Mantida por trás de arames farpados e portas fechadas por cadeados, uma mulher que vivia há 16 anos em cárcere privado foi resgatada, no último dia 09, após uma ação desenvolvida pela Polícia Civil do Estado do Ceará, por meio da Delegacia Municipal de Uruburetama, na Área Integrada de Segurança 17 (AIS 17). Os trabalhos de investigação iniciaram após uma denúncia anônima informar, inicialmente, que a vítima vivia há seis anos presa na casa e era mantida sob condições insalubres. No entanto, o trabalho policial concluiu, que há mais de uma década e meia, a mulher de 36 anos vivia encarcerada e sofrendo descaso por parte de seus familiares. O irmão da vítima, que estava com mandado de prisão em aberto, foi preso nessa terça-feira (28).
No dia 09 de março, os policiais civis seguiram até o sítio Sobradinho, situado na zona rural da cidade, após diligências que tiveram início no dia anterior. Chegando lá, a equipe precisou romper alguns obstáculos, como arames farpados e cadeados, que impediam a entrada da Polícia na propriedade. Ao adentrar ao local, os agentes de segurança se deparam com mais empecilhos, postos com a finalidade de manter a vítima detida em um pequeno cômodo. Após ultrapassar todos os impedimentos, que privavam a mulher de uma vida digna, os policiais se deparam com a vítima despida e sem higienização, com o corpo envolvido apenas com um pedaço de pano. “A única reação dela, ao ver a equipe de policiais, foi abrir os braços e vir em nossa direção”, afirma o delegado Harley Filho, que presidiu o inquérito policial acerca do fato.
Diante disso, um mandado de prisão foi expedido em desfavor do irmão da mulher, identificado por João de Almeida Braga (47) – conhecido por “Joãozinho”, que foi capturado pela Polícia Civil, ontem. De acordo com as investigações, tudo teve início há 16 anos, quando a mulher apresentou problemas psicológicos depois do rompimento de um relacionamento, e logo em seguida, ter engravidado. Sentindo-se constrangido com a situação e tentando evitar que a filha pudesse conceber outra criança, o pai da mulher teria decidido trancafiá-la. A criança nasceu e foi enviada para a adoção.
A conduta se tornou hereditária, em decorrência da idade avançada do patriarca, e o papel de manter a vítima em cárcere ficou a cargo de “Joãozinho”. Ainda de acordo com o delegado Harley Filho, a população nos arredores sabia da existência do crime, mas achava uma situação normal. O suspeito foi indiciado criminalmente por maus tratos e cárcere privado. Já a mulher recebeu os atendimentos necessários e está sob os cuidados de uma família. “No dia que a encontramos, a vítima estava atônita. Ao longo de 20 dias, ela já teve um ganho de peso, está escrevendo e também falando, mas ainda com dificuldade. Aos poucos, ela está voltando a viver”, completa o delegado Harley Filho.
Fonte: SSPDS