Carlos Nogueira de Milão, o seu verdadeiro nome, foi casado com Maria Soledade da Silva, uma amazonense que se tornou uma espécie de anjo da guarda para ele.
Ele foi um símbolo da alegria, do deboche, de uma irreverência inocente, mas afiada. Carlos Bananeira ou vovô Bananeira foi um dos tipos populares mais conhecidos na Terra dos Monólitos. A sua oficina de ferreiro, profissão que exercia desde criança, era a sede social de um Quixadá alegre, moleque mesmo.
Com toda a carga de uma pessoa que, verdadeiramente, gostava de brincar com os amigos, este alegre cidadão estava sempre com a língua pronta para desferir ironias, gozações, sem escolher suas vítimas, podendo ser doutor ou um pé rapado qualquer, como se diz no bom cearensês.
Quixadá ainda não conhecia maldade, naqueles anos 40, 50, 60 e as pessoas podiam criar brincadeiras sem que elas, em momento algum, causassem inimizades. Do enorme elenco de molecagens de que dispunha, aquela que mais se destacou foi determinar quem era corno ou não. Para aqueles que reclamavam, afirmava que não havia motivo para se preocupar, pois só chamava os que não pertenciam a esta turma.
Grande parte dos filhos de Adão da cidade ficou em polvorosa e passaram a exigir que Bananeira os tratasse como cornos mesmo. Chegou-se a uma situação tão embaraçosa, a ponto de alguns quererem comprar briga com o alegre homem para que, num momento de defesa, fosse chamado de corno. Outros corriam léguas, evitando passar perto daquela oficina.
Ele havia decretado que quem assim não fosse chamado, pertenceria ao clube dos traídos. Que situação! Realmente, Carlos Bananeira foi à delícia, a alegria daquele Quixadá que ainda assistia o desfile das belas águas do rio Sitiá.
Esta me foi contada por um de seus filhos, o professor Eduardo Bananeira: O governador Virgílio Távora, em visita a Quixadá, foi levado pelo Dr. Roberto Queiroz até a oficina de Carlos e pediu que, ao adentrar, ficasse buzinando com intensidade para ver como reagiria o alegre senhor. Ouviu-se uma voz possante, quase gritada: “Quem é este corno que chega fazendo tanto barulho? Ao perceber tratar-se do amigo Virgílio, todos caíram numa gostosa gargalhada. Os de mais idade sabem daquele caso em que um cidadão de destaque na cidade, no dia do casamento, fez uma visita ao nosso herói pedindo que nunca o chamasse de corno.
Bananeira adquiriu um “par de chifre”, pintou-os com muito carinho e mandou como presente ao coitado do novo marido. Carlos Nogueira de Milão, o seu verdadeiro nome, foi casado com Maria Soledade da Silva, uma amazonense que se tornou uma espécie de anjo da guarda para ele e, desta abençoada união, nasceram os filhos Manoel(grande desportista de nossa bela Quixadá), Cem, Martelo, Eduardo, Caetano, Maria Florinda, Leide, Teonília, Raimunda, Elvira e Benvinda. Segundo a escritora Angélica Nogueira, Vovô Bananeira foi um pai de todos nós, os seus netos.
Era realmente um pai dedicado e vigilante. Certa vez, o ainda jovem Cem, um dos filhos queridos, foi participar de uma partida de futebol em Baturité sem o seu consentimento. Não teve jeito, alugou um jipe e foi buscar o teimoso garoto. Ao se aposentar, ficava horas a fio, na janela de casa, curtindo o seu cachimbo que chamava de “meu benzinho”. Chegou a possuir mais de cinquenta, muitos sendo presentes que recebera. Olhando poeticamente a fumaça em círculos, pode perceber que já não poderia brincar como antigamente.
A nova geração, talvez não entenderia a sua mensagem de alegria. Eram outros tempos. Foi em junho de 1981 que Vovô Bananeira, alçou um voo mais alto, agora brincando com os quixadaenses que o antecederam nesta última viagem. Era assim o nosso amado Quixadá, alegre, engraçado e especialmente, espaço em que todos se conheciam e viviam como irmãos. Que bom se pudéssemos voltar no tempo. Encontraríamos pessoas , leves, humanas e divertidas como Vovô Bananeira.
Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer mais sobre a história de Quixadá.
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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