Nos anos 60(século passado) a terra dos monólitos ainda era uma pequena e pacata cidade. Aos poucos, no entanto, foram surgindo algumas benfeitorias como a inauguração dos Colégios Estadual e Municipal na área educacional. Tivemos o surgimento do bairro Campo Novo, a construção de um novo estádio de futebol e o tão sonhado hospital. Neste contexto, a juventude local absorveu e incorporou em suas vidas um movimento musical que transformaria suas vidas. Nos velhos rádios “Semp” os acordes dissonantes da “Jovem Guarda” explodia pelos cantos das casas da pequena, mas já uma bela cidade. Ao lado da música, os brotinhos vestiam a moda do período e velhos ritmos eram substituídos pelas músicas dançantes de Renato e Seus Blue Caps, Fevers, The Jordans, Golden Boys, Roberto Carlos, Paulo Sérgio e outros ídolos.
E, depois da missa celebrada pelo Padre Dourado, os jovens iam para as tertúlias e dançavam coladinhos com aquele som celestial que saiam de pequenas radiolas, muitas vezes compradas na “Zélia Modas“. Havia poucos televisores na cidade e nos dias do programa “Jovem Guarda“, todos parecendo de uma mesma família, ficavam vibrando com as canções de Roberto e sua turma. Na casa do simpático casal Aureliano Ferreira(O conhecido Lar) e a doce Claudina, os meninos faziam a festa transformando aquele espaço familiar num palco da “TV Record” e um objeto da casa podia se transformar num instrumento musical. Para aquelas crianças de talento precoce, um cabo de vassoura se passava pela guitarra de Renato Barros; uma caixa qualquer era como se fosse a bateria de Lécio dos “Fevers” ou de Netinho de “Os Incríveis”. Os meninos imitavam Roberto, jerry, Elvis e as meninas Wanderléa, Martinha, Rita Pavonni. Ali naquele espaço cheio de felicidade morava uma família musical.
Aquela casa simples foi o próprio berço da vitoriosa carreira musical dos irmãos Ferreira: Zé Maria, Django, Tito Ferreira e o inesquecível Nonato. Maria José, Rosa Lopes e Ângela Maria também tinham veia artística mas preferiram seguir outros caminhos profissionais. Estes simpáticos irmãos são astros que muito engrandecem a cultura musical da terra dos monólitos levando bem longe o valor artístico de nossa gente.
Pessoas ligadas a esta simpática família afirmam que eles seguiram os passos do pai que era um craque no pandeiro, um ritmista dos bons, seguidor dos passos de Jackson do Pandeiro e que fazia parte de grupos regionais que tocavam na cidade e nos sertões do município. O saudoso Nonato que fez a grande viagem em 21.04.2009 foi um baterista de muito talento e também vocalista de muitos recursos. Nonato impressionava quando estava tocando e sempre atraia a atenção do público pela apurada técnica e criatividade e ainda se destacava como compositor com suas criações sendo interpretadas por grandes nomes da canção cearense.
Começou sua trajetória no grupo musical “Skema” pertencente ao Gola que lhe deu todo o apoio para crescer como músico. Em seguida, foi para “Os Dragões”, comandado por Zé Raimundo substituindo o baterista Airton que havia falecido. Um detalhe é que ele começou carregando os instrumentos da banda e nas horas de folga, corria para a bateria e ficava estudando o instrumento o que chamou a atenção de músicos mais experientes. Um detalhe que merece registro é que certa vez ele substituiu o baterista de um consagrado grupo de Recife e encantou a todos.
Recebeu uma boa grana e separou logo o dinheiro de sua querida mãesinha. Chegou a tocar ao lado de Chico Justino e fez parte durante algum tempo da “Forró Maior” e por último a banda “Veneno“. Nonato era bastante requisitado em Fortaleza, tendo inclusive acompanhado Beto Barbosa em diversas apresentações, Luiz Caldas, Martinho da Vila e muitos outros. Nonato morou e trabalhou durante alguns anos em Cascavel fazendo parte da banda veneno e se tornou professor de música atendendo em especial o público infantil. Ao adoecer, voltou para a terra dos monólitos que tanto amava. Infelizmente, sua convivência com a família e os amigos foi muito pequena, pois logo viria a falecer. Além de astro de primeira grandeza era uma pessoa de muito caráter, bom filho, bom irmão, amigo prá valer.
Nos contou o seu irmão Tito e com lágrimas nos olhos que ele chegou a comprar um quarto com a estrutura necessária para ele morar. Ele tinha essa virtude de se preocupar sempre com as pessoas o que o tornou uma pessoa bastante querida. Faz-se necessário lembrar que Nonato fez parte da primeira equipe de locutores da pioneira Rádio Uirapuru. Com certeza, Nonato estará sempre na lembrança dos familiares e amigos. A outra fera desta divina família musical é Django Adjaci, craque no violão e outros instrumentos, além de uma voz belíssima e convincente.
Sua primeira formação musical foi na banda de música e depois participou de vários grupos musicais de destaque no cenário artístico cearense como: Clip Show, Banda Vôo Livre, Grupo Magazine, Orquestra Anos Dourados, Só Prá Pagodear, Bandazul, Black Banda, Sambazip, Quixote e Vixe Maria. Depois de participar destes grupos, Django resolveu alçar vôos sozinho e atualmente é um dos mais requisitados para festas barzinhos. Tony Remelexo é outro astro que dispensa adjetivos, bastando apenas afirmar que é um músico de muitos recursos, se destacando na percussão, mas sem abrir mão de se aprofundar em outros instrumentos. Sempre chamou a atenção o fato do Tony não se contentar apenas em tocar, mas conhecer com profundidade os instrumentos que lhe chegam às mãos. Sempre organizado, quando vai para a bateria, organiza com muito carinho os pratos, pedais, baquetas e este seu profissionalismo sempre foi exaltado pelos donos dos grupos musicais.
Este qualificado músico já passou pela Banda Municipal, Vôo Livre, Aquarius, Banda Cara do Brasil, Orquestra Os Brasas”. Atualmente, faz música ao vivo sendo convidado para se apresentar em diversos eventos. O talentoso e simpático Tito Ferreira desde cedo demonstrou que nasceu para a música se apresentando em colégios da cidade juntamente com os irmãos. Bem jovem ainda foi convidado a integrar grupos musicais pois se mostrou um intérprete refinado e um astro cheio de energia que contagiava a todos. No clímax da juventude, chegou a ser disputado por bandas de outros municípios mas jamais admitiu se afastar de sua amada terra dos monólitos. Tito esbanja talento não só em ritmos ligados ao movimento “Jovem Guarda” mas é capaz de interpretar com a mesma maestria boleros, sambas e outros ritmos.
José Maria Ferreira, o mais experiente dos irmãos, desde a adolescência gasta seu talento chamando a atenção de músicos profissionais e do público com sua privilegiada voz e uma presença de palco marcante. Começou a cantar e encantar quando servia o exército em Crateús chamando a atenção de consagrados maestros. Quando retornou para Quixadá foi convidado por Dudu Viana, líder do antológico grupo “Os Monólitos” para integrar a banda, logo transformando-se em sua principal atração.
A apresentação de José Maria nas festas tocadas pelo “Os Monólitos”, às vezes incorporando performances teatrais, chamava a atenção em todas as cidades em que a banda se apresentava, especialmente quando cantava canções do repertório de Wilson Simonal, um dos cantores mais populares dos anos 60 e 70. Seus astros inspiradores foram o cantor e dançarino americano James Brow e Tony Tornado, o ícone da música Black no Brasil.
Em 1976 começou a fazer parte dos quadros do BEC(Banco do Estado do Ceará), se afastando do popular grupo, mas continuou ligado ao mundo da música e sempre que possível, realiza apresentações sozinho ou com os irmãos. A sua popularidade sempre continuou em alta e ficou conhecido em toda a cidade como “Zé Maria do BEC”. Se faz necessário afirmar que além de talentosos artistas, os Irmãos Ferreira são pessoas da mais alta dignidade e bastante queridos na comunidade. Zé Maria, Django, Tito Ferreira são referências, assim como Nonato também o foi, para a nova geração de músicos quixadaenses.
Os Irmãos Ferreira são um patrimônio da terra dos monólitos o que muito nos alegra pois cada um de nós também somos seus fãs e amigo próximos. Salve, salve os Irmãos Ferreira.
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