração transbordava de alegria ao ser abraçado por muitos amigos quixadaenses e pelos familiares, inclusive alguns hoje morando em outros estados como os irmãos Nivaldo e Maria do Carmo, além de sobrinhos e netos. Eunice, o seu verdadeiro anjo da guarda lembrava que encontrou ao lado dele mil razões para acreditar que o amor pode ser para toda a vida. Ele, na verdade, levou uma chuva de amor de todos os presentes e merecidamente, pois quem foi que dedicou toda a vida ativa a família e aos amigos? Quem foi que sempre lutou com dignidade enfrentando mil obstáculos para que nada faltassem as pessoas que ama?
Chico Moreno nos mostra que a longevidade é uma bênção e por isso comemora ao lado dos familiares este presente vindo do Criador. Nas vezes em que fala sobre os segredos de tantos anos de vida, afirma com muita sabedoria: “Gostar da vida, da família e dos amigos e perdoar aqueles que falharam com você. Parabéns pelos 100 anos, amigo Chico Moreno. A festa não é só sua e da família mas de todos nós quixadaenses que gostamos muito de você.
Há 100 anos este mundo ganhou um presente valioso que foi este ser humano maravilhoso por nome de Francisco Moreno Pinheiro a quem tanto respeitamos e gostamos até demais.
____
Autor