Coluna Amadeu Filho: Francisco Wilson de Almeida, o popularíssimo Cuã foi um exemplo de garra e dedicação à família

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Que maravilha morar numa cidade onde todos se conhecem e parecem pertencer a uma única família. A alegria sempre presente e os amigos unidos como se estivessem sempre a querer uma paz infinita. As casas das pessoas pareciam não ser tão distanciadas e esta gente passava a impressão de ser sempre descomplicadas. Nas praças e em outros espaços, as conversas  sempre bem animadas. E a solidariedade era a marca maior desta gente. Os mais moços, certamente, terão alguma dificuldade em entender que estamos sim, falando de nossa bela Quixadá. No entanto, aqueles de mais idade sabem muito bem e têm absoluta certeza de que em anos já vividos nossa amada cidade era a mais perfeita tradução de uma cidade verdadeiramente feliz. Nos espaços da terra dos monólitos de décadas passadas circulavam pessoas com aquele cheiro de bondade e uma alegria sempre contagiante dando um toque de encantamento aqueles tempos mágicos.

 Chama bastante atenção o fato de que não faz tanto tempo assim em que a dona felicidade fez morada na bela cidade. Para suavizar um pouco a nossa imensa saudade daquele doce Quixadá, vamos focalizar um ser humano maravilhoso cujos traços marcantes foram à alegria de viver e uma vontade sempre presente de ajudar sem querer nada em troca. Pertencente a família pioneira da terra dos monólitos, Os Papaemas, Francisco Wilson de Almeida (nascido em 01.10.1941) conhecido popularmente por Cuã foi um cidadão que a todos conquistou com o seu jeito amável e sempre prestativo. Ele tirou leite de pedra, ralou a vida toda e já aos dez anos ajudava os pais Vicente e Ana Queiroz nas despesas do lar. Quando o senhor Vicente adoeceu foi ele que cuidou da família trabalhando exaustivamente.

Devido às necessidades de trabalho e estudo, toda a família saiu de Serrote Vermelho e veio para a cidade. Nos primeiros anos da adolescência era encarregado de levar marmitas de alguns trabalhadores da fábrica do Senhor Aziz e assim tinha garantido algumas economias. Com o pouco que ganhava garantia a merenda das irmãs que estudavam no Grupo José Jucá e outras despesas da casa.

No começo dos anos 60, passou a trabalhar na sorveteria do senhor Nivaldo e em pouco tempo se tornou uma referência na produção de picolés. No entanto, teve que abandonar esta atividade que estava lhe causando problemas nas mãos. Consciente de que não dispunha de um estudo que lhe permitisse uma situação melhor no trabalho resolveu encarar a vida através de um esforço enorme tendo inclusive que trabalhar em outras cidades. Trabalhou durante algum tempo na “Esmaltec” em Fortaleza e sempre fazia questão de lembrar que conviveu e até trabalhou em algumas situações ao lado do empresário Edson Queiroz. Poderia ter continuado na empresa, mas a saudade da família e do seu Quixadá querido foi bem mais forte.

Sempre muito querido pelo casal Nivaldo e Cleide voltou a trabalhar na sorveteria, pois tinha que continuar cuidando de sua amada família. Passado alguns anos, trabalhou ainda como vendedor de loterias. Uma marca muito forte dele era fazer amizades. Eram muitos os amigos, em especial, o casal Edilberto e Liduina que muito sofreu quando da partida do bom homem. Foi em Baturité nas festividades de Nossa Senhora da Palma que conheceu aquela que se tornaria o seu anjo da guarda, a bondosa Ermita que além de ser uma dedicada esposa, se tornaria uma grande amiga da família e era uma pessoa muito querida por todos. A senhora Neusa,  irmã de Cuã, nos contou que o amor entre eles era tão bonito que quando Ermita foi chamada por Deus nunca mais  ele entrou na casa em que o casal morava. Alugou uma casa mas,  pouco tempo depois, foi morar com o seu filho Ermilson. Se referia a sua querida Ermita como “o porto seguro de minha vida”. Como quase todo mundo, teve seus momentos de dores como o enfrentamento ao vício do álcool que segundo depoimento de familiares lhe causou sérios problemas de saúde. Vale destacar o fato de que jamais o vício lhe tornou uma pessoa sem compromisso com a família e o trabalho.

Não só as pessoas próximas ao Cuã, mas todos que o conheceram sabiam que o motivo maior de sua vida foi sem dúvida, cuidar da educação de seu filho Ermilson que dizia ser seu amigo verdadeiro e companheiro, especialmente depois do falecimento da querida Ermita. Afirmava para os amigos mais próximos que ele enfeitava a sua vida. Aumentou seu ritmo de trabalho com o objetivo de pagar o colégio do querido filho que sempre estudou em boas escolas. Mesmo sem ser possuidor de um nível educacional satisfatório, sabia que a conquista de um diploma por parte do filho era muito mais importante do que fortunas. Ia de um lado a outro da cidade vender bilhetes da loteria e assim ganhar o suado dinheirinho com o objetivo de pagar as despesas escolares do esforçado aluno.

O sobrinho Marliano e a irmã Neusa não esquecem Cuã

Quando Ermilson conquistou a tão sonhada graduação fez questão de abraçar o esforçado pai que emocionado lhe falou “Meu filho, eu vivo por você que é a minha vida!” Quando Cuã foi morar com Ermilson ouviu emocionado que a sua presença foi a melhor coisa que aconteceu com ele, sua esposa e os filhos, pois ele era um guia para toda a família, um exemplo a ser seguido. Hoje, o filho de Cuã é professor em destacados colégios da cidade e sempre lembra que agradece a Deus todos os dias por ter tido a oportunidade de ter um pai tão maravilhoso. Ele sempre estará conosco, todos os dias, foi o melhor pai do mundo, é meu super herói sempre, sempre, nos assegura o jovem professor. Foi uma pessoa pobre que lutou com muitas dificuldades, mas nos deixou a herança mais rica que foi o exemplo de caráter, honestidade e uma alegria sempre presente.

Francisco Wilson de Almeida, o queridíssimo Cuã, partiu para o convívio das estrelas em 26.01.2007 e por ter sido uma pessoa boa, batalhadora, sempre alegre, pura de coração e de espírito não será esquecido pela família e os amigos. Não temos dúvida de sua entrada no reino celestial sob os acordes do coro angelical, pois enfrentou com altivez os momentos de sofrimento e soube ser grato pelas conquistas que obteve, sempre com muita dignidade. É de suma importância conhecermos trajetórias de vida como a de Cuã, não só por termos uma ideia de como as pessoas conviviam naquele espaço de paz no Quixadá do passado, mas também, e principalmente, pelo fato de nos mostrar que as pessoas simples podem nos transmitir grandes exemplos de dedicação ao trabalho, por terem sido batalhadoras e alcançado grandes conquistas. Cuã tem seu lugar garantido no coração dos filhos da terra dos monólitos.

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Autor

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional