É quase impossível passar pelo local e não olhar para aquele jardim cheio de cruzes.
Quixadá, 13h45min, segunda-feira, 20 de janeiro de 2003, ambulâncias com sirenes ligadas informavam que algo de anormal estava acontecendo no município, antes tranquilo como qualquer outro do interior nordestino. A informação era precária, somente as emissoras de rádios da cidade e os jornais da capital existiam na época, tudo chegava naquele momento por meio de boatos, até curiosos se aglomerarem no Hospital Dr. Eudásio Barroso.
A maior tragédia nas rodovias do município de Quixadá, ocorreu há 14 anos, 23 pessoas morreram, agricultores, aposentados, donas de casa, estudantes, funcionários públicos e crianças foram as vítimas da colisão frontal envolvendo duas topiques, no quilômetro cinco da rodovia estadual CE-368, no distrito de Juatama. Na época os jornais noticiaram que teria sido um dos piores desastres já ocorridos no Ceará.
A maioria das vítimas fatais residia no vizinho município de Banabuiú. Um dos veículos trafegava superlotado, com quase o dobro de sua capacidade, enquanto no outro viajava apenas seu guiador.
Conforme pesquisa, os jornais O Povo e Diário do Nordeste publicaram que o acidente, segundo registros da Polícia Rodoviária Estadual ocorreu em um trecho uma reta, numa estrada em bom estado de conservação e bem sinalizada. Na hora da colisão não chovia na região. Portanto, as condições de visibilidade eram perfeitas.
A topique Mercedes Benz, azul, de placas HXK-8070, inscrição de Banabuiú, trafegava superlotada (com 30 pessoas a bordo). O veículo havia saído, minutos antes do Centro de Quixadá e seguia para Banabuiú, tendo como motorista, José Wellington Cunha Fernandes.
O outro veículo era a topique Sprinter, branca, placas HVM-4326, licença de Quixadá, que trafegava no sentido oposto ocupada apenas por seu motorista, Sidrack Jorge de Souza. O motorista da Van branca saiu de sua pista e avançou no sentido contrário, provocando a colisão frontal em alta velocidade. Com o impacto do choque, os dois veículos capotaram nas margens da rodovia, ficando completamente destruídos. Os dois guiadores morreram instantaneamente. A maioria dos mortos – que estavam na Van azul – ficaram presos as ferragens. Corpos de homens, mulheres e crianças foram resgatados dos destroços apresentando politraumatismo. Praticamente todos tiveram seus pés seccionados. Os feridos foram socorridos para o hospital municipal de Quixadá, onde dois deles chegaram sem vida. Um terceiro ferido morreu quando era transportado em uma ambulância para a Capital. Um grupo de seis médicos de hospitais da região foi mobilizado e os cadáveres foram examinados no local.
Vítimas
Sidrack Jorge de Sousa, 31 anos (motorista da topique branca), José Wellington Cunha Fernandes, 27 (motorista da topique azul); Alzemira Chaves de Sousa, 35; Francisco Jameson de Sousa, 8 anos, e Francisco Jaílson de Sousa, 10 anos ( ambos filhos de Alzemira)); Maria Vilanir Rubens da Silva, 50; Francisco Rubens de Sousa, 37; Francisca Érika de Lima, 23, Jésica de Lima, 5 anos (filha de Érica), Jéfferson de Lima, 2 anos (também filho de Érica); Ruliglésia Lemos de Farias, 20 anos (cobrador da topique azul); Norberto Alexandre da Silva, 58; Luís César Freitas da Silva, 35; Tarciano da Silva, Antônio Nogueira de Farias, Maria Silvanilda Barros (bebê de 9 meses), Ednilton Silva de Queiroz, 24; Francisco Duarte da Silva; duas mulheres identificadas apenas por Liduína e Francisquinha, além de uma senhora que não foi ainda identificada.
Um dos sobreviventes foi o senhor, Norberto Alexandre da Silva, uma das vítimas do acidente envolvendo alternativos clandestinos, naquela segunda-feira não seria diferente e, após passar o dia resolvendo problemas financeiros em Quixadá, ele não pensou duas vezes. Pagou os R$ 4,00 e se sentou no último banco da Topic.
“Lembro apenas de ter ouvido um barulho, acho que pessoas gritando. Mas tinha muita gente na minha frente, não dava para ver nada. Daí só vou me lembrar eu já de fora da Topique, com uma pessoa dizendo que eu não tentasse me mexer porque eu tinha quebrado as duas pernas, diz Norberto, acrescentando sempre ter confiado nesse meio de transporte por nunca ter ocorrido acidente naquela região.
Na época, o delegado regional de Quixadá, Agenor Freitas de Queiroz, informou que colheu importantes depoimentos atestando que o guiador de uma das topiques, Sidrack Jorge de Sousa, havia bebido sozinho quase uma garrafa de Rum. Além disso, não havia dormido na noite anterior (domingo). Logo no começo da manhã daquele dia, ele saiu de Fortaleza levando vários passageiros para as duas cidades. A última passageira a saltar da topique branca, de placa HVM-4326, foi uma adolescente deixada na localidade de Rampa.
Depois que a última passageira desembarcou, Sidrack se dirigiu (em torno de meio-dia) a um bar, onde pediu um litro de Rum. Disse para a dona do estabelecimento que estava com muito sono e pediu para lavar o rosto várias vezes. Quando ele já tinha consumido quase toda a garrafa da bebida alcoólica, apareceram três amigos, que completaram a bebedeira. A proprietária do bar, identificada como dona Edivânia e o marido dela ainda advertiram o motorista sobre o perigo de ele beber e sair para dirigir. Eu não estou bêbado. Estou é com muito sono, declarou Sidrack antes de morrer
A tragédia em Quixadá atingiu diretamente várias famílias. Entre os 23 mortos estavam pelo menos cinco crianças. Houve casos mais lamentáveis ainda, em que morreram várias pessoas de uma mesma família. Duas mães morreram com seus dois filhos.
Um dos casos mais comoventes na tragédia foi do soldado Francisco Gilson de Sousa, que perdeu dois filhos e a esposa no desastre. Além disso, mais três filhos foram hospitalizados.
14 anos depois, o que restou foi saudade e 23 cruzes de madeira no local do sinistro.
As informações tiveram como base as publicações da época dos jornais Diário do Nordeste e O Povo.