A preservação da cultura e da sabedoria popular seculares, herdadas de pai para filho, é o que incentiva a organização anual do encontro.
É tradição que se perpetua de geração em geração: todos os anos, os profetas e profetisas da chuva usam como instrumentos para as suas previsões a sintonia com a natureza, rituais, a observação dos ventos, formigueiros, cupinzeiros, casas joão-de-barro, o juazeiro, a flor do mandacaru, a barra da lua, a pedra de sal, dentre outras “experiências”, como são chamadas as fontes de seus estudos, feitos a partir de observações ao longo do ano, que prenunciam como será a próxima quadra chuvosa do Ceará. Em 2015, eles se reúnem no XIX Encontro dos Profetas da Chuva, que acontecerá em Quixadá, de 09 a 11/01. O evento, que faz parte do calendário climático-ambiental brasileiro, é promovido pelo Instituto de Viola e Poesia do Sertão Central (Ce), produzido pela Mungango Produções e conta com a apoio da Prefeitura municipal de Quixadá, CAGECE, Instituto Agropolos, SEBRAE, SDA, Convention Bureau Fortaleza e ACVQ.
O público terá a oportunidade de assistir, logo na abertura, ao talento de violeiros e trovadores de várias regiões do Ceará, no VIII Encanta Quixadá (Praça da Fundação Cultural Rachel de Queiroz). No dia 10/01, às 8h, haverá a exposição das previsões de 30 profetas, o ponto alto do encontro: cada profeta ou profetisa faz a sua previsão para a próxima quadra chuvosa e diz qual o método usado para sua análise. Às 16h, tem início o Seminário Convivência com o Semiárido, que reunirá nomes de especialistas como Helder Cortez, gerente de Saneamento Rural da Cagece, que abordará o tema Modelo de Gestão para o Saneamento Rural, Nicolas Fabre, engenheiro agrônomo representante da Aprece e graduado na França, que abordará o tema Agroecologia – estratégias para agriculturas sustentáveis no contexto do Semiárido Brasileiro, e Rodrigo Castro, da Associação Caatinga, que discorrerá sobre a experiência da ONG na convivência com o semiárido.
A preservação da cultura e da sabedoria popular seculares, herdadas de pai para filho, é o que incentiva a organização anual do encontro, que em 2016 chega aos seus 20 anos como um dos eventos mais esperados pelos agricultores cearenses, que buscam identificar o melhor momento para o plantio. “Existe uma disputa saudável entre os participantes, cada um em busca de conhecer melhor os sinais da natureza e de sua terra. Portanto, a ideia maior é a de fortalecer a tradição e cultura popular, não só em Quixadá como em outros municípios do Ceará e do país, tendo como elemento a água e as condições climáticas que tanto afligem os sertanejos”, diz João Soares, idealizador do encontro.
Os profetas da chuva
É a sintonia do homem do campo com a natureza que fez surgir os “profetas da chuva”. Ao longo dos anos, a cada plantio e expectativa de colheita, os sertanejos vão ampliando sua interação com o meio ambiente e passando suas experiências e rituais para filhos e netos. Em 1996, o gerente regional da Cagece em Quixadá, Helder Cortez, juntamente com o comerciante João Soares, observou o grande número de pessoas que o procuravam alertando quanto às chuvas e recargas dos mananciais da região todos os anos e resolveu reuni-los no I Encontro dos Profetas da Chuva, que hoje é uma tradição no Ceará.
Os sinais
Se o ninho do joão-de-barro está com a porta voltada para o poente, é sinal de chuva;
Se o joão-de-barro não está no ninho, para alguns profetas esse é um sinal de bom inverno, pois elas saem em busca de alimentos antes, para evitar sair no período invernoso; para outros, é sinal de seca, pois os passarinhos estariam armazenando alimentos para a difícil época que se aproxima.
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Curiosidades
A escritora cearense, Rachel de Queiroz, primeira mulher a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, ficou famosa ao escrever seu primeiro romance O Quinze, sobre a seca que assolou sua terra. Mesmo morando no Rio de Janeiro, ela voltava sempre à Quixadá, para sua fazenda (“Não me deixes”). Sobre os profetas da chuva, dizia a autora: “Vá, por exemplo, ao sertão nordestino, nos meses de novembro e dezembro. O povo, lá não tira os olhos do céu, em procura dos prenúncios. Pequenas nuvens ao poente… pequenas, claro, ainda não é tempo das grandes, mas, se elas se juntam para o sul, quer dizer uma coisa; se aparecem ao poente, a coisa muda. Só o que elas não dizem é que a coisa será essa: como todos os adivinhos do mundo, gostam de se envolver em mistério…” (p. 13)
QUEIROZ, Rachel. Existe outra saída, sim. Fortaleza: Fundação Demócrito Rocha, 2003.
Serviço:
Data: 09 a 11/01/2015
Informações/entrevistas: João Soares (idealizador do encontro): 88 9631.1416
Helder Cortez: 85 8878.8920 e 9755.0916/34961686
Hidário Matos – Mungango Produções: (85) 9904.8284/8811.9009 – (85) 3032.3333