Coluna Amadeu Filho: Raimundo Gomes de Oliveira numa vida simples com dignidade e caráter

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Raimundo Gomes de Oliveira era pai do radialista Jonas Sousa (foto: arquivo da família )

Ele veio de muito longe, exatamente da cidade mais próxima da foz do rio Amazonas e que sempre se destacou pelas áreas verdes e pelas suas decantadas belezas naturais. Ele é amapaense, ao contrário do que muitos imaginavam, pois todos o tinham como nascido em Quixadá, tamanho o seu amor a esta terra e a sua gente. A Terra dos Monólitos o acolheu como um filho e este amor, Raimundo Gomes de Oliveira retribuiu por toda a vida, pois sempre participou do crescimento da bela cidade e conquistou o respeito das pessoas que sempre enxergaram nele, a personificação do caráter, da honestidade e de uma permanente dedicação ao trabalho.

Raimundo Sousa sempre enalteceu a dignidade de seu pai (foto: arquivo da família )

Quando pisou o solo quixadaense, final dos anos 30(Século passado), não teve dificuldades em conseguir trabalho no comércio, pois já chegou com referências de diversas atividades exercidas em outros lugares. Por um bom tempo, Quixadá foi o maior produtor de algodão do Nordeste e muitos comerciantes se ocuparam desta atividade, como por exemplo, o senhor Tabosa que manteve Raimundinho durante um bom tempo, na sua equipe de trabalho. Revelou-se um competente profissional na pesagem do algodão e no desempenho desta atividade mostrou-se um homem sério e íntegro, sem jamais permitir qualquer alteração do peso real. Tornou-se uma referência local neste mister.

Francisco Sousa teve em seu pai a figura de um protetor (foto: arquivo da família )

Chegou exatamente no ano de 1939, a cidade ainda apresentava verdadeiro perfil de uma pequena cidade do interior, mas foi acompanhando e participando de seu progresso. Quando tínhamos a sua presença física, contava para os amigos que uma de suas alegrias foi à criação do novo sistema de iluminação pública na cidade com a compra de um motor que permitia a iluminação de toda a cidade, mas apenas no horário das 18 horas e funcionando até às 23 horas. Raimundinho lembrou que naqueles anos 50, quando havia necessidade das indústrias de algodão entrarem em funcionamento, os proprietários pagavam as horas prorrogadas na liberação de energia.  Durante o dia, a cidade não dispunha de fornecimento de eletricidade.

Dedé Sousa sempre lembrava que seu pai era o amigo das horas incertas (foto: arquivo da família )

Ele gostava de participar da vida social e política da cidade. Certa vez, foi até o senhor Hermínio de Medeiros Dinelly, prefeito na ocasião, sugerir que a Prefeitura adquirisse um caminhão, pois carroças não dariam mais conta do aumento do lixo que crescia junto com a cidade. Apesar de sua dedicação ao trabalho, Raimundinho era uma “fábrica de fazer amigos“, como lembra a sua filha Maria José Oliveira.

A neta Patrícia exalta o carinho dele com os netos (foto: arquivo da família )

Foi grande amigo de Francisco Segundo da Costa(pai do renomado escritor João Eudes Costa), José da Páscoa, Paulo Holanda, Chico Correira, Bercin, Chico Enéas, Luiz Carlos(pai do querido radialista Sinval Carlos), Chico Caetano, Amadeu, Luquinha, Oscar Barbosa, só para citar os mais próximos.

Certamente, Deus participou da construção da história de Raimundinho, pois lhe presenteou uma mulher extraordinária, uma deusa humana em sua vida. Seu nome, Maria Elba de Sousa, a doce Elba, a esposa ideal, a mãe amorosa, a amiga, aquele coração de uma criança. Como todos nós passamos por momentos em que nem tudo dá certo, no caso de Raimundinho podemos afirmar sem margem para erro que houve um renascimento na vida deste correto senhor. Casou-se com este anjo quixadaense em 15.07.1939, para alegria da família e dos incontáveis amigos.

Professora Angélica sempre fez referencias ao caráter de seu pai (foto: arquivo da família )

A professora Angélica que devotava um grande amor ao pai, faz questão de lembrar uma das marcas de Raimundinho que era a virtude da sinceridade. “Papai era amigo de todos, mas quando precisava fazer uso da verdade, ele o fazia e sempre lembrava não ser possuidor de caráter, aquele que não expressava o que sentia”. No seu consagrado livro “Ruas Que Contam a História de Quixadá“, o seu qualificado autor, João Eudes Costa, destaca um detalhe curioso sobre este homem que era o fato de apenas ter concluído o curso primário, mas discorria com invejável segurança sobre assuntos da política nacional e internacional.

Elba Sousa-uma deusa na vida de Raimundinho (foto: arquivo da família )

O respeitado jornalista Jonas Sousa atribuía este conhecimento de seu pai ao fato dele ouvir rádios do Brasil e do exterior. Até a meia noite, ficava ouvindo um lindo rádio “Semp” e gravava na cabeça os principais acontecimentos para comentar com os amigos. Apesar de chamar a atenção, quando necessário, ele era um amor de pai, nos assegura Maria José. Ele compreendia que a importância de um pai na vida dos filhos é tão relevante quanto o da mãe. Do primeiro casamento, nasceram Ivani, Erimita, Francisco e Jonas. Do casamento com Elba Sousa, Angélica, José, Francisco, Raimundo Sousa, Jonas e Maria José. Segundo a neta Patrícia, o seu avô foi uma lição de sabedoria para todos os netos.

O estimado Raimundinho partiu para a pátria celestial em 14.12.1985. Mesmo não tendo nascido na terra dos monólitos, aqui foi sepultado, permanecendo entre nós para sempre como era o seu desejo. Foi uma figura querida e admirável, um homem correto, íntegro, sincero e acima de tudo um pai exemplar e um amigo confiável.

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Autor

Amadeu Filho
Colaborador da RC
Colunista
Radialista Profissional