O “Pirão”, como era carinhosamente chamado pelos amigos, foi chamado por Deus no ano de 1993.
Segundo Camilo Castelo Branco, a saudade pelos vivos é dor suave. Saudade que machuca, aquela que dói pra valer, que parece mesmo tirar um pedaço da gente, é quando sentimos a falta física de alguém que gostamos muito. É realmente uma dor incurável! Mas como a vida tem que seguir, só nos resta lembrar, daquelas pessoas que tantos momentos bonitos nos proporcionou. Com certeza, é desta maneira que deveremos sempre lembrar de uma figura que mostrou que a vida pode ser sim, muito bonita, alegre, compartilhada. Lembrar a leve figura de João Ferreira Pires é nos alimentar de boas recordações. É como se ele estivesse aqui entre nós porque é impossível esquecer alguém que fez do profundo amor para com todos, a sua razão maior de viver.
A nossa bela Quixadá vem crescendo a passos largos, não é mais aquela pequena cidade dos anos 60, 70 do século passado. Vem perdendo aquele lindo jeito de cidade do interior. Hoje, é uma cidade universitária e um grande número de universitários são “despejados” na Terra dos Monólitos, todos os anos. As novas tecnologias mudaram a forma como as pessoas se relacionam. Aquela convivência na praça, o papo nas calçadas, os encontros nos pontos comerciais, desaparecem com a explosão urbanística que estamos presenciando.
Não se conheceu outro espaço de tantas alegrias, tantos sorrisos, do que encontrado na famosa padaria de João Pires. Ali, apesar de um espaço comercial, se transformou no grande encontro dos amigos, a qualquer hora do dia. Os fregueses, já acostumados com aqueles encontros, nem se importavam. A cachacinha, um gostoso peixe preparado pelo Fernando Tomé, as estórias muito engraçadas contadas pelo Fransquinho Tavares, as presenças, sempre muito alegres, de Sinval Carlos, João eudes costa, Aziz Baquit, Everardo Silveira, Cícero Bertoldo, Amadeu Ferreira, Luquinha e de muitos outros, transformava aquilo tudo num pedacinho de céu.
Um de seus filhos, Marcos Pires, batizou aquele ponto comercial de “O Quartel General da Falsidade“. Na verdade, uma gostosa brincadeira, pois todos ali eram verdadeiramente grandes amigos. Situações realmente incríveis ali aconteciam, como por exemplo, o fato de alguns fregueses comprarem pão no velho fiado e ainda pedirem dinheiro emprestado. Só que, a quantia emprestada pelo João, servia para diminuir a conta já devida. Nessas horas, o bom homem recebia um corretivo da querida Dona Alzira, a sua grande companheira.
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Segundo o Senhor Ananias que trabalhou por 25 anos na padaria do bom homem, ele criava até um casal de leões, somente para alegrar as pessoas. Os funcionários preparavam o pão, com bastante medo, pois os animais ficavam separados apenas por uma parede. Ananias nos informou ainda, com lágrimas nos olhos, que, quando algum funcionário adoecia, João e Alzira preparavam um chá e dava remédios. Da biografia de João, consta que integrou a Força Expedicionária Brasileira no sangrento conflito da Segunda Guerra Mundial. Este heroísmo do filho, muito alegrou o seu pai José Ferreira Pires.
Felizes daqueles que tiveram a chance de conhecer e conviver com este homem que fez da vida, uma coisa tão descomplicada, tão boinha (como se diz no sertão). O “Pirão”, como era carinhosamente chamado pelos amigos, foi chamado por Deus no ano de 1993, deixando na sua passagem entre nós o exemplo de bondade, simplicidade e amor a todos, clientes e amigos. Enquanto existir pessoas alegres nesta vida; pessoas que façam valer a simplicidade, a lealdade, a solidariedade, tu viverás também, amigo Pirão!
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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