O querido cantador deixou uma canção intitulada “Acorda Maria”, que ainda hoje, é apresentada pelos seus seguidores.
A cantoria de viola foi durante algum tempo, a maior diversão das cidades do interior nordestino. A cantoria de viola improvisada atraía várias pessoas que se alegravam com aquelas estrofes ritmadas e metrificadas por autênticos gênios do repente. Quixadá foi uma cidade privilegiada ao conhecer destacados representantes da arte do improviso, como Cego Aderaldo, Alberto Porfírio, dentre muitos outros.
Merece também figurar no céu estrelado da poesia popular, o repentista Zé Mariano. Na Quixadá nas décadas de 50 a 70 do século passado, a performance oral do talentoso astro atraía muitos admiradores até o bar do Queiroz (hoje depósito da loja “O Chefe”) e também ao ponto comercial de Dona Francelina, exatamente naquele espaço do Posto Quinzinho. Também era possível vê-lo se apresentando no Mercado da cidade e várias localidades da zona rural.
Se apresentava alguma vezes, apenas tendo a viola como companheira, mas era no desafio, na chamada “peleja” que se sentia realizado. Gostava mesmo que o provocassem para o desafio. Bom destacar que, como possuidor de bom caráter, se considerava amigo de todos os colegas do repente. Chegou a cantar com Alberto Porfírio, Zé Limeira, Zé Grande, Adalberto Monteiro, Zé Sinval, Edmundo Rodrigues, Chico Miguel, Pedro Nicolau e outros.
Segundo o pesquisador da cultura popular e também poeta, Erasmo Barreira, a sua marca maior e que revelava todo seu talento e genialidade, foi cantar fazendo uso da sextilha dobrada. Ele sabia como poucos, se utilizar da fórmula exata deste recurso da poesia.
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José Mariano de Lima nasceu em 3/11/1909, no sítio São José, município de Assaré. Conterrâneo e contemporâneo de Patativa do Assaré, apresentou-se com o poeta em diversas oportunidades, aprendendo diversas lições deste astro, hoje conhecido e estudado em diversos países. Sempre afirmava que Cego Aderaldo era o “Deus dos poetas cantadores”. Zé Mariano percorreu muitas cidades do Nordeste, mas escolheu Quixadá para estabelecer morada, depois de ser abraçado pelas pedras que tão bem acolhem os que nos procuram.
Morou na chamada rua das Pedras(Benjamin Barroso) até ser chamado para outras missões em 3/3/1988, aos 79 anos. Foi pai amoroso de Plínio(falecido), Plício, Agamenon, Marlucia, Dulce, Gilberto, Chaguinhas, Mizael, Daniel. Aquela que podia ser considerada como um anjo da guarda foi Maria Nobre de Sousa que sempre esteve ao seu lado, nas horas alegres e de dificuldades, inerentes a todo ser humano. Ao completar 65 anos, perdeu a visão, passando a ser chamado pelos incontáveis admiradores de “Cego Mariano“. Neste momento de sua vida, os seus olhos passaram a ser seus filhos que o guiavam para os mais diversos locais. Tornou-se uma cena presente em Quixadá, Agamenon e outros filhos, o conduzindo com muito amor e presteza.
Zé Mariano tinha muitos admiradores e amigos, entre os quais, o médico Everardo Silveira, Gilberto Pereira, Eurípedes Pinheiro, Valter Ferreira, Amadeu do Velho Mercado e muitos outros. Foi um extraordinário poeta popular e, com certeza, sua memória deve ser lembrada e também divulgada, para que as novas gerações possam seguir os seus passos e assim, valorizar e não deixar desaparecer a bela poesia nordestina.
O querido cantador deixou uma canção intitulada “Acorda Maria” que ainda hoje, é apresentada pelos seus seguidores: “Acorda Maria, vem ver como o dia começa a raiar/ E os passarinhos vem deixando os ninhos e vem romper no ar/ Neste momento, todos elementos me obedecerão/ Vem mostrar-me o afeto de um amor completo em meu coração/ Acorda Maria! Meu anjo arcanjo tem pena de mim/ Seu amor me mata numa serenata que não tem mais fim/ Eu me vou partindo, já estou saindo e vou por ti chorando/ Tu, meu anjo lindo ficará dormindo, comigo sonhando./
Miguel Peixoto, grande admirador de Zé Mariano, estava preparando a biografia do poeta e iria publicar um livro, mas tal projeto foi interrompido, devido a sua morte.
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
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