O futebol quixadaense sempre foi rico no quesito “emoções” revelando craques, que conquistaram espaços em grandes centros.
Numa bela manhã de domingo, ano de 1961, século passado, chamou a atenção dos frequentadores do movimentado abrigo central, localizado em Fortaleza, o grande número de carros com placas das cidades de Quixadá e Sobral. Jipes, fuscas, Aero Willis, rural, vemags, dentre outros, podiam ser vistos estacionados por toda a Praça do Ferreira. A razão da presença dessas pessoas se devia ao fato de que, naquela tarde, aconteceria a semifinal do torneio intermunicipal de futebol entre a seleção da Terra dos Monólitos e a poderosa equipe da chamada Princesa do Norte.
Enquanto merendavam no famoso ponto do Pedão da Bananada, torcedores de ambas as cidades, falavam das qualidades de seus times. Os craques da nossa seleção também fizeram seus lanches, naquele local, e alguns foram reconhecidos pelos torcedores sobralenses, como por exemplo, o zagueiro Apolinário, conhecido pela marcação implacável que exercia sobre os atacantes e chamado de “Xerifão” pela torcida.
O craque daquele torneio e artilheiro, o Cabeção, era o orgulho da torcida de Sobral. Ao se depararem com Apolinário, fizeram xingamentos e falavam desta forma: “É este velho que irá marcar o Cabeção? Quixadá tá é ferrado!”. Apolinário nem conseguiu tomar sua bananada sossegado, mas preferiu ficar em silêncio. Na hora do jogo, no velho estádio Presidente Vargas, as coisas não aconteceram como os sobralenses imaginavam. Apolinário não era um jogador de muitos recursos técnicos, mas não brincava em serviço e, logo nos primeiros minutos do jogo, deu um chega prá lá no artilheiro Cabeção que foi cair já fora do gramado. Pronto! Acabou-se o artilheiro de Sobral, naquele jogo, não tendo coragem nem mais de passar do meio campo.
Com muita raça, a seleção quixadaense acabou vencendo pelo placar de “2 a 1”, surpreendendo a crônica cearense e Apolinário, ao lado de João Eudes e Zé Leônidas, os melhores em campo. Outros que se destacaram, nesta partida memorável, foram Mafia(melhor goleiro do torneio), Mecânico, Luis Pedro, João Ribeiro, Arara, Carneirinho, Facó, todos bem orientados pelo treinador Vicente Trajano.
A euforia tomou conta de jogadores, da torcida e o médico da delegação, Rui Amora Maia, não resistindo à tamanha emoção, teve fulminante enfarto, entristecendo a todos. A seleção da terra da galinha choca depois de tirar do torneio o favorito selecionado sobralense chegou a final, tendo como adversário a cidade de Cedro.
Segundo João Eudes Costa, um dos destaques da equipe, o adversário foi a campo com um time profissional, tendo por base, o Campinense, enquanto nossa seleção era formada por amadores. Empatamos o jogo, mas perdemos no desempate por “2 a 1”.
José Rodrigues do Nascimento, seu verdadeiro nome, veio de Morada Nova para defender o Comercial, uma das principais equipes do futebol quixadaenses, no ano de 1953, atendendo a convite de José Abílio. Jogou ao lado de Narciso, Ferreirinha, Carneirinho, Zé Leônidas. Apesar da rivalidade com o Bangu, Apolinário era amigo de todos os atletas das equipes adversárias.
Naqueles anos 50, 60, o Comercial dividia com o Bangu as preferencias do torcedor quixadaense e a raça, a dedicação e as atuações convincentes de Apolinário conquistava os corações dos torcedores.
Apolinário nunca esqueceu o fato do filósofo popular quixadaense, o Zé Laranjeiras, afirmar que ele foi o único jogador a marcar seu filho, o consagrado artilheiro Pacoty que brilhou em grandes clubes brasileiros. Após encerrar suas atividades nos clubes e na seleção quixadaense, passou a se dedicar ao trabalho na construção civil sendo requisitado para realizar diversas atividades.
Sempre afirmou que o futebol lhe deu muito pouco e, naquele tempo, se jogava mais por amor. Por causa da idade e da saúde, parou também de trabalhar e encontrou na senhora Rosa, companheira de muitos anos, a amizade certa nas horas incertas.
Longe da torcida que o aplaudia e dos companheiros do futebol, Apolinário faleceu em 2006, deixando tristes a família e aqueles que o viram brilhar nos gramados cearenses. Foi jogar futebol no céu junto à Mafia, Zé Leônidas, Popó, Nivaldo, João Eudes Preto, Medeiros, dentre outros.
O futebol quixadaense sempre foi rico no quesito “emoções” revelando craques, que conquistaram espaços em grandes centros. Precisamos manter viva a memória do futebol da terra dos monólitos, pois somente assim conheceremos belas histórias como a do zagueiro que foi símbolo do amor à camisa da seleção quixadaense.
Amadeu Filho
Colaborador da RC
Radialista Profissional
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