A terra dos monólitos é uma das mais bem servidas na disponibilidade de transporte de passageiros que se deslocam para várias partes do Brasil. Destacadas empresas de ônibus atendem pessoas que desejam se dirigir aos mais diversos destinos. Aqueles que necessitam viajar a capital cearense têm a disposição muitos horários e durante todo o dia. Tão diferente daquele Quixadá dos anos 60 do século passado quando apenas duas viagens, nos horários de 5:00 e 14 horas aconteciam e somente uma agência fazia o atendimento.
Localizava-se na Avenida Plácido Castelo, onde hoje funciona uma ótica nas proximidades da rodoviária. O chefe da agência, cargo que conseguiu depois de alguns anos apenas como funcionário sempre trabalhando com seriedade e honestidade foi ocupado pelo esforçado jovem José Viana de Sousa, nascido no então distrito de Serra Azul em 25.01.1925.
A forma carinhosa como tratava os passageiros e a todas as pessoas da comunidade fez com que ficasse conhecido em toda a região como “Zezinho da Agência“. Aquele local não se limitava a receber passageiros, mas muita gente ali comparecia com o objetivo de pegar jornais e revistas que vinham da capital e traziam as informações do que se passava no mundo todo. A agência pertencia à empresa Redenção, pioneira no transporte de passageiros, fundada no ano de 1936 pelo patriarca José Guilherme da Costa com o objetivo de fazer a linha Fortaleza/Redenção, inicialmente em apenas um horário. A partir do ano de 1957 passou a explorar a linha Quixadá/Fortaleza e merece destaque o fato de não acontecer viagens em tempo de invernos rigorosos. Um detalhe que merece destaque é o fato de que o fundador da empresa cuidava pessoalmente em resolver os problemas ocorridos nas viagens.
O Senhor Guilherme, falecido em 1986, tinha grande consideração ao querido Zezinho, inclusive dando-lhe carta branca para resolver os problemas na filial da terra dos monólitos. O senhor Ludgero Guilherme, irmão do pioneiro e que fez nascer à empresa Redentora, também depositava grande confiança no agente quixadaense. Com o passar dos anos, o movimento na agência aumentou de forma considerável e foi aí que o filho de Zezinho, o Lucivaldo, passou a trabalhar naquele local. Ali, meados dos anos 60, a cidade crescia a passos largos surgindo novos bairros, como por exemplo, o Campo Novo, além da ocupação de vários espaços por pessoas que vinham inclusive de outras partes do Ceará.
Ao sair do trabalho, Zezinho gostava muito da convivência com os amigos e uma de suas brincadeiras prediletas era colocar apelidos, mas apenas naqueles mais íntimos. Gostava de participar de serestas com os amigos e ouvia com atenção àqueles tristes acordes produzidos pelo violão do amigo Ribamar Ribeiro e do bandolim mágico do Mestre Adolfo Lopes. Algumas vezes, se arriscava a cantar uma música de Nelson Gonçalves, mas reconhecendo não ter talento para a arte de cantar.
Quando dispunha de tempo frequentava o Cine Yara somente na exibição de filmes com Oscarito, Grande Otelo e Zé Trindade. Gostava muito e aplaudia o bloco dos sapateiros e o icônico “Foliões da Bossa Nova“, comandado pelo brincante Zé Pereira. Sempre lembrava gostar do natal e, na verdade, todos os anos ele participava dos natais na praça, visitando as barracas, especialmente as da dona Luiza Lopes. Enfim, era uma pessoa que gostava de estar perto da família e dos amigos e, quando podia, ajudava aqueles que enfrentavam algumas dificuldades. É do conhecimento de quantos o conheceram o fato de conseguir passagens para aqueles que não tinham condições de pagar. Zezinho foi casado com a bondosa senhora Margarida Rodrigues de Sousa e desta abençoada união nasceram os filhos: Lucia Eleide, Lilrene, Lucivaldo, Teresa Lucielne, Lucinaldo, Lucimary e Lucineuly.
Conhecendo um pouco da figura de Zezinho da Agência estamos permitindo aos mais jovens aquele gostinho saboroso de conhecer um Quixadá lindo e maravilhoso que não viveram, mas agora conhecem um pouco. Aos de mais idade, a saudade daquelas demoradas, mas divinas viagens até Fortaleza.
Nós, os quixadaenses, sentimos saudades daquele Quixadá ainda pequeno, é bem verdade, mas tínhamos tudo para ser felizes. Hoje, a violência e outros fatores negativos roubam a nossa verdadeira alegria. Só nos resta fechar os olhos e lembrar daquela cidade que mais parecia o céu aqui na terra. Com certeza, lembrar da figura de Zezinho da Agência é ser transportado a um tempo em que tínhamos fé nas pessoas, onde a bondade, a honestidade, o caráter era como se fosse uma lei a ser cumprida.
José Viana de Sousa, o inesquecível Zezinho foi chamado por Deus para outras missões que lhe foram confiadas em 7.05.1980 e o seu sepultamento ocorreu sob grande comoção, pois a todos conquistou com sua humildade, sua alegria e um grande amor a família e aos amigos.
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