Julgo não ser um momento oportuno de caça às bruxas, mas de reflexões profundas acerca dessa realidade.
Realmente, Quixadá passa por uma fase difícil na Segurança Pública, isso é evidente. Mas há que se ressaltar que o termômetro da segurança se mede a partir do grau de sintonia entre o Sistema de Segurança Publica e o de Justiça Criminal, os quais caminham lado a lado no tocante à repressão e prevenção ao crime.
Note-se que, do final do ano passado até o presente, houve uma dispersão generalizada de promotores e juízes das Comarcas de Quixadá, os quais não foram, até o momento, devidamente substituídos. Coincidência ou não, paralelamente a estes acontecimentos, os índices de violência estouraram em nosso município, culminando com registros de homicídios e roubos como há muito não se via.
Concomitantemente a isto, nunca se fizeram tantos procedimentos policiais na Delegacia Regional de Quixadá, com prisões de homicidas, traficantes e assaltantes contumazes. Isto, no entanto não tem surtido o efeito esperado. Por quê?
Como Bacharel na Ciência Segurança Pública, responderia de antemão que dentre as razões principais, figura em primeiro plano, como sempre, a IMPUNIDADE. A Justiça é lenta para condenar, porem ágil para soltar. É o que justifica a existência de milhões de processos criminais que se arrastam nas comarcas de todo o país aguardando julgamento, enquanto a população se vê refém da violência.
O Sistema de Justiça Criminal leva anos para julgar e, quando julga, muitas vezes opta por penas brandas ou alternativas e em sistemas penitenciários que ao invés de recuperar, especializam cada vez mais os infratores da Lei na arte do crime, fazendo-os retornar para o seio da sociedade com uma probabilidade superior a 80% de reincidência criminal, segundo dados estatísticos provenientes do Ministério da Justiça.
Em outras palavras, vislumbramos aí o efeito “bola de neve”, onde percebe-se que os bandidos de hoje continuarão sendo os bandidos de amanhã, somados àqueles que surgirão com o passar do tempo, colaborando, portanto, para o crescimento desordenado da população marginal de nosso país, na contramão das leis penais que a cada dia se abrandam mais, o que sugere que a violência e suas consequências despontam como um fenômeno de tendência crescente em nossa comunidade, face a inércia ou mesmo negligência do Poder Público Federal frente os quesitos outrora mencionados.
Julgo não ser um momento oportuno de caça às bruxas, mas de reflexões profundas acerca dessa realidade, que na maioria das vezes escapa ao conhecimento da população de bem, que figura como maioria absoluta em nossa sociedade.
Reivindicar melhorias é um direito constitucional assegurado a todos, mas também importa que saibamos onde e a quem fazê-la. O Programa Ronda do Quarteirão de Quixadá, enfim, jamais se furtou ou se furtará do compromisso assumido junto à população quixadaense de fazer aquilo que tiver de melhor ao seu alcance para a promoção da cultura de paz no seio de nossa comunidade, embora também estejamos cientes de que, sozinhos, tudo o que fizermos jamais será o bastante.
Adriano Cavalcante – Cap QOPM
Cmte. do XVIII Núcleo de Policiamento Comunitário
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