Muitos já viram o nosso herói montado em um jumento percorrendo as quebradas do sertão e visitando muitos lares nordestinos.
Como é bonito ver a asa branca, ave símbolo do Nordeste, voltando para o sertão que foi magistralmente fotografado pelas canções de Luiz Gonzaga. Que dias belos aqueles em que o sertanejo bate a enxada no chão molhado da Terra dos Monólitos e de todo o Nordeste. Que doce alegria é ouvir aquele ronco do “pai da coalhada” como chamamos o roncar dos trovões e que linda imagem aquela dos relâmpagos que parecem uma luz que vem do céu a iluminar aquele lindo torrão. Ver aqueles rios correndo, aquele cheiro de mato verde fazendo de cada localidade sertaneja um pedacinho do céu.
Para o homem sertanejo, o melhor governo é um bom inverno. A chuva traz muita alegria a todos os moradores do pé de serra e também da cidade. Até os animais parecem fazer festa. Cavalos correm pelas colinas, o boi pasta com pose de príncipe, o vaqueiro faz linda sinfonia de aboios. E depois da plantação, do trabalho duro desses verdadeiros “cabras machos” vem a colheita e com ela a fartura. Aí os dias do sertanejo são ditosos, tudo são flores e uma eterna festa. De dia e de noite, como são felizes os dias desta brava gente. Com o inverno confirmado, certamente a fogueira queimará em homenagem a São João e o forró acontecerá neste sertão de gente honesta, trabalhadora.
Os agradecimentos ao divino São José são apresentados nas novenas que acontecem de segunda a segunda nas capelas que existem em grande número na região. E claro, a zona urbana também fica feliz. No inverno, até o luar fica mais bonito e os namoros à moda antiga, explodem por todo canto. Quando a chuva não vem e a seca se faz real, a tristeza toma conta do coração do homem nordestino. Não, essa gente não pode viver com dignidade se Jesus Sertanejo não atender suas preces e mandar bons invernos. O medo de ir morar em terras estranhas se apodera dos filhos deste pedaço do Brasil. É por isso que é grande a preocupação que toma conta de todos se teremos inverno ou não por essas bandas.
Hoje em dia, a tecnologia permite conhecermos o que acontece com o clima. Sensores, sistemas automatizados, radares e até supercomputadores representam avanços significativos em relação ao monitoramento do clima, tornando possível uma previsão se teremos boas chuvas ou não. Acontece, porém, que o nordestino puro sangue não quer saber de ciência atmosférica. Ele prefere acreditar no saber dos profetas da chuva. Eles são verdadeiramente os doutores do tempo, pois conhecem, como ninguém, a ciência sertaneja. Conhecem o comportamento dos animais, como as plantas se desenvolvem, o vai e vem do vento, das nuvens e até dos astros. Eles têm o valor de cientistas da natureza e são respeitados, não só nas famílias de casas de reboco, mas também nas casas bonitas da cidade.
A Terra dos Monólitos tem sido destaque até fora do País pelo grande número de profetas de que dispõe, como por exemplo, Erasmo Barreira, Dr. Paulo, Irismar, Chico Leiteiro, Lurdinha Leite, Antônio Lima, Renato Lino, Josué, Ribamar Lima, Paroara e muitos outros. Estes senhores e senhoras do tempo ganharam um destaque todo especial na vida do sertanejo e até fez surgir à figura do caçador de profetas. Eles já existem em grande número e um fez fama por já ter localizado mais de uma dezena e já são muitos anos dedicados a encontrá-los. Seu nome de batismo é Francisco Alves Leite, mas todos o conhecem por Chico Javali que já realizou muitas viagens nesta busca, não importando o meio de transporte se carro, moto, bicicleta, carroça ou até em lombos de animais.
Muitos já viram o nosso herói montado em um jumento percorrendo as quebradas do sertão e visitando muitos lares nordestinos com o objetivo de descobrir novos profetas. Nesta procura interminável já passou por situações as mais incríveis possíveis como ter passado à noite toda no povoado de Cafundó. Procurava um casebre no alto da serra, mas quando se deu conta da situação já era mais de meia noite. O celular estava descarregado e não tinha como se comunicar com alguém para buscá-lo.
Em outra situação nada agradável se deparou com um touro bravo e foi então que Javali mostrou seu lado de atleta olímpico realizando a maior carreira de sua vida. Garante que passou por tudo isso para valorizar os profetas que merecem um reconhecimento maior, afinal, eles são os que mais conhecem a realidade do sertão. Esta sua missão (assim ele acha) já foi motivo de reportagens em meios de comunicação até fora do Brasil.
O caçador de profetas participa desde o início do tradicional encontro dos profetas que acontece na terra dos monólitos. Merece destaque o fato de Javali estar em busca de pessoas mais jovens para manter a tradição. Realiza uma intensa divulgação desta gente na Revista “Emoções” de sua propriedade. Faz questão de ressaltar o empenho de João Soares e Helder Cortez e de outros entusiastas para que o encontro dos profetas tenha uma longa vida. Lembra que o pioneirismo coube ao radialista Jonas Sousa que entrevistava estas pessoas em seus qualificados programas. Com ar de seriedade, o caçador afirma que sempre exigiu respeito a estas figuras que são mensageiros das coisas boas que nos são enviadas por Jesus sertanejo.
A seca que é denunciada pelo pássaro acauã não vem do céu e deve ser coisa dos espíritos ruins, acredita.
Chico Javali é paranaense da cidade de São Pedro Avaí, mas veio ainda criança para Fortaleza e no começo dos anos 90 se instalou definitivamente na Terra dos Monólitos. Louco pelas coisas do sertão é devoto de São José e reza todos os dias para que ele proteja os profetas e toda gente nordestina. Pede pela sua saúde ao Padre Cícero e Frei Damião para que sempre tenha condições de continuar caçando profetas.
O Nordeste precisa deles! Que se dane o tal de “respaldo científico”! No sertão o que vale é a palavras deles! Vamos dar muitos vivas aos profetas da chuva! Eles são os nossos heróis! Nossa gratidão ao caçador Chico Javali por defender e divulgar essa gente abençoada de nosso Nordeste.