No tempo dos alto-falantes: “a voz do Norte” era a alegria da Rua Tenente Cravo, e locutor tinha até fã-clube.
“Mamãe lá vem o locutor da voz do Norte, ele é lindo, queria me casar com ele!”, falava as meninas da época, as mães retrucavam, “deixem de ser assanhadas meninas, ele tem família”. Estes diálogos eram bastante comuns, em meados dos anos 60, quando funcionava à Rua Tenente Cravo, o serviço de alto-falantes: “A Voz do Norte”.
Mostrando a influência dos meios de comunicação da época e a incrível popularidade de seus locutores. O proprietário, com 20 anos, chegou a ter um fã-clube bem animado. Antônio Anastácio da Silva, a principal voz da radiadora. Por ter morado bom tempo no Pará, ficou conhecido como Paruara, conhecido também por ser profeta da chuva.
O jovem Paruara foi conquistando a amizade e confiança de todos, precisava trabalhar para ajudar em casa. O primeiro trabalho, foi como ajudante de caminhão do Senhor Josino, em seguida, vieram outros trabalhos, em postos de combustíveis, como o do senhor Severino Pires.
A grande paixão de Paruara sempre foi o rádio, ouvia até altas horas da madrugada, diversas emissoras como, “Dragão do Mar”, “Ceará Rádio Clube”, “Vale do Jaguaribe”, ficava quase enfeitiçado ouvindo aquelas vozes e tentava imitá-las. Era o momento da explosão do movimento “Jovem Guarda”, e ele adquiria aquelas revistinhas para aprender as letras das canções.
Chegou um momento em que decidiu montar a sua radiadora, “custe o que custar e irá se chamar a voz do norte”. Comprou parte do equipamento no velho fiado (lembra com uma boa gargalhada), contou com a valiosa colaboração dos queridos amigos Chiquinho do Rádio e Valmir. A documentação foi toda preparada pelo senhor Edwardes Mendes.
A “Voz do Norte” ganhou condições de operar, depois de meses de espera, e quando estava chegando o grande dia da inauguração, faltava ainda, a autorização do Exército. A autorização foi conseguida, sem problemas, apenas com a recomendação de vez por outra, executar algumas marchas militares. Os chefes do Exército, mandaram que a música “avantes camaradas” deveria ser tocada, proibindo músicas contra a ditadura militar.
O estúdio foi montado num ponto comercial do senhor Chico Padeiro. Paruara, com a ajuda de um amigo, levou quase o dia todo subindo e descendo numa escada, mas depois de tanta espera, a “Voz do Norte” começou a sua programação, nos períodos da manhã e da noite.
O grande sonho daquele jovem intrépido, foi realizado e em pouco tempo, a radiadora começou a fazer parte da vida das pessoas da Rua Tenente Cravo. Naquele tempo, Quixadá apresentava uma configuração urbana muito diferente de hoje, era o tempo da “Jovem Guarda”, e as vozes de Roberto, Jerry, Wanderley, Erasmo e Martinha, invadiam a rua de tanta felicidade. Só não podia tocar, “Quero que vá tudo pro Inferno”, atendendo o pedido das senhoras que rezavam o terço.
Constava da programação, também, programas noticiosos e esportivos, além de campanhas beneficentes. A “Voz do Norte”, serviu de escola para futuros profissionais do microfone como, Jonas Sousa (destacado radialista), Amadeu Filho, João Camurça (consagrado nome da crônica esportiva), Raimundo Sousa (único radialista quixadaense que entrevistou Pelé, no auge da carreira) e muitos outros.
A “Voz do Norte” foi uma bela forma de entretenimento de nossa gente, naquele momento era a voz das pessoas, inclusive, na solicitação de melhorias para a comunidade. Foi um som, ainda hoje, presente nos ouvidos de Anastácio e de muitos moradores da Rua Tenente Cravo.
Um som inesquecível que embalou os sonhos de muita gente. Muita gente namorou, até casou, ouvindo José Roberto cantando “não presto, mas te amo”, na programação da “Voz do Norte”.
Acessando o blog Amadeu Filho você terá a oportunidade de conhecer mais histórias de Quixadá.
Amadeu Filho
Colunista da RC
Radialista Profissional
Acesse também o blog Amadeu Filho