Saindo um pouco do foco de seu comércio, se faz necessário lembrar seu grande amor pelos animais.
Há verdadeiras lembranças na vida que os quixadaenses não podem esquecer. Dentre as boas recordações que os filhos da terra dos monólitos carregam dentro do coração, com certeza, destaca-se a mercearia de Zeca Metero. As pessoas tinham o prazer de ir até este espaço, não apenas para fazer compras, mas conversar com José Gomes dos Santos, seu verdadeiro nome.
Não havia dúvidas que o principal atrativo daquele comércio era o próprio dono. Aquela figura era pura poesia, tratando a todos de forma carinhosa, tornando-se uma pessoa bastante querida na cidade. Desde os anos 50, do século do passado, até meados do ano 2000, a mercearia de Zeca Metero foi o principal local, aonde as famílias adquiriam suas necessidades.
Lá, se encontrava quase de tudo que era procurado pelas famílias. Homens, mulheres e crianças, adentravam aquele local que se tornaria também um espaço de convivência. Zeca Metero enchia os olhos das crianças quando embrulhava as mercadorias, parecendo estar costurando, com aquele barulhinho do papel.
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Nos primeiros momentos de funcionamento da famosa mercearia, Quixadá ainda era uma pequena cidade e algumas formas de adquirir os produtos, já não acontecem nos dias de hoje. Era costume comprar, por exemplo, meia lata de óleo, meio quilo de farinha, uma quarta de açúcar, meia barra de sabão, meio litro de querosene para abastecer os lampiões de gás, então muito presente nas residências. No começo, Zeca ainda utilizava as balanças de dois pratos mas, logo substituída pelas, então modernas, marca Dayton.
Meninos de calça curtas compravam baladeiras, bolas de gude, de borracha, ‘revólveres’ para saírem até a rua e lá brincarem. Muitas crianças daquele tempo tinham o costume de desenhar, no chão mesmo, aquela conhecida mercearia. Os rapazes adquiriam brilhantina em pequenas porções que eram colocadas nas mãos pelo simpático comerciante. Saíam dali com a cabeça muito cheirosa e se dirigindo a praça para a velha e gostosa paquera.
Na mercearia, havia uma seção própria para as mulheres, comandada pela esposa do proprietário, Maria Luciano dos Santos, carinhosamente chamada de Maria Hemetério. Neste pequeno, mas organizado espaço, eram encontrados produtos que atendiam as necessidades do belo sexo. Ela sempre viajava à Fortaleza, aonde adquiria os artigos em evidência, no momento. Não se pode esquecer o apreciado refresco preparado magistralmente pelo simpático senhor (não havia ainda os preparados artificiais) que, muitas vezes ao dia, era consumido, em especial, pelos trabalhadores.
Impossível não destacar o lado humanitário de Zeca Metero. Bem cedo ainda, ele já embalava alguns gêneros alimentícios para aqueles que não podiam pagar. Saindo um pouco do foco de seu comércio, se faz necessário lembrar seu grande amor pelos animais, encarregando alguns empregados de alimentar alguns animais e, de preferência, os gatos, abandonados pela cidade. Mesmo tendo construído um razoável patrimônio, nunca perdeu a simplicidade. Era comum vê-lo utilizando sempre uma bicicleta como meio de transporte.
Muito jovem, trabalhava como agricultor, na fazenda Bolívia. Bateu enxada, plantou e colheu algodão, enfrentando muitas horas de serviço. Seu maior sonho era vir morar na cidade, pois queria que os filhos estudassem com o objetivo de obter suas formaturas. Seu pai, Hemetério Bandeira que mantinha um comércio na praça da estação, encorajou o destemido filho a vir montar um pequeno negócio na cidade. Sempre com coragem para o trabalho, depois de algum tempo, comprou o ponto comercial do senhor Nel. Durante toda sua trajetória, Zeca teve a ajudá-lo, em todos os aspectos, a sua esposa, Maria Hemetério. Depois de algum tempo de namoro, casaram-se no início dos anos 50.
O casal era consciente das diferenças entre eles, mas lutaram com todas as forças para viver um grande amor. Tudo começou no momento da chegada de mais um trem na estação(era uma grande atração naqueles anos). A bonita jovem apreciava toda aquela movimentação quando, de repente, um jovem perde o controle da bicicleta e quase causa um pequeno acidente. Será que este amor estava escrito nas estrelas? Desta abençoada união nasceram os filhos José Weimar dos Santos(médico) e José Wilson dos Santos(engenheiro agrônomo).
Consta ainda de sua bonita biografia, o envolvimento com as atividades da igreja Católica(novenas, quermesses, Leilões) e participação naqueles momentos em que algum conhecido(ou não) precisasse de uma mão amiga.
Para grande tristeza dos quixadaense, Zeca Metero faleceu em 17.03.2000, com certeza, deixando um rastro de uma imensa saudade e a lembrança de um caminhar marcado pela generosidade, bondade e, acima de tudo, um grande amor para com todos.
Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer mais sobre a história de Quixadá.
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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