Ao chegar ao ateliê de Antônio Evandir Simião, o “Soró”, marceneiro de Quixeramobim, arrasta uma cadeira, oferece café, pergunta se pode fumar e não mede o tempo para puxar uma boa conversa.
As horas passam ligeiro no espaço que fica nos fundos da casa da irmã, na Rua 25 de março. É de lá que saem móveis, tabuleiros para jogos de dama e xadrez, pião para a meninada brincar e tudo mais que a imaginação permita dar forma com a madeira.
“A primeira peça que eu fiz foi uma cômoda para mim. Não tava bem no jeito que era pra ser, mas eu sempre tenho aquele cuidado de querer fazer a coisa correta”, conta Antônio, em entrevista à Rede Jangadeiro FM.
Um tanto buliçoso e outro tanto mais desenvolto no ofício que aprendeu, Soró logo se tornou especialista em confeccionar e restaurar rádios antigos, preservando as peças originais, mas alterando o design. “Eu pegava rádio velho, ia restaurando, ajeitando. Resolvi fazer do meu jeito”, diz.
O marceneiro passa os dias enfurnado no ateliê, criando, e o rádio está sempre ligado. Aliás, Soró é um ouvinte devoto desde garoto. Lembra sem dificuldade da canção favorita naquele tempo, “Coração de Luto”, de Teixeirinha, que escutava à noite, no vai e vem da rede, por meio do rádio. Foi aí que começou a paixão pelo primeiro meio de comunicação de massas do mundo.
Atualmente, Soró possui uma coleção de aproximadamente 30 aparelhos. A soma não é exata, já que ele nunca contou quantos rádios tem nas prateleiras empoeiradas do ateliê. Muitos estão até esquecidos atrás da sucata.
Todo colecionador nutre grande apego afetivo pelas peças que guarda. Não pelo valor material dos objetos e, sim, pelo esforço e anos gastos para a reunião de seus acervos. É por isso que, com os rádios, Soró não faz nenhum negócio. “Não adianta”, determina Antônio.
As informações são do Tribuna do Ceará!