Ari registrou um Boletim de Ocorrência em relação às ameaças de morte que recebeu em seu perfil no Facebook.
Imagens publicadas nas redes sociais sobre a apresentação artística “Histórias Compartilhadas”, ocorrida durante seminário sobre sexualidade e gênero no bloco de psicologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), gera polêmica na internet. No último domingo (23), a página no Facebook ‘Fortaleza Sem Prefeito’ divulgou fotos de uma peça realizada pelo artista cearense Ari Areia, em que o ator exibe o corpo nu e derrama o próprio sangue sobre um crucifixo.
Na postagem, em tom crítico ao artista, usuários relatam a falta de respeito com a religião. “Vão dizer novamente que é arte? Respeito, isso é o que falta. Não há explicação para tamanha sem-vergonhice”, diz a mensagem na página.Com mais de 2,7 mil compartilhamentos e diversos comentários, a postagem logo se tornou viral na web.
Nas fotos compartilhadas, é possível perceber que o ator fica nu e cobre o órgão sexual com uma espécie de adesivo branco. Logo após, Ari perfura um dos braços e derrama pingos de sangue em cima de uma estatueta que simboliza a crucificação de Cristo.
O artista cearense informou que, a princípio, não iria se manifestar sobre as críticas; mas, devido às agressividades que sofreu na internet, decidiu falar. Segundo Ari, diversas ameaças e xingamentos foram relatadas em seu nome e explicou que o ato artístico se trata da vida do transsexual na sociedade.
“Havia decidido que não me manifestaria sobre a repercussão de minha apresentação. Estou chocado com as ameaças recebidas e com as palavras terríveis ditas em nome de Deus (desejos de fuzilamento, estupro, esquartejamento, ser jogado às formigas, câncer…). Histórias Compartilhadas é um soco no estômago, mas está longe de ser uma afronta a religião de quem quer que seja. É um grito. Fala de pessoas que, incompreendidas e não aceitas, se afogam a cada dia como se tivessem um peso amarrado ao próprio corpo. Condenados por não serem “normais”. São histórias de homens transexuais. Cresci na igreja, é verdade, e de lá sai (graças a deus). Na cena, quando decidimos lançar mão da imagem do cristo banhado de sangue foi amaneira mais objetiva que encontramos para desenhar o que queríamos dizer sobre martírio, incompreensão, injustiça silenciada. Não escarneço daquilo que vocês acreditam como seu salvador. Assistam o trabalho, é uma experiência deslocadora”, diz parte do texto do ator escrito em sua rede social.
Ainda conforme Ari Areia, a peça não teve financiamento público. Ele repudia ainda as intimidações que sofreu nas redes sociais. “Gostaria de explicar que esse espetáculo não foi construído com recurso público federal, estadual ou municipal. Gostaria também de repudiar toda sorte de intimidações a mim direcionadas e dizer que não nos curvaremos diante disto, continuaremos com nosso trabalho e militância dentro e fora dos palco“, disse.
Após a polêmica, Ari registrou um Boletim de Ocorrência em relação às ameaças de morte que recebeu em seu perfil no Facebook. A peça será apresentada novamente durante as terças-feiras do mês de junho, no Teatro Universitário, localizado no campus do Benfica.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação da Universidade Federal do Ceara e foi informado via e-mail que a instituição de ensino não se pronunciará sobre o caso.
Com informações do portal Tribuna do Ceará